À conversa com João Ricardo Pateiro

    Numa altura em que se debate sobre o estado de “saúde” do jornalismo desportivo fomos falar com uma das vozes mais conhecedoras do assunto. João Ricardo Pateiro, uma das vozes do relato desportivo, foi nosso convidado e apresentou-nos a sua visão sobre o estado do jornalismo e sobre o futuro do mesmo.

    Bola na Rede [BNR]: Considera que o jornalismo português em geral se encontra debilitado?

    João Ricardo Pateiro [JRP]: Não diria tanto. Acho que há bons e maus exemplos. Tenho um amigo que diz que os erros dos médicos estão nas morgues, os erros dos advogados estão nas prisões e os erros dos jornalistas estão todos os dias nas primeiras páginas dos jornais. Acho que é um pouco por aí. Seria muito difícil encontrar uma profissão em que todos os profissionais fossem bons. É como em tudo na vida. Há bom e mau jornalismo, não consigo catalogar as coisas de uma forma abrangente.

    BnR: O que acha que falta mudar no jornalismo desportivo?

    JRP: Há sempre coisas para mudar e melhorar. Ter um pouco mais de confirmação em algumas notícias é uma delas. Por exemplo, na altura do mercado de transferências há sempre muita especulação. Os jornalistas são enganados por determinados empresários que pretendem colocar os seus jogadores em determinada órbita, valorizá-los, no fundo. É algo a melhorar. Noto que o número de notícias de mercado que aparecem e não são confirmadas é muito alta. Isto é só um exemplo, há muito mais.

    Bnr: Acha que a lógica de venda sobrepõe-se aos interesses dos leitores?

    JRP: Isto é um negócio. Ninguém faz jornais, rádio e televisão para não ter audiência, leitores… O objetivo passa sempre pelo lucro, por ganhar dinheiro.

    BnR: Como poderá o jornalismo contribuir para melhorar o futebol português?

    JRP: O jornalismo poderá e deverá ter um papel importante de forma a melhorar o futebol português. O jornalismo é uma forma de criar opinião, o que é um bom começo para as coisas poderem evoluir.

    BnR: Acredita no conceito de isenção ou acha que o mesmo se encontra ultrapassado?

    JRP: Tenho que acreditar. Quando um jornalista deixa de acreditar no conceito de isenção devia mudar de profissão.

    BnR: Acha que o jornalismo digital pode prejudicar ou beneficiar o impresso?

    JRP: Pode prejudicar. Se não for encontrada uma fórmula que altere as coisas, o jornalismo digital pode ser canibal do jornalismo impresso. Quanto à radio e à televisão pode ser complementar. Mas aos jornais é canibal porque uma pessoa que lê uma notícia na internet já não vai ter grande interesse no impresso.  Não faz sentido. Acho que há que pensar numa fórmula de negócio para que o jornalismo digital não dê cabo do jornal impresso.

    BnR: Qual a sua opinião em relação ao crescimento do jornalismo digital nos últimos tempos e a distinção entre jornalismo digital e fake news?

    JRP: Este crescimento é inevitável. Agora as empresas têm de encontrar o caminho certo para haver compatibilidade. Jornalismo é jornalismo. Um bom jornal não se mede por ser digital ou não digital. Não é por ser digital que se é mais sério ou menos sério. As regras têm de ser as mesmas no tratamento de notícias, não é por aí.

    Foto de capa: FPF

    Artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Raquel Roque
    Raquel Roquehttp://www.bolanarede.pt
    A Raquel vem dos Açores, do paraíso no meio do Oceano Atlântico. Está a concluir a licenciatura em Estudos Portugueses e Ingleses. Guarda os clássicos da literatura, a Vogue e os jornais desportivos na mesma prateleira.                                                                                                                                                 A Raquel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.