O ataque é a melhor defesa

    Os balanços de final de época costumam ter indicadores diversificados. Costumam mesmo complementar-se conforme a sua diversidade estatística. Num deles poderá não existir a equipa que menos cartões viu mas estará o número de assistências protagonizadas por cada jogador, enquanto que noutro existem dados sobre os cartões vistos por cada equipa mas tem em falta a quantidade de passes decisivos por futebolista.

    Até se podem juntar esses balanços de época e obter-se exatamente os mesmos dados… mas nunca as mesmas opiniões, e essas, pela sua subjetividade, fazem de cada balanço de época único. Qual é o onze ideal para os analistas? Qual foi o melhor jogador jovem? Que equipa ganhou o rótulo de “equipa-sensação”?

    Tudo o que foge ao factual, numa “ficha” deste género, contribui para que haja diversidade e distinção. Parece ser uma verdade La Palissiana… embora, no que à Premier League 2013/2014 diz respeito, esta esteja seriamente ameaçada, especialmente no que toca à eleição da equipa sensação, que parece recolher o consenso dos analistas – Southampton Football Club.

    Os Saints surpreenderam tudo, “estacionando” a sua performance no oitavo posto da Premier League com uma distância considerável (seis pontos) para o nono classificado, ficando apenas atrás de equipas financeiramente superiores e com obrigação de lutar por, pelo menos, lugares europeus – Tottenham, Everton, Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester’s.

    Assente num 4x2x3x1, facilmente desdobrável num 4x3x3 com a subida dos alas e convertível num 4x5x1 com a compactação do meio-campo, o Southampton contou, acima de tudo, com uma personalidade defensiva fantástica, misturando, no seu setor recuado, saber e a garra subjacente à irreverência da juventude. Um cocktail que resultou plenamente, conforme atestam os golos sofridos desta equipa, que se sagrou a sexta melhor defesa da temporada à frente do vice-campeão Liverpool e ainda a quarta equipa menos batida a jogar fora de portas, apenas atrás de Chelsea, Everton e Manchester United!

    Rickie Lambert foi fundamental no processo defensivo dos Saints. Fonte: Skysports
    Rickie Lambert foi fundamental no processo defensivo dos Saints.
    Fonte: Skysports

    O setor do meio campo terá tido o principal papel nesta fantástica performance, designadamente o duplo pivô, habitualmente composto por Jack Cork e pelo francês Morgan Shneiderlin. O primeiro mais posicional, e o segundo mais liberto, mas fundamental na destruição de jogo contrário. A evidenciá-lo está o facto de ser o terceiro jogador da Premier League (com outros seis jogadores) com a média mais alta de desarmes por jogo – 3,4.

    Lá atrás, nas alas, os miúdos Nathaniel Clyne e Luke Shaw demonstraram uma maturidade e um carácter impressionantes para as idades que têm (23 e… 18!), que serviram de bilhete de acesso do segundo à seleção nacional. No eixo central, uma dupla de betão, composta por um experimentado Dejan Lovren (24 anos, mas cinco deles de seleção e com passagem, como titular, pelo Lyon) e pelo “nosso” José Fonte, com qualidade no passe e no poder de interceção. Aliás, o croata foi mesmo o quarto melhor defesa central neste capítulo… entre os principais campeonatos europeus.

    Boruc também teve um papel importante na guarda da baliza dos Saints, mas poucas foram as chances de golo que a equipa permitiu e muitas as bolas que não chegaram a pingar o meio-campo dos vermelho-e-brancos. Culpa de uma disciplina tática irrepreensível e de uma pressão alta sufocante…

    … ou seja, o mérito da defesa é imenso, mas é escusado imaginar um Southampton tão sólido lá atrás sem a contribuição da pressão exercida pelos seus avançados, especialmente o trintão Rickie Lambert, muitas das vezes o primeiro defesa da equipa e com um pulmão cheio para um jogador da sua idade e da sua posição. Sempre apoiado por Jay Rodríguez e por Adam Lallana (descaídos para cada um dos flancos, e igualmente incansáveis) na busca incessante pela bola, constituiu sempre o primeiro defesa da equipa do Southampton e, com auxílio dos seus “escudeiros”, ao impedir a livre circulação de bola do adversário (que se traduziria, mais tarde, em poucas oportunidades de golo consentidas), condicionando-lhe a primeira fase de construção, reforçou a ideia de que o ataque é, de facto, a melhor defesa.

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