O Pedigree de Champions: análise à 1.ª jornada da Liga dos Campeões

    Finalmente soaram os acordes da música que todos sonham ouvir. A Champions League regressou para delírio de todos os adeptos, jogadores e treinadores que celebram o futebol no mais alto palco.

    Falta muito para o derradeiro jogo de Londres, mas à primeira jornada já é possível analisar características, comportamentos, jogadores e equipas que se destacaram dentro das quatro linhas.

    Foi no Grupo A que se deu o maior confronto de titãs da primeira jornada. O FC Bayern Munique recebeu um Manchester United FC em crise, que se procura reerguer depois de um início de temporada desastroso. Os red devils conseguiram impor-se e foram mesmo superiores aos bávaros durante a etapa inicial da partida, conseguindo superar a pressão. Andre Onana, guarda-redes de modelo de jogo, estava a ser destaque pela positiva, mas acabou por falhar e oferecer um golo de bandeja ao Bayern Munique. Harry Kane de grande penalidade voltou a fazer o gosto ao pé contra os ingleses, Rasmus Hojlund estreou-se a marcar na Champions e a previsibilidade arrastou-se ao resultado, com o Bayern Munique (ainda não entusiasma) a vencer o Manchester United. 4-3 foi o resultado final, acentuando a crise do Manchester United que perde há três jogos consecutivos sempre a sofrer três golos ao mais. Pormenor: Jamal Musiala brilhou e está a seguir os passos de Thomas Muller que chegou às 100 vitórias na Champions.

    A turma de Erik tem Hag beneficiou ainda assim do resultado do outro grupo e pode assumir um lugar de classificação já na próxima jornada. É impensável imaginar neste momento um cenário em que Galatasaray SK ou FC Copenhaga se apurem. O jogo na Turquia confirmou estes receios. O que o Galatasaray tem de matéria bruta falta aos dinamarqueses para serem mais competitivos. Com Elias Achouri e Diogo Gonçalves (marcou) no onze, o Copenhaga foi à Turquia surpreender. Vencia por 2-0 aos 80 minutos, mas o caldeirão de Istambul levou os dinamarqueses a entrar em ebulição. Jelert foi expulso já à entrada do quarto de hora final e o Galatasaray ainda foi a tempo de empatar a partida. Soube a pouco a exibição turca, especialmente tendo em conta a quantidade absurda de talento em campo e no banco, principalmente do meio-campo para a frente.

    O Grupo B tem toda a cara de ser o aquecimento do Arsenal FC até à próxima fase. De regresso à competição, os londrinos cilindraram o PSV Eidhoven e já lideram de forma isolada e convincente o grupo. Martin Odegaard merece todos os elogios. Descobre linhas de passe, arranja recursos para ultrapassar adversários e chega perto da área para finalizar. É a principal arma e ferramenta de ofensiva a par de Saka. Levou oito minutos para se estrear a marcar na estreia na competição.

    Longe dos principais holofotes, outra estreia na Champions. O RC Lens fez a primeira partida de sempre na Liga dos Campeões na casa do Sevilla FC, o rei da Liga Europa. Continuam sem vencer na temporada os franceses que, depois do brilharete em 2022/23 ainda sentem demasiado ausências como Fofana e Openda. Dividiram o jogo e o protagonismo com outro clube em crise. O Sevilla chegava moralizado depois da primeira vitória na temporada, mas não conseguiu engatar a segunda.

    O SC Braga entrou em campo no Grupo C, grupo que esteve quase a protagonizar duas surpresas. Ficaram os dois jogos pelo quase. Na receção ao SSC Napoli, os arsenalistas conseguiram resistir durante grande parte do jogo e chegaram aos 80 minutos a perder por um. Bruma (quem mais?) empatou a partida e tornou o autogolo de Niakaté ainda mais frustrante. Ambas as equipas deixaram no ar questões defensivas. Se o Napoli está longe do nível da temporada passada, o Sporting de Braga não garante solidez atrás. Salvou Matheus, mas José Fonte e Niakaté foram engolidos por Victor Osimhen e o central francês falhou técnica e taticamente no lance do golo. A combatividade ficou presa no quase.

    Quem quase surpreendeu o Real Madrid CF em casa foi o 1. FC Union Berlin. Soube defender-se atrás com Leonardo Bonucci imperial na defesa da área e com um português em destaque: Diogo Leite, sempre atento às coberturas e capaz de controlar Rodrygo. Esteve muito, muito perto de resgatar um ponto em Madrid. Não contou com provérbio, chavão ou outro nome dado para coincidências extremamente improváveis e, mesmo assim, com alto grau de previsibilidade: 90 minutos no Bernabéu são muito longos. Apareceu Jude Bellingham, o principal inimigo da ampulheta, que se vai afirmando como o novo príncipe de Madrid. Foi a primeira vez do Union na Champions e foi apresentado à maior tradição da prova. Difícil imaginar maior diferença em experiência na competição.

    Não só o SC Braga se pode queixar do pé esquerdo com que entrou na Champions. No altamente competitivo e traiçoeiro Grupo D, o SL Benfica pisou a ratoeira. Roger Schmidt fez parte da engrenagem vertical e intensa do FC Red Bull Salzburg, mas falhou na abordagem. O Benfica demorou a lidar com a verticalidade e agressividade na procura do último terço dos austríacos e falhou demasiadas vezes. Falhou à frente, onde encontrou Alexander Schlager e falhou atrás. António Silva foi expulso, Anatoliy Trubin não se impôs, Alexander Bah está muitos furos abaixo e faltam alternativas que libertem Aursnes da lateral esquerda. Está a desiludir o processo defensivo do Benfica nesta temporada. Com 21 anos e 183 dias de média no onze inicial, a identidade do Red Bull Salzburg só surpreende mesmo os mais desatentos.

    Quem desiludiu também durante oitenta minutos foi o Inter de Milão, carrasco dos encarnados na última temporada e com quem tem reencontro marcado. Deu mais de 80 minutos de borla à Real Sociedad de Fútbol que se agigantou no San Sebastian. Foi fatal o desacerto com a baliza e a exibição irrepreensível de Yann Sommer. A exibição de luxo do conjunto espanhol como um todo e de nomes como Zubimendi, Brasi Méndez e Oyarzabal do ponto de vista individual foi traída nos últimos cartuxos. Lautaro Martínez – um dos principais destaques do futebol desde o fim do Mundial – deu ao Inter de Mião um resultado muito mais positivo que a exibição.

    O Grupo E teve o momento da jornada: Ivan Provedel subiu à área contrária e, nos descontos, deu o empate à SS Lazio. Mais surpreendente que ter sido o guarda-redes a marcar, é o facto de o fazer pela segunda vez nos últimos anos. Brilharam os criativos no Olimpico de Roma com Luís Alberto a assinar um tratado de exibição e com o jovem Pablo Barrios e com o eterno injustiçado na lista de melhores do mundo Antoine Griezmann a darem brilho ao Club Atlético de Madrid.

    Muito menos mediático, o Feyenoord Rotterdam deu mostras de garantia. Arne Slot levou o clube a outro patamar e pode ser uma das surpresas da Champions. Manteve Geertruida, Wieffer e Timber, por exemplo, e chegou Calvin Stengs, nome que ainda vai dar a tempo de dar o salto e que se mostrou na Champions. Conseguiu impedir o Celtic FC de ser competitivo no segundo jogo de Paulo Bernardo pelos escoceses.

    Apelidado carinhosamente de grupo da morte, o Grupo F reúne algumas das principais potências do mundo. No regresso de Sandro Tonali (muito apagado pela marcação de Loftus-Cheek) a San Siro, o AC Milan foi largamente superior ao Newcastle United FC. Os ingleses bem podem agradecer a Nick Pope o ponto na bagagem que levam para Inglaterra. Os rossoneri procuraram acelerar pelos corredores, mas faltou uma definição melhor no último terço a nomes como Rafael Leão. Reijnders saiu do banco para se mostrar.

    No outro jogo do grupo, nova prova de inferioridade do BVB Dortmund. O clube nunca deu o salto previsto e é neste momento o candidato a último lugar do grupo. Individualmente e coletivamente está muitos furos abaixo do ano passado. Além de Manuel Ugarte, quem se afirmou no Paris Saint-Germain foi Vitinha. Joga como interior esquerdo com forte tendência para lateralizar, permitindo a Mbappé liberdade de movimentos e a Lucas Hernández manter-se baixo no terreno. Valeu o bilhete a exibição do português.

    O Manchester City FC ainda assustou, mas rapidamente conseguiu retirar a pedra no sapato. O Grupo G não oferece grande competitividade aos cityzens que até foram para o intervalo a perder frente ao FK Estrela Vermelha. Um remate à baliza basta para vencer o jogo, mas a diferença entre as duas equipas é monstruosa. Vai-se afirmando Julián Álvarez como substituto de Kevin de Bruyne, partindo de terrenos mais recuados para criar e mantendo-se como ameaça na área. Rodri é o melhor médio na Europa, neste momento e Matheus Nunes fez uma grande exibição num raio de ação enorme.

    O BSC Young Boys teve o grito de revolta nas bancadas. Os cânticos e banners sobre ser o único verdadeiro clube no grupo dão que pensar ao ver os helvéticos diante de um clube-empresa (Red Bull), um clube-estado (Arábia Saudita) e um clube com ligação intrínseca e financiada por fundos russos (a Gazprom está estampada nas camisolas do Estrela Vermelha). Dentro de campo foi inferior ao RB Leipzig que tem em Xavi Simons e em Benjamin Sesko dois dos futuros melhores jogadores do mundo.

    O FC Porto fez na Champions a melhor exibição da temporada. O FK Shakthar Donetsk, rival dos dragões no Grupo H, não foi capaz de travar a superioridade dos dragões no meio-campo adversário. Wanderson Galeno nas costas de Konoplia é o destaque natural, mas Mehdi Taremi está a recuperar a forma, André Franco a cumprir como um Otávio 2.0 (características diferentes, as mesmas zonas pisadas) e Alan Varela e Iván Jaime a afirmarem-se. David Carmo vai superando as dores de crescimento que ainda se notam no início dos jogos e João Mário vai brilhando enquanto as lesões o permitirem.

    Impetuosa foi a exibição do FC Barcelona. Os culés estão arrasadores e não dá para evitar falar em João Félix. Forçou a saída para o clube e os primeiros tempos estão a ser de sonho para o português. Parte do corredor esquerdo para dentro e tem na camisola blaugrana o melhor acessório para as pinceladas de talento que espalha. Marcou dois, realizou uma assistência e está, finalmente, a cumprir o fado que lhe é destinado. Foi arrasado o Royal Antuérpia FC na primeira vez que se apresentou diante da Liga dos Campões.

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