Pressão Colchonera

    cab la liga espanha

    No início do ano, falei, neste mesmo espaço, sobre aquilo que poderá ser a segunda fase do campeonato espanhol.

    Nesse texto, um dos protagonistas foi o Atlético Madrid, cuja prestação tem encantado tudo e todos. Sucintamente, referi que os colchoneros, apesar do bom futebol, do excelente treinador e da mentalidade positiva, dificilmente seriam campeões. A razão? Estofo. Ou, neste caso, falta dele.

    Neste momento, o campeonato espanhol encontra-se na 20ª jornada, estando o Barcelona e o Atlético Madrid colados (como estiveram, praticamente, até ao presente) na frente da tabela, com 51 pontos. Durante estes 20 jogos, o Atlético Madrid teve três oportunidades para descolar dos rivais e isolar-se no primeiro lugar. Em nenhuma das três tentativas, os homens de Diego Simeone mostraram estofo e capacidade para assumir a imensa pressão de liderar uma liga tão forte como a espanhola.

    Ao analisarmos os três jogos de que falei, é fácil perceber que o Atlético Madrid sentiu (e muito) essa pressão extra. Ora, vejamos:

    A primeira oportunidade surgiu à 9ª jornada, no dia 19 de Outubro de 2013. À entrada para esta ronda, o Barcelona e o Atlético Madrid estavam no topo da classificação, com 24 pontos e oito vitórias em oito jogos. Surpreendentemente, o Barcelona acabaria por ceder um empate na deslocação ao Osasuna, e o Atlético Madrid entrava no jogo frente ao Espanyol com a possibilidade de ganhar dois pontos de vantagem ao rival. O cenário positivo não se confirmou, e o Atlético Madrid abandonaria o Cornellà-El Prat com a primeira derrota da temporada (1-0). No final dessa partida, Diego Simeone, visivelmente frustrado, diria, na flash-interview, a polémica frase que ocupou parte das capas dos jornais desportivos no dia seguinte: “a Liga espanhola é aborrecida”. Ainda que o estado emocional possa ter tido muita influência nas declarações do treinador argentino, eu sou obrigado a discordar, uma vez que, este ano, a Liga BVVA tem sido tudo menos aborrecida. A verdade é que, por muito que doa a Simeone, o Atlético Madrid não mereceu ganhar a partida frente ao Espanyol. Foi uma equipa nervosa e sem ideias de jogo suficientemente fortes para bater uma das melhores defesas do campeonato. O empate talvez tivesse sido justo, é verdade, mas a derrota foi o espelho e a consequência da inquietação dos colchoneros.

    Para ter uma nova oportunidade de se isolar no primeiro lugar, o Atlético Madrid teria de esperar até Janeiro deste ano; foi no passado dia 10 que Atlético Madrid e Barcelona protagonizaram um dos clássicos mais esperados dos últimos anos. Com 49 pontos somados por ambas as equipas, o Atlético tinha, à 19ª jornada, a oportunidade de deixar o Barcelona a três pontos de distância. Mais uma vez, não conseguiram. Simeone até arriscou bastante ao colocar Diego Costa e David Villa na frente de ataque, mas a mensagem de confiança por parte do treinador não surtiu efeito nos jogadores, que falharam várias ocasiões de golo. De facto, o Atlético foi melhor em quase todos os setores e momentos do jogo, mas, face a um Barcelona que respeitou demasiado o rival, pecaram na eficácia.

     

    O clássico foi muito disputado Fonte: Lancenet
    O clássico foi muito disputado
    Fonte: Lancenet

     

    Se, na primeira vez, o Atlético teve de aguardar quase três meses por uma nova oportunidade para ultrapassar o Barcelona, desta feita, os colchoneros foram presenteados com uma nova chance logo na jornada seguinte. Depois do clássico, o Barcelona deslocou-se ao terreno do Levante e, já com Messi recuperado da lesão que o afastou da equipa por vários jogos, o melhor que os catalães conseguiram foi um empate. Por incrível que pareça, o Atlético Madrid voltou a entrar em campo com o conhecimento de que uma vitória significaria o primeiro lugar isolado. A jogar no Vicente Calderón, perante o seu público, o Atlético Madrid sucumbiu novamente à pressão e cedeu novo empate (1-1), frente ao Sevilla. É realmente incompreensível a forma como o Atlético não ganha um jogo que até começou da melhor forma possível, uma vez que, aos 18 minutos do primeiro tempo, os colchoneros já venciam, com um golo de David Villa. Porém, o resto da partida ficou marcada pelo desperdício (mais uma vez) dos jogadores da casa, que viram, aos 73 minutos, através de uma grande penalidade, Ivan Rakitic fazer o empate para o Sevilha. Se, até ao momento do empate, a clarividência não era uma mais valia no jogo do Atlético, a partir daqui, a equipa comandada por Diego Simeone revelou todo o nervosismo e cedeu à pressão.

    Para quem quer ser campeão, o Atlético Madrid não pode ceder nestas situações. Aliás, quem joga no mesmo campeonato do Barcelona tem de aproveitar toda e qualquer situação de vantagem – que o diga o Real Madrid.

    As grandes equipas revelam-se nos grandes momentos. É uma frase que, na minha opinião, sempre fez sentido. É nos momentos de pressão – leia-se decisivos – que os melhores jogadores e as melhores equipas provam a capacidade de se sobreporem a outras cuja habilidade é inferior.

    Estará este Atlético Madrid a esconder na beleza e garra do seu futebol a insegurança de se assumirem como líderes e, porventura, como candidato em pé de igualdade aos dois gigantes espanhóis? Se realmente quer ser campeão, o Atlético Madrid tem de assumir para si mesmo, para os jogadores, equipa técnica e adeptos, que é nos momentos decisivos que se fazem os vencedores.

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    Pedro Beleza
    Pedro Beleza
    Benfiquista até ao último osso, mudou-se do Norte para Lisboa para poder ver o seu Benfica e só depois estudar Jornalismo. O Pedro é, acima de tudo, apaixonado pelo desporto rei e não perde uma oportunidade de ver um bom jogo de futebol.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.