Girabola: A Tragédia de Uíge

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    O dia 10 de fevereiro de 2017 tinha tudo para ser um dia de festa na província do Uíge: o Santa Rita de Cássia fazia o seu jogo de estreia no principal campeonato angolano de futebol, exatamente dois anos após a sua fundação em 2015, frente ao candidato ao título Recreativo do Libolo. Num duelo disputado entre equipas treinadas por portugueses – Sérgio Traguil do lado da casa e Vaz Pinto do lado visitante, a partida marcou o arranque do Girabola’17, embora o clima de festa rapidamente deu lugar à tragédia e ao drama: pelo menos 17 pessoas morreram, após tentarem entrar forçosamente no Estádio 4 de Janeiro para assistir ao jogo.

    Com início marcado para as 14h, o encontro inaugural da 39.ª edição do Girabola era histórico para o conjunto da casa, visto que, em tão pouco tempo de existência, tinha feito a proeza de alcançar duas subidas consecutivas de divisão, o que valeu à equipa do Uíge a oportunidade de poder fazer parte da elite dos 16 clubes que disputam o campeonato mais importante de Angola. A partida começou a um ritmo frenético, com os adeptos presentes nas bancadas a fazerem uma enorme festa desde o apito inicial do árbitro, até que aos 7’ o encontro em si deixou de ser o mais relevante, com o pânico nas bancadas a vir ao de cima. Um grupo de cerca de 100 adeptos tentou entrar no estádio onde se estava a realizar o encontro, o que acabaria por forçar um dos portões de acesso às bancadas, originando a queda de outros adeptos que foram posteriormente pisados no meio da confusão.

    Adeptos forçaram a entrada e o resultado foi devastador Fonte: JC Online
    Adeptos forçaram a entrada e o resultado foi devastador
    Fonte: JC Online

    De acordo com a imprensa local, a Polícia presente no estádio e em número considerado aceitável fez tudo o que estava ao seu alcance para impedir a entrada deste grupo de adeptos, embora sem o sucesso desejado. Para além das 17 mortes verificadas, cerca de 60 pessoas ficaram feridas, sendo que cinco se encontram em estado grave. O estádio que havia sido escolhido pelo Santa Rita para a realização das suas partidas em casa para a Liga, foi considerado como “Apto” pelos inspetores da Federação Angolana de Futebol (F.A.F.) na semana anterior ao início do Girabola, tendo capacidade para cinco mil espetadores, embora no dia estivessem presentes nas bancadas o dobro da capacidade, muito por culpa da ânsia em querer presenciar de perto o regresso da Festa do Futebol à província do Uíge.

    Quanto ao jogo em si, terminaria com a vitória por 0-1 do vencedor da Taça de Angola de 2016, o Recreativo do Libolo, com o golo a ser apontado por Viet. Durante os 90’, a equipa do português Vaz Pinto e que conta com nomes bem conhecidos do público português, como Ricardo Batista e Hélio Roque, dominou por completo a equipa estreante no Girabola, embora não tenha conseguido concretizar as inúmeras ocasiões que dispus para alargar a vantagem. Com esta vitória, o ex-campeão angolano inicio da melhor forma a sua caminhada rumo ao título, que perdeu na época passada para o 1.º de Agosto.

    Por vezes, no futebol, o que mais importa, tanto para os clubes e como para os adeptos, são os resultados obtidos. Ora, o dia 10 de fevereiro foi um dia em que o jogo jogado e o resultado final foram o menos importantes, devido à grave situação verificada nas bancadas do Estádio 4 de Janeiro. A tragédia abalou o início de mais uma edição do Girabola, campeonato que pode muito bem ser adjetivado como a Festa do Futebol, embora o dia de ontem tenha sido um dia de profunda tragédia e tristeza para o futebol angolano. Em nome de toda a equipa do Bola Na Rede, quero endereçar as minhas condolências às famílias dos adeptos que faleceram no local do encontro e desejar as rápidas melhoras às pessoas que se saíram feridas desta triste ocorrência.

    Foto de capa: SportArena.com

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    Guilherme Costa
    Guilherme Costahttp://www.bolanarede.pt
    O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.