«Existe é uma desconfiança generalizada em relação à capacidade intelectual das mulheres nesta área» – Entrevista Cláudia Martins

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    Licenciada em Comunicação Social pela Escola Superior de Educação da cidade dos estudantes – Coimbra –, Cláudia Martins é uma das poucas jornalistas que exercem a profissão na área de desporto. Repórter de pista da Antena 1, foi diretora de informação do ZeroZero quando começou o projeto redação, e tem travada uma intensa luta contra os preconceitos e desigualdades das mulheres no ramo do Jornalismo de Desporto. O Bola na Rede conversou conversou com Cláudia Martins para tentar descobrir várias particularidades da profissão.

    Bola na Rede: O Jornalismo sempre foi um objetivo desde cedo para as suas pretensões profissionais?

    Cláudia Martins: O Jornalismo foi uma certeza desde sempre. Era muito nova, não mais que 11, 12 anos, e sabia que queria ser jornalista. É uma paixão, uma responsabilidade, uma missão.

    BnR: Em relação ao Jornalismo de desporto, como é que apareceu na sua vida?

    CM: O Jornalismo de desporto foi uma coincidência. Cerca de um ano depois de ter estagiado na redação geral da Antena 1, no Porto, fui convidada para a equipa de desporto. Hoje, creio que foi o melhor que me aconteceu mas não sei onde estaria ou o que estaria a fazer se tivesse seguido outro rumo. Na altura foi uma coincidência, já gostava de desporto mas não tinha definido ser jornalista nesta temática, estava no início da carreira, a entrar no mercado de trabalho e agarrei a oportunidade. Hoje, feliz com as minhas escolhas, creio que foi o melhor que podia ter acontecido e não me vejo, para já, a mudar de área.

    BnR: Já tem dito, em outras ocasiões, que não gosta do rótulo de jornalista desportiva? Porquê?

    CM: Há uma tendência na sociedade, de uma forma geral, de colocar rótulos e preconceitos, de catalogar, que me incomoda. O jornalismo de desporto acaba por, muitas vezes, ser rotulado como menos importante, menos independente, menos sério e, por consequência, também os jornalistas que trabalham nesta temática o são. É algo que me incomoda porque sou jornalista, serei sempre jornalista, trabalhe em desporto ou noutra temática qualquer. Além disso, o desporto não pode nunca, no nosso país, ser considerado um tema menor. Porque ele está relacionado com a nossa identidade enquanto povo e porque ele é das poucas coisas em que Portugal tem uma projeção mundial plena de sucesso. Não há muitas coisas em que nós tenhamos esta visibilidade externa e bem sucedida que o desporto nos dá. Como pode então ser um tema menor? Como podem os jornalistas que trabalham nesta área serem considerados menores? Mais ainda, para mim, as ferramentas, as preocupações, os procedimentos, os conceitos e cuidados éticos que são necessários ao exercício do jornalismo são aplicados em qualquer temática em que se trabalhe. Não creio, por trabalhar em desporto, que faça o meu exercício diário de forma diferente dos meus colegas que trabalham noutras secções temáticas.

    BnR: Foi diretora de informação do ZeroZero, numa altura em que o projeto ainda estava numa fase inicial. Foi, na altura, um desafio ainda mais aliciante por isso?

    CM: O projeto estava numa fase inicial em termos de redação, enquanto base de dados estava já bastante desenvolvida. Foi um desafio absolutamente determinante para o que sou hoje. Abraçar e criar um projeto de raiz, poder implementar o meu ideal de jornalismo, sem vícios, pressões e restrições foi muito bom. Ao mesmo tempo foi uma contínua aprendizagem, houve situações, decisões, questões que me foram colocadas pela primeira vez. Tive, em muitos casos, que ser autodidata, muitas vezes tive que recordar as aulas de ética e deontologia e tomar decisões de acordo com a minha consciência. Terei errado, certamente, mas o que fica de positivo é muito mais do que negativo, foi uma aprendizagem profunda, de mais de cinco anos.

    BnR: O ZeroZero, assim como outros órgãos de comunicação social apenas do online, têm crescido muito nos últimos tempos. Acha que o futuro do Jornalismo pode passar somente pelo online, ou terá sempre o seu lado mais “tradicional”?

    CM: Eu sou defensora de que nenhum modelo desaparece. Nem desaparecerá. Apenas há uma exigência grande de adaptação, de mudança, de acompanhamento das tendências. Não quero, sequer, acreditar que isso possa acontecer. Além disso, acho que no nosso país quase não há projetos com estratégias bem delineadas para o digital. O online é, na sua maioria, uma extensão de outras plataformas e não um meio em si mesmo. Enquanto essa estratégia não estiver bem desenhada, não me parece que se assuma como o futuro do Jornalismo.

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    Rafael Simões
    Rafael Simõeshttp://www.bolanarede.pt
    Adepto de bom futebol, adora o jogo desde que se lembra de ser gente. Estudante de Comunicação Social, é capaz de passar horas a fio a devorar futebol, considerando-se um romântico do desporto rei. Recusa-se a discutir arbitragens e simpatiza com o Liverpool, muito por culpa da lenda do clube, Steven Gerrard. Espera um dia ser jornalista desportivo e olha para o futebol como uma arte que embeleza a vida.                                                                                                                                                 O Rafael escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.