Revista do Mundial’2014 – Bélgica

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    A selecção da Bélgica disputou o seu primeiro jogo a 1 de Maio de 1904, tendo empatado 3-3 com a sua congénere francesa. Em 1906 foi apelidada de Red Devils (“diabos vermelhos”) pelo jornalista Pierre Walckiers, depois de uma vitória por 3-2 sobre a Holanda, em Roterdão. O ouro olímpico obtido em 1920 é um marco do seu percurso. No entanto, esta não é uma selecção de top internacional – volta à fase final de uma grande competição 12 anos depois (teve a última participação em 2002). A selecção belga esteve presente em 11 Campeonatos do Mundo, sendo que entre 1982 e 2002 participou em 6 edições consecutivas, tendo alcançado a sua melhor classificação (4º lugar) no Mundial de 1986, no México. Em termos de Campeonatos da Europa, já obteve um 2º lugar (1980, em Itália) e um 3º lugar (1972, na Bélgica). A década de 80 constituiu uma fase de grande prestígio internacional – uma geração de jogadores onde pontificavam, por exemplo, Eric Gerets, Jean Marie Pfaff ou Frank Vercauteren esteve em destaque. Actualmente, encontra-se posicionada em 12º lugar no ranking FIFA, mas o apuramento para esta fase final alcançado de forma categórica concedeu-lhe o estatuto de cabeça-de-série para o sorteio. Integra o grupo H, juntamente com a Argélia, a Rússia e a Coreia do Sul.

    O seleccionador da Bélgica, Marc Wilmots, divulgou a 13 de maio de 2014 a lista de 24 jogadores pré-convocados para o Campeonato do Mundo de 2014. Até 2 de junho, terá que ser enviada a lista final de 23. Não há grandes surpresas nesta lista final, já que se contém os jogadores que foram habitualmente utilizados durante o apuramento. Salienta-se a inclusão de 4 guarda-redes, por prevenção, uma vez que Casteels e Proto se encontram em fases adiantadas de recuperação de lesões graves. Também se destaca o interesse do seleccionador em renovar a equipa, ao colocar dois jovens avançados de 19 anos, Divock Origi, do Lille, e Adnan Januzaj, do Manchester United. O primeiro para substituir, por lesão, o excelente avançado do Aston Villa, Christian Banteke, titular indiscutível desta selecção. Já o segundo, Januzaj, foi mesmo o caso mais mediático, uma vez que optou por representar a Bélgica, país onde nasceu, mesmo sendo filho de pais albaneses e kosovares e tendo sido também sondado para representar a Inglaterra (embora, neste caso, tivesse de esperar até 2017 para cumprir as regras da federação que obrigam a um período de residência de cinco anos em Terras de Sua Majestade).

    OS CONVOCADOS (Pré-Convocatória de 24 elementos – a ser reduzida em breve)

    Guarda-redes: Thibaut Courtois (Atlético Madrid/Esp), Simon Mignolet (Liverpool/Ing), Silvio Proto (Anderlecht) e Koen Casteels (Hoffenheim/Ale).

    Defesas: Vincent Kompany (Manchester City/Ing), Thomas Vermaelen (Arsenal/Ing), Jan Vertonghen (Tottenham/Ing), Toby Alderweireld (Atlético Madrid/Esp), Daniel van Buyten (Bayern Munique/Ale), Nicolas Lombaerts (Zenit São Petersburgo/Rus), Anthony Vanden Borre (Anderlecht) e Laurent Ciman (Standard Liege).

    Médios: Marouane Fellaini (Manchester United/Ing), Axel Witsel (Zenit São Petersburgo/Rus), Steven Defour (FC Porto/Por), Moussa Dembelé (Tottenham/Ing), Kevin de Bruyne (Wolfsburgo/Ale) e Nacer Chadli (Tottenham/Ing).

    Avançados: Romelu Lukaku (Everton/Ing), Eden Hazard (Chelsea/Ing), Dries Mertens (Nápoles/Ita), Adnan Januzaj (Manchester United/Ing), Kevin Mirallas (Everton/Ing) e Divock Origi (Lille/Fra). 

    A ESTRELA

    Eden Hazard Fonte: Daily Record
    Eden Hazard
    Fonte: Daily Record

    Podem identificar-se várias figuras na equipa – desde a classe do central e capitão de equipa Kompany (um dos esteios do campeão em Inglaterra, Manchester City, e um dos melhores centrais do mundo), passando pela capacidade física e de pressing dos médios Witsel, Dembélé e Fellaini (autênticos motores desta seleção), até à irreverência, imprevisibilidade e qualidade dos jovens avançados Lukaku, Januzaj ou Hazard. Centro a minha atenção neste último, especialmente depois dos comentários do técnico do Chelsea, José Mourinho (“um dos jogadores mais bem pagos do plantel deve render mais e ser mais consistente”). Este poderá ter sido o rastilho para Hazard querer dar uma resposta à altura no Campeonato do Mundo do Brasil. É um extremo jovem, inteligente, com larga margem de progressão, rápido, explosivo, muito evoluído tecnicamente, forte no um contra um, garantindo a posse de bola ou criando desequilíbrios através de combinações ou de passes de ruptura em acções individuais. Consegue aliar o talento à objectividade no último terço do campo, finalizando com qualidade e distinguindo-se como melhor marcador do Chelsea na época que agora terminou. Tem vindo, também, a melhorar a sua participação na organização defensiva da equipa, colocando as suas capacidades individuais ao serviço do colectivo, conferindo-lhe a dimensão de estrela nesta selecção. Foi distinguido pela Associação de Jogadores Profissionais de Inglaterra como o jogador jovem do ano. 

    O TREINADOR

    Marc Wilmots Fonte: Fox Sports
    Marc Wilmots
    Fonte: Fox Sports

    Marc Wilmots: tem 45 anos de idade e fez carreira como jogador de futebol, avançado, especialmente na Alemanha, onde representou durante vários anos o Schalke 04, clube onde terminou a sua carreira e onde se sagrou campeão, tendo também vencido a Liga Europa. Como internacional representou a sua selecção por 70 vezes, tendo participado em 4 Campeonatos do Mundo de Futebol – o último em 2002 (organizado por Coreia e Japão) -, tendo capitaneado a sua selecção com 33 anos de idade na última participação da Bélgica em Campeonatos do Mundo de Futebol. É, portanto, uma figura emblemática do futebol belga da década de 1990. Começou a sua carreira de treinador no Schalke 04, tendo assumido o cargo de selecionador nacional em 2012, depois de 3 anos como treinador adjunto e pode dizer-se que é um dos responsáveis pela renovação do futebol belga.

    A seleção belga organiza o seu modelo de jogo num 4-2-3-1 assente numa defesa de 4 jogadores experientes e seguros e um meio-campo de combate, com dois médios com características mais defensivas e três médios ofensivos com muita qualidade, a que se junta um avançado jovem e possante, conferindo velocidade e irreverência ao seu ataque. A capacidade técnico-táctica dos seus jogadores, especialmente do meio-campo para a frente, também lhe permite abordar o jogo num 4-4-2, colocando Witsel e Fellaini como médios mais recuados e dando a Hazard e De Bruyne ou Mirallas a responsabilidade de fechar os corredores laterais do meio-campo, com dois pontas-de-lança bastante móveis como são Lukaku e Mertens.

    O ESQUEMA TÁTICO

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    O PONTO FORTE

    A experiência de grande parte dos seus jogadores nas melhores ligas de futebol (especialmente na Premier League e na Bundesliga), é a grande mais-valia desta selecção, que conjuga a maturidade, especialmente no sector mais recuado, com a capacidade física e qualidade técnica dos seus jovens jogadores do meio-campo para a frente. É uma equipa segura a defender e com grande capacidade de pressão no meio-campo adversário. Apresenta semelhanças com o estilo de jogo da selecção holandesa, com um futebol envolvente, assente na posse de bola e no domínio do jogo, dando protagonismo aos seus excelentes médios e avançados.

     O PONTO FRACO

    A irreverência e a juventude poderão ser, no entanto, um ponto fraco da equipa no processo ofensivo. Não apresentam nenhum avançado experiente e consagrado. Por outro lado, a ausência de laterais ofensivos pode condicionar o desenvolvimento do seu futebol, especialmente nos jogos com equipas à partida menos fortes (equipas fechadas, com marcação muito apertada sobre os avançados), o que acontece logo na fase de grupos.

    Uma excelente campanha de apuramento (8V, 2E, 0D, com 18 golos marcados e apenas 4 sofridos; 26 pontos em 30 possíveis e com 9 pontos de vantagem sobre o segundo classificado) justifica que esta seja uma selecção a ter em conta – esta geração já é considerada a melhor de sempre do futebol belga. É constituída por jovens futebolistas com grande qualidade, a jogar nos melhores clubes europeus, aos quais se juntam alguns jogadores com grande experiência (entre eles, Daniel Van Buyten, Vincent Kompany, Thomas Vermaelen ou Jan Vertonghen) que transmitem segurança desde a retaguarda e dá liberdade aos mais novos para espalharem o perfume do seu futebol ofensivo.

    Tendo na fase de grupos um conjunto de equipas que parecem acessíveis (Rússia, Argélia e Coreia do Sul), tem boas perspectivas de apuramento para os oitavos-de-final, em princípio ocupando com a Rússia uma das duas vagas. O previsível apuramento para os oitavos de final faz desta selecção, como de todas as outras que chegarem a esta fase a eliminar, uma das potenciais candidatas ao pódio. O percurso dependerá muito da qualidade dos adversários que forem encontrando – recordo que se a Bélgica passar a fase de grupos vai encontrar uma selecção proveniente do grupo de Portugal -, mas também da gestão emocional e física dos jogadores na sucessão de jogos que terão pela frente. Parece certo que a maturidade desta selecção surgirá no próximo Campeonato da Europa (2016) ou no próximo Campeonato do Mundo (2018); no entanto, uma boa prestação já nesta edição não surpreenderá ninguém.

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    Maria Serrano
    Maria Serranohttp://www.bolanarede.pt
    A Maria é uma rapariga que nasceu numa família em que o sexo masculino está em grande maioria, por isso desde cedo começou a ver futebol profissional, a jogar Football Manager, a ler jornais desportivos e a assistir a jogos de futebol formação. Os hábitos e a paixão perduram até hoje.                                                                                                                                                 A Maria não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.