Revista do Mundial’2014 – Japão

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    Certo dia, Ricardo Garrido, colunista do Brasil Post, escreveu que “a vida é um longo intervalo de quatro anos entre as Copas do Mundo”. Se assim for, o Japão apenas nasceu em 1998 mas, a partir daí, tem somado interessantes episódios… Quando a selecção japonesa desembarcar no Brasil, estará prestes a carimbar a quinta presença num Campeonato do Mundo. E de forma consecutiva, o que, além de assinalável, atesta a evolução do desporto-rei por bandas orientais – em 1998 e 2006, os “samurais” quedaram-se pela fase de grupos, tendo, em 2002 e em 2010, chegado aos oitavos-de-final.

    Depois disso, e fora do contexto Mundial, mas já com Alberto Zaccheroni ao leme, venceram a Taça Asiática, em 2011, e o East Asian Football Championship, em 2013, prova em que foram apenas utilizados jogadores a competir no campeonato japonês. A fase de qualificação para o Brasil’2014 foi tranquila: entrando apenas em competição na terceira fase da zona asiática, o Japão qualificou-se em 2º lugar, perfazendo 10 pontos em 6 jogos (só atrás do Uzbequistão), e já ulteriormente, na quarta fase, em 8 partidas, amealhou 17 pontos (ficando à frente da Austrália), tendo, ainda, o mérito de ter sido a primeira nação a garantir a presença em terras de Vera Cruz.

    É indesmentível – no que ao futebol diz respeito – que a realidade nipónica tem evoluído de forma considerável. A isso não pode ser alheio o facto de ter tido a possibilidade de acolher a ‘Copa do Mundo’, em 2002, em parceria com a Coreia do Sul. A organização desse certame catapultou a modalidade enquanto espectáculo, gerou a angariação de novos públicos e, por consequência, transformou meros curiosos em verdadeiros fãs da modalidade. Mais do que isso, atentando apenas para o interior das quatro linhas, não deixa de ser assinalável que um país cuja liga profissional (J-League) apenas fora criada em 1993 e de cujo lote de convocados em 2002 apenas constavam quatro elementos que competiam externamente, tenha conseguido crescer ao ponto de, hoje, ter inúmeros craques a competir nos melhores campeonatos do mundo e granjeie um respeito que fora conquistado a pulso – mesmo que o 47º lugar no ranking FIFA não se coadune com a real valia deste conjunto.

    De facto, quem tiver assistido à última Taça das Confederações, em 2013, no Brasil, não poderá ter deixado de se sentir atraído pelo futebol positivo e rendilhado que a selecção nipónica apresentou. É certo que, para a história, ficarão, indesmentivelmente, os números – três derrotas frente a Brasil (3-0), Itália (4-3) e México (2-1); porém, para os fãs e amantes do jogo, sobra a certeza de uma equipa com excelentes executantes (designadamente ao nível do meio-campo) e que, com bola, se sente imensamente confortável. Tratando-a sempre bem, diga-se.

    OS CONVOCADOS

    Guarda-redes – Eiji Kawashima (Standard de Liège), Shusaku Nishikawa (Urawa Reds) e Shuichi Gonda (FC Tóquio).

    Defesas – Yasuyuki Konno (Gamba Osaka), Masahiko Inoha (Jubilo Iwata), Maya Yoshida (Southampton), Yuto Nagatomo (Inter), Masato Morishige (FC Tokyo), Atsuto Uchida (Schalke 04), Gotoku Sakai (Estugarda) e Hiroki Sakai (Hannover 96).

    Médios – Yasuhito Endo (Gamba Osaka), Makoto Hasebe (Nuremberg), Toshihiro Aoyama (Sanfrecce Hiroshima), Hotaru Yamaguchi (Cerezo Osaka), Keisuke Honda (Milan), Shinji Kagawa (Manchester United) e Hiroshi Kiyotake (Nuremberga).

    Avançados – Shinji Okazaki (1. FSV Mainz 05), Yoichiro Kakitani (Cerezo Osaka), Manabu Saito (Yokohama Marinos), Yuya Osako (1860 Munique) e Yoshito Okubo (Kawasaki Frontale).

    A ESTRELA

    Keisuke Honda
    Fonte: zimbio.com

    A selecção japonesa não tem nenhum jogador do outro mundo. Porém, tudo o que de bom conseguir vai depender da tríade Honda-Kagawa-Okazaki. Se estes três estiverem em dia ‘sim’ qualquer adversário se arriscará a passar mal – pela vertigem, pela imprevisibilidade, pela inteligência nos movimentos e pela qualidade técnica que os três, individual e colectivamente, têm em doses acima da média. De todo em todo, jogando mais pelo centro ou pela esquerda, Keisuke Honda apresenta potencial para ser a figura mais proeminente da equipa: capacidade de desequilíbrio, visão de jogo, irreverência e poder de finalização não faltam. Se a tudo isto o número 10 do AC Milan e 4 dos ‘Samurais’ aliar consistência e plena entrega, o Japão pode sorrir no Mundial.

    O TREINADOR

    Alberto Zaccheroni
    Fonte: thestar.com

    Quando pegou na equipa nipónica, em 2010, o primeiro impulso de Alberto Zaccheroni foi implementar o (seu preferido) 3-4-3. Com isto se diz tudo: ‘Zach’ não é o habitual técnico italiano, com um pensamento cauteloso ou com laivos de catenaccio; ao invés, gosta que as suas equipas joguem com os olhos postos na frente, e este Japão, para o bem e para o mal, é o exemplo acabado disso mesmo – o treinador italiano, por ter criado uma selecção competitiva e que joga um futebol apaixonante, é, hoje, admiradíssimo pelo povo japonês. Aos 61 anos, depois de ter passado por Udinese, AC Milan (por quem venceu a Serie A, em 1999/2000), Lazio, Inter e Juventus, vai estrear-se num Mundial.

    O ESQUEMA TÁTICO

    O PONTO FORTE

    A tríade Honda-Kagawa-Okazaki, que simboliza na perfeição o futebol rápido e atraente do Japão, com velocidade, qualidade técnica e trocas posicionais constantes; o meio-campo que, com Endo e Hasebe, é sólido e sabe fazer chegar a bola aos homens que podem desequilibrar; os laterais Uchida e Nagatomo, que se incorporam facilmente no processo ofensivo, dando grande largura ao jogo japonês.

    O PONTO FRACO

    A inconsistência e insegurança defensivas patentes em erros clamorosos transformados em golos, como aconteceu na última Taça das Confederações, diante de Itália e México, e no amigável frente à Holanda no fim de 2013; a imensa dificuldade ao nível do jogo aéreo, evidente nos inúmeros golos sofridos fruto de cabeceamentos (principalmente em bolas paradas); a falta de verdadeiras soluções alternativas, mormente ao nível dos elementos do meio-campo.

     

    Incorporado no grupo C, juntamente com Colômbia, Costa do Marfim e Grécia, o Japão estará claramente na luta pelo apuramento. Sendo uma equipa excitante, com a capacidade de se metamorfosear dentro do próprio jogo e repleta de individualidades interessantes (Okazaki, por exemplo, chega num excelente momento de forma), pode almejar, num dia bom, a vencer qualquer adversário. Todavia, terá também saber de olhar para ela própria, dotar-se de um verdadeiro killer instinct – que, muitas vezes, lhe tem faltado e atraiçoado – e, jogando com o jogo, utilizar a posse de bola de forma mais racional e eficiente.

    Zaccheroni já traçou o objectivo e esse passa, nas suas palavras, por apresentar uma equipa de futebol atraente, sem estabelecer até onde poderão ir os seus pupilos. ‘Zach’ esperará que os jogadores tenham crescido com os erros cometidos em momentos passados para, pensando jogo a jogo e encarnando o slogan escolhido para o Mundial – “Samurais, é a altura de lutar” –, o Japão, no Brasil, se transformar na mais bela surpresa da Copa.

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