Era uma noite fria no meio de um mês de maio abrasador. As gotas de chuva intensas caíam pelos vidros da minha janela e os céus cada vez mais cinzentos ameaçavam fazer-nos passar por uma tempestade como de há muito não havia memória. Na verdade não me lembro, mas se escrevesse o guião do filme daquela vitória começaria assim: comigo sentado entre o barulho da chuva e o sofrimento.
Tudo começou com amor à primeira vista. Naquela noite, eu sentava-me com o meu pai e via a final da Liga dos Campeões. Eram dois colossos do futebol europeu, sim, mas só isso. Sem preferências, sem nada que me levasse a torcer mais por um do que por outro. Até que aconteceu. Foi amor à primeira vista. Vi, apaixonei-me e não mais quis outra. Não pensei sequer noutra equipa. A partir daquele momento o meu coração ganhou o único vermelho que tem até hoje: o do Liverpool Football Club.
Apaixonei-me pela equipa que regressou do intervalo, por aqueles quinze minutos e, a partir daí, por tudo o que isso envolvia: os adeptos, a história, a filosofia. Simplesmente apaixonei-me. Sabem do que falo – por vezes é difícil explicar. Tentamos escolher um momento e um gesto, algo que ‘fez o clique’. Para mim, foram aqueles quinze minutos.
Hoje, longe de pela primeira vez (houve uma final disputada depois disso, entre outras edições que se sucederam), o Liverpool Football Club regressa ao maior palco do futebol europeu. O palco onde já celebrou por cinco vezes; o palco onde nunca um emblema inglês foi tão feliz. Foi preciso lutar muito, sofrer muito e até chorar. Foi preciso ver partir, chegar e não gostar; foi preciso duvidar e criticar; mas, acima de tudo, foi preciso ter paciência. Aceitou-se, reconheceu-se, elogiou-se. Cresceu-se. Anfield cresceu, os adeptos cresceram, a equipa cresceu.
O Liverpool está de volta e com ele uma das mais bonitas histórias de amor. Não apenas a do clube e a da Europa, que já por tantas vezes o trocou, mas entre os adeptos e a competição. Essa, nunca a trocámos. Sempre sonhámos com ela e sempre nos declarámos. Hoje, voltamos com esperança renovada. Ela é nossa e não a queremos ver partir.