Revista do Mundial’2014 – Rússia

    cab russia mundial'2014

    Desde que a seleção russa deixou de poder contar com jogadores associados às outras Repúblicas Socialistas Soviéticas (isto é, desde que a URSS se desmembrou) que as participações em fases finais de Campeonatos do Mundo ficaram àquem do esperado por um país habituado a ver a sua seleção nas decisões das grandes competições (no palmarés, até à data do desmembramento, tinha três quartos-de-final no Mundial e quatro finais europeias – uma das quais ganha). Desde 1990, disputaram-se cinco fases finais de Campeonatos do Mundo e a Rússia só esteve presente nas de 1994 e 2002, terminando ambas as participações na fase de grupos.

    Os seleccionados por Fabio Capello terão sobre os ombros, portanto, a responsabilidade de saciar a fome de todo um povo que procura ver o seu país representado de forma digna e em coerência com um passado glorioso, ainda para mais tendo em conta que este Mundial é o último antes daquele que a própria Rússia irá organizar.

    Pegando nisto, é fácil adivinhar a importância que os russos darão ao sucesso no Brasil. Inseridos num grupo onde se inclui a Bélgica, a Coreia do Sul e a Argélia, e após uma fase de qualificação onde deixaram para trás uma seleção como a portuguesa, registando um pecúlio impressionantemente regular, parece bastante provável que isso aconteça, ou que pelo menos se superem os feitos alcançados desde 1990 (eliminação nas fases de grupos) em fases finais de Mundiais.

    Fabio Capello costuma partir do 4x1x4x1 sem posse em jogos mais competitivos, apostando no reforço da zona central do terreno, ocupada por norma por cinco homens (centrais, médio defensivo e médios-centro) que têm perfeita noção das zonas que devem ou não ocupar, tal como os laterais, que não sobem com muita regularidade e que contam com o apoio dos médio-alas no processo defensivo. A atacar, o conjunto russo assume o 4x3x3, com dois alas declarados e um avançado móvel (Kokorin) que oferece uma dinâmica única ao processo ofensivo russo, por norma apoiado pelo médio mais criativo (Shirokov), que é quase sempre o pensador do jogo da Sbornaya.

    Esta dinâmica foi suficiente para que a Rússia se exibisse com algo que ainda não tinha sido visto ao longo destes anos: regularidade. O dedo de Capello é notório nesse sentido e se o treinador italiano conseguir fazer com que os seus jogadores apresentem uma disciplina mental semelhante àquela que apresentam taticamente, então esta Rússia poderá tornar-se num caso sério.

    OS CONVOCADOS (Pré-Convocatória de 25 elementos – a ser reduzida em breve)

    Guarda-redes – Igor Akinfeev (CSKA Moscovo), Yury Lodygin (Zenit) e Sergei Ryzhikov (Rubin Kazan).

    Defesas – Vasily Berezutsky (CSKA Moscovo), Sergei Ignashevich (CSKA Moscovo), Georgy Shchennikov (CSKA Moscovo), Vladimir Granat (Dínamo Moscovo), Alexei Kozlov (Dínamo Moscovo), Andrei Yeshchenko (Anzhi), Dmitry Kombarov (Spartak Moscovo) e Andrei Semenov (Terek Grozny).

    Médios – Igor Denisov (Dínamo Moscovo), Yury Zhirkov (Dínamo Moscovo), Alan Dzagoev (CSKA Moscovo), Roman Shirokov (Krasnodar), Denis Glushakov (Spartak Moscovo), Pavel Mogilevets (Rubin Kazan), Viktor Faizulin (Zenit) e Oleg Shatov (Zenit).

    Avançados – Alexander Kerzhakov (Zenit), Alexei Ionov (Dínamo Moscovo), Alexander Kokorin (Dínamo Moscovo), Maxim Kanunnikov (Amkar Perm), Denis Cheryshev (Sevilha/Esp) e Alexander Samedov (Lokomotiv Moscovo)

    A ESTRELA

    Roman Shirokov Fonte: img.rt.com/
    Roman Shirokov
    Fonte: img.rt.com/

    Há muito em Shirokov que pode enganar quem o vê fora de campo, principalmente se quem o vir atentar na idade e na altura do craque russo – 32 anos e 1,87m – e tecer julgamentos a partir daí, como o peso da idade na resistência de um jogador ou o estilo desengonçado/trapalhão que os jogadores altos costumam ter.

    Shirokov supera todos os paradigmas ligados às suas “limitações” fisicas e fisiológicas e escapa à frieza dos números a ele associados, tendo conseguido fazer deles aliados. A alta estatura permite-lhe emprestar superioridade à sua equipa no jogo àereo e a idade traz experiência e inteligência na leitura de um jogo, algo que o número 15 soube aproveitar da melhor maneira, apresentando uma evolução vistosa em todo o seu jogo desde os seus tempos de jogador inconsequente e incapaz de direccionar a sua capacidade técnica para o jogo coletivo…

    … algo que faz agora, e de que maneira! Afinal transformou-se no pensador de jogo de toda uma seleção (fazendo uso de uma qualidade de passe absolutamente extraordinária), de todo um país, e já é considerado imprescindível por Fabio Capello, tendo estado presente em toda a campanha de qualificação rumo ao Mundial 2014, marcando 3 golos que atestam o seu faro pelo golo (esta época marcou 8 golos em 16 jogos no campeonato russo).

    O TREINADOR

    Fabio Capello Fonte: AFP/Getty Images
    Fabio Capello
    Fonte: AFP/Getty Images

    Fabio Capello é um autêntico dinossauro do futebol. Enquanto jogador, passou pela nata do futebol italiano, contabilizando 32 presenças na seleção italiana e várias dezenas de jogos em clubes transalpinos de elite como Milan, Roma e Juventus.

    Em 1991 abraçou a carreira de treinador. Assumiu o comando técnico dos clubes italianos que representou enquanto jogador e do Real Madrid, vencendo quatro Series A ao serviço do Milan, uma com as cores da Roma (a única em 30 em anos e apenas a terceira em toda a história dos giallorossi) e ainda duas Ligas de Espanha ao serviço do Real Madrid. Em 2008 aventurou-se no papel de seleccionador, orientando a Inglaterra após o Euro 2008, qualificando a formação da Old Albion para duas fases finais, sendo eliminado no primeiro jogo após a fase de grupos em ambos os casos. Porém, ficou na história como o treinador da seleção ingelsa com maior percentagem de vitórias (66.7%) de sempre.

    Depois do Euro 2012, foi tentado por uma proposta milionária da Federação Russa e já deu uma amostra da sua competência: qualificou a seleção para um Mundial, algo que não acontecia desde 2002, e à frente de uma seleção que era considerada favorita a vencer o grupo (Portugal), apresentando números vistosos – 7 vitórias em 10 jogos, e apenas 5 golos sofridos durante este período.

    O ESQUEMA TÁTICO

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     O PONTO FORTE

    As estatísticas ilustram bem o que é esta equipa a defender: em 10 jogos disputados na luta pelo apuramento para o Mundial 2014, a formação orientada por Fabio Capello apenas sofreu golos em 5 jogos e as redes russas nunca foram violadas por mais do que uma vez durante os encontros que disputou na fase de acesso. Isto deve-se à forma como a Rússia fecha espaços na zona central (não sofreu qualquer golo fora da àrea), obrigando o adversário a explorar zonas laterais, onde também é forte quando consegue criar superioridade numérica com a descida dos médios-ala.

    Ankifeev e a dupla de velhas raposas (Berezutski-Ignanshevich) na zona central ajuda a explicar a eficiência da “muralha” russa.

    O PONTO FRACO

    Apesar de apresentar uma extraordinária performance defensiva, seja em termos estatísticos ou em jogo corrido, a formação russa parece não se dar bem quando o adversário explora o jogo aéreo, conforme ficou evidenciado nas duas derrotas averbadas pela equipa (ambas por 1-0, com os dois golos a serem consentidos do mesmo modo). 

    Apesar de a dupla de centrais não ser propriamente baixa (1,89m para Berezutsky e 1,86m para Ignashevich), e de esta característica se estender ao resto do plantel, parece verificar-se algum desnorte quando o jogo aéreo dos russos é testado.

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