«Acho que a lesão me fez crescer muito» – Entrevista a Teresa Vaz Carvalho

    BnR/PdA: Quais são as tuas próximas provas?

    TVC: Antes do Europeu, tenho algumas provas pela selecção que quero fazer. Quero fazer o Triangular de Saltos, que é uma prova entre Portugal, Espanha e Itália, que vai ser por equipas e Portugal estará, em princípio, muito bem representado: Patrícia, Susana, Nélson, se o Pichardo puder ir…acho  que temos uma equipa interessante. Também gostava muito de ir aos Jogos Ibero-Americanos que vão ser no Perú e aos Jogos do Mediterrâneo que vão ser em Espanha. E os Nacionais, claro.

    BnR/PdA: Já ouvimos falar de ti há muito tempo, mas na verdade ainda tens apenas 23 anos. Quais são os teus grandes objectivos de carreira neste momento?

    TVC: Sem dúvida alguma que os meus grandes objectivos como atleta passam por ir a uns Jogos Olímpicos e Tóquio em 2020 é mesmo o meu foco. Eu confesso que quando saltei o meu recorde pessoal em 2015, pus os Jogos Olímpicos do Rio como uma meta fazível porque faltavam apenas 18 centímetros e 2 anos para os Jogos. Infelizmente tive uma lesão muito complicada, demorei bastante tempo até poder voltar, um ano completamente fora, sem competir. Entretanto, também meteu-se a faculdade e a vida de atleta-estudante não é fácil. Vou acabar o meu curso no próximo mês, então acho que a partir deste ano vou voltar aos grandes vôos. Vou-me dedicar ao Atletismo a 100% pelo menos até 2020, já com esse curso que dá outra segurança e estabilidade para perseguir este sonho.

    O Salto que deu a Teresa Carvalho o título nacional em 2013

    BnR/PdA: No passado, como já referiste, tiveste problemas graves a nível de lesões. Achas que essa grave lesão irá prejudicar a tua carreira e até onde podes chegar no futuro ou acreditas que serás um daqueles casos – como o do Nélson – em que o tempo que tiveste sem competir, ao não impactar e desgastar o corpo, poderá levar a uma maior longevidade na tua carreira?

    TVC: É uma pergunta difícil. A nível psicológico, eu hoje sou uma pessoa completamente diferente, acho que a lesão me fez crescer muito enquanto atleta e enquanto pessoa e acho que posso tirar muitas coisas positivas desse período. O meu joelho actualmente está a fortalecer-se, ainda não está ao nível que estava antes da lesão, mas acredito que possa vir a não ter dores um dia. Eu confesso que hoje em dia ainda tenho dor, faço as coisas com dor, mas é uma dor que agora sei o que é e é suportável. Sei como combate-la e combato-a diariamente. Eu acredito que este joelho nunca mais me vai voltar a dar problemas tão graves, mas lesões que são da nossa fisionomia, nós não podemos controlar. O desporto é muito imprevisível. Nós um dia estamos super bem e no dia a seguir pode-nos acontecer algo que nos pode estragar meses ou anos de treino. Só o tempo o dirá mesmo. No entanto, também já não sou tão nova, não descuro tanto a recuperação e o descanso, que são essenciais no treino. Claro que é necessário sorte, mas a sorte procura-se e se trabalharmos diariamente para não ter azares, as probabilidades deles acontecerem diminuem.

    O seu recorde pessoal de 6.52 deu-lhe destaque desde muito jovem
    Fonte: Teresa Vaz Carvalho

    BnR/PdA: Com 19 anos já saltavas acima dos 6 metros e meio e na verdade a tua marca (6.52) coloca-te como a segunda melhor atleta da história nacional no Comprimento. Esses resultados que fazias com essa idade não eram muito diferentes daqueles que faziam com 19 anos, as atletas que hoje dominam o Comprimento – a (Tianna) Bartoletta por exemplo tinha um recorde com essa idade de apenas mais 8 centimetros que tu. Achas que sem essa grave lesão, agora poderias estar nesse grupo?

    TVC: (risos) É difícil de responder. Como não foi isso que aconteceu, é difícil de prever. Eu acredito muito que as coisas acontecem por alguma razão e como eu já referi, acho que se não me tivesse lesionado gravemente, não teria a maturidade que tenho agora e até poderia ter acontecido uma outra coisa qualquer e eu não ter evoluído na mesma. Eu vejo hoje raparigas com 15 ou 16 anos a fazerem mínimos para os Jogos Olímpicos e a bater recordes como se não fosse nada. Ontem em conversa com alguns colegas, falámos disso e eles referiram que essas pessoas que conseguem essas marcas tão cedo nem sequer se apercebem do trabalho que dá e do que é ser atleta. Será que essas pessoas mais tarde vão conseguir suportar as adversidades psicologicamente? É complicado, muitas vezes quando eu estive mal no passado recente, eu pensei “bem, quem me dera nunca ter saltado o que saltei antes”, porque é bastante frustrante não conseguir bater o teu recorde pessoal durante 4 anos. Mas o que eu vejo é que hoje sou melhor a todos os níveis: tenho mais força, mais velocidade, a cabeça está melhor, por isso acho que só posso melhorar em relação aquilo que já fiz. Se calhar se tivesse continuado tão bem no Atletismo, talvez não tivesse tirado o meu curso. Talvez pudesse ter saltado os 6.70, ter ido ao Rio, mas como não aconteceu, eu não vivo no passado. Não aconteceu, mas há-de acontecer. Eu sei que o meu salto está reservado para algum dia!

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.