Brasil 1-1 Chile (3-2 g.p.): Os postes fizeram esquecer a traição de Hulk

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    O RESCALDO

    Vestiram hoje de amarelo e vermelho os artistas que nos proporcionaram três horas de fé, alegrias e tristezas para alguns, de incerteza para todos, de futebol, enfim, para os fãs que anseiam pela repetição deste espectáculo com outras cores e outras nacionalidades mas com a mesma beleza nos próximos dias. De um lado, os meninos predestinados que jogam desde que se lembram na favela, na estrada, no descampado onde se possam colocar duas pedras e uma bola, que é só disso que se trata o futebol; aqueles que apontam como um dos conjuntos de maior valia individual. Do outro, os guerreiros organizados (que Sampaoli não gostará de ver as suas virtudes limitadas à vontade contagiante que existe nos chilenos), os escolhidos por um povo que se aguenta nas minas durante dias a provar que os impossíveis só o são se assim eles o permitirem; aqueles que apontam como um dos conjuntos de maior valia colectiva.

    Foi de forma equilibrada que se viveram os primeiros minutos deste embate de – mais do que países – estilos futebolísticos distintos. O Chile parecia mais confortável sabendo que o Brasil iria ter de agarrar a bola e mostrar àquele estádio inteiro que queria ganhar como sempre ganhou, com qualidade, com bola, com a magia de Neymar, que houve sempre um mágico por trás do sucesso brasileiro. Eu, por volta dos 15 minutos, já algo impaciente, perguntava: e o Óscar?

    Pouco depois, aos 18, eis que a confortável equipa do Chile se apanhou no momento em que se costuma sentir mais desconfortável: bola parada, jogo aéreo, golo de David Luiz a meias com Jara. 1-0 e o Brasil, astuto e preparado, quis mudar o jogo. Imitou a Holanda que pragmaticamente entregou as despesas do jogo à equipa do Chile há uns dias e ganhou dessa forma. Explorava-se a profundidade através de Neymar e Hulk mas, aos 31 minutos, eis que o mesmo Hulk trairia toda a ideia de Scolari com uma perda infantil perto da sua área que culminaria no golo de Alexis e no 1-1. A equipa do valor individual sofria um revés através de um erro… individual.

    O empate do valor colectivo contra o individual  Fonte: FIFA
    O empate do valor colectivo contra o individual
    Fonte: FIFA

    A partir daí até final dos 90 o jogo variou por fases em que as equipas se superavam e onde dois técnicos tentavam dar instrumentos aos seus jogadores para desbloquearem o empate. Mas… e o Óscar?, voltei a perguntar, até que o vi colado à linha, tímido, preso, triste. Oh Scolari, este também é teu menino e também o devias proteger. Sampaoli é que sem problemas mexia na equipa de forma inesperada mas efectiva: sai o ponta de lança Vargas e entra o trinco Gutiérrez. Passo atrás? Não. Ninguém chega à frente sem passar pelo meio, razão pela qual o treinador argentino ao serviço do Chile reforçou o meio-campo e passou a controlar melhor a partida. Scolari trocou Fred por um qualquer Éder brasileiro que Luís Freitas Lobo dizia poder apanhar pássaros cada vez que saltava. O jogo mostrou-nos que nem pássaros nem bolas para desalento de Hulk, que se queria recriminar e o tentou tantas vezes mas ora era Bravo a evitar o golo ora Jô que, nada bravo, desperdiçou um cruzamento milimétrico do 7 ex-Porto. Do outro lado, quem não desperdiçava uma única bola era Alexis que – e temos de gostar mesmo de algo para a proteger tão bem! – guardava a bola como talvez mais ninguém o faça actualmente neste mundo. Que exibição, miúdo!

    O jogo seguiu para o prolongamento porque não houve clarividência e inteligência – Óscar, onde andas, craque? – para explorar os pontos menos fortes do adversário. Nos 30 que se seguiram descobrimos que aqueles mineiros disfarçados de futebolistas também eram humanos e sofriam de desgaste. Nada que se compare com o dos portugueses, claro está, mas notou-se a quebra física provocada pela intensidade máxima que colocaram em cada lance de cada jogo disputado até ao momento. O Brasil esteve por cima, procurou mais o golo mas, lá está, faltava Ósc… inteligência ao seu jogo e um pouco de Neymar também, que teve o seu dia menos bom hoje. Entrou Pinilla para o Chile e eis que o ex-Sporting quase deixou de ser o rapaz que marcou o golaço ao Alkmaar para ser o rapaz que marcou o golaço ao Brasil, mas o poste não deixou e permitiu a Hulk não ter pesadelos com o lance dos 31 minutos que o acompanhariam não fosse o Brasil ter acabado por ganhar.

    Grandes penalidades, bem batidas por David Luiz, muito mal por Pinilla, com azar para Willian, que quis fazer bem demais, também mal por Alexis, que não merecia esse erro, irrepreensíveis de Marcelo e Aranguiz e de forma errada por Hulk, que nunca entendeu que um penalty é mais engenho do que força. O Chile voltou à decisão mas, no momento da verdade, Neymar teve a calma de quem joga na areia de São Vicente, onde cresceu, e Jara viu bem todo o Mineirão a olhar para si e continuou com o azar que o tinha feito empurrar a bola para a própria baliza ainda na primeira parte. Caíram, mas caíram de pé. O Brasil continua mas terá de depender menos dos postes se quer chegar ao título…

    A Figura

    Alexis Sanchez – Foi o melhor em campo, segurou o jogo do Chile, era o porto de abrigo do resto da equipa cada vez que precisava de subir e descansar. Atacou, defendeu, acompanhado ou sozinho na frente, recuou no campo, distribuiu jogo. Fez tudo… menos marcar o penalty. Não merecia.

    O Fora-de-Jogo

    Scolari – Não me podia ter roubado 120 minutos de Óscar assim, encostando o mais criativo que tem a uma linha que ele repulsa e que não lhe permite mostrar 20% do que sabe e pode fazer. Neymar não resolve sempre e, à falta do 10, o treinador tem em Óscar o seu elemento de maior valia ofensiva. Ainda vai a tempo de mudar, para bem dele próprio.

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    João Almeida Rosa
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    Adepto das palavras e apreciador de bom Futebol, o João deixou os relvados, sintéticos e pelados do país com uma certeza: o futebol joga-se com os pés mas ganham os mais inteligentes.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.