O Renascimento do Parma

    Chegados à terceira jornada, o próximo adversário da Juventus de Cristiano Ronaldo, João Cancelo e companheira na Serie A é o Parma no mítico estádio Ennio Tardini. Quanto ao jogo em si, é esperado que a reforçada vecchia signora não tenha grandes dificuldades em vencer a partida, mas o histórico emblema italiano surpreendeu no jogo de abertura ao empatar a dois golos com a Udinese.

    Em 2015, os parmesãos passaram de um 6.º lugar alcançado na temporada transata para um desapontante 20.º e último posto na tabela classificativa do campeonato. Além disso, a situação financeira do clube não era a melhor, a par com a crise económica e política em Itália. Mais de 210 milhões de euros de dívidas obrigaram os tribunais a anunciar falência e despromoção do clube para a Serie D, o escalão mais baixo do futebol do país da bota.

    O Parma (re)começou do zero e regressou num ápice à Serie A. Em três anos, três subidas consecutivas. Luigi Apolloni, antigo jogador do clube, foi o treinador da equipa nas Series D e C (2015-2017), onde levou a equipa ao primeiro lugar que dá a promoção automática à divisão seguinte. Na Serie B, o treinador é o que ainda permanece hoje no banco do Parma: Roberto D’Aversa, ex-jogador e atualmente reconhecido como treinador de equipas de menor dimensão em Itália.

    Foi sempre a subir o regresso do Parma à Serie A e, pelo meio, ganharam um investimento chinês Fonte: Parma Calcio 1913

    O plantel parmesão, dado à sucessão dos acontecimentos, sofreu um enorme abanão.  A solução para enriquecer o plantel teve de passar por apostar em muitos jovens, a ‘prata da casa’, em conjunto com jogadores mais experientes. Alguns naturalmente mais velhos juraram amor e compromisso total ao clube. Um deles é o defesa central e atual capitão, Alessandro Lucarelli, de 40 anos, está no clube desde 2008, onde já totaliza um número redondo de jogos ao serviço do Parma: 350.

    Entretanto, no ano passado, ainda na Serie B, o Parma poderá ter sido como um interesse no mercado financeiro. O investidor chinês Jiang Li Zhang adquiriu 60% das ações do clube italiano. É nada mais, nada menos como um dos proprietários do clube espanhol Granada e detentor de 5% dos Minnesota Timberwolves da NBA. Um dos intermediários deste negócio foi o antigo avançado argentino, Hernán Crespo, que é o atual vice-presidente do Parma.

    De facto, o dinheiro aparenta facilitar as aspirações do Parma para este regresso à Serie A que é, logicamente, a manutenção.  Ainda para mais quando o clube, devido às tentativas de corromper um jogador do Spezia na última jornada da Serie B no ano passado, começa o campeonato com cinco pontos negativos. Apesar de o Parma ter estado envolvido em grandes escândalos extra-futebol, e que o prejudicaram, é consensual admitir que o clube está no lugar onde deve estar. No entanto, dado ao contexto, procura-se o rumo certo.

    O português Bruno Alves é uma das apostas do Parma e o capitão da equipa
    Fonte: Parma Calcio 1913

    O Parma contratou 26 jogadores neste mercado de verão, o clube que se reforçou mais para a Serie A. Muitos dos reforços chegaram por empréstimo, a custo zero ou por valores de transferência a não ultrapassar os três milhões de euros. A maioria dos jogadores são oriundos de grandes clubes da Serie A como o Nápoles e Inter de Milão, outros são futebolistas que se destacaram em divisões e clubes inferiores em Itália.

    Bruno Alves é uma das aquisições de destaque. O Parma pretende manter a agressividade à defesa como um dos seus cartões de visita e sabemos que com o central português ao serviço não há dúvida de que isso não irá faltar. A equipa parmesã tem apostado numa defesa a quatro e não a três, como costuma ser tradicional em Itália. Num meio campo a três, as apostas foram feitas no médio defensivo sérvio contratado ao Venezia, da Serie B, Leo Stulac; no experiente Luca Rigoni, ex-Génova e Alberto Grassi, emprestado pelo Nápoles.

    Outras chegadas de salientar são as de Gervinho e de Jonathan Biabiany. Os velocíssimos extremos costa marfinense e francês são esperados como as ‘motas’ de serviço do Parma. Nos primeiros jogos, a aposta tem sido defender bem, baixar mais as linhas e apostar num jogo mais direto e, claro, de contra-ataque. Ainda assim, sabemos bem que são dois jogadores que nunca se afirmaram nos vários (grandes) clubes que passaram. Experts em FIFA sabem bem a valia destes jogadores, mas só mesmo na consola. Para chegar aos golos há também os pontas de lança, Roberto Inglese, emprestado pelo Nápoles, e Fabio Ceravolo, contratado ao despromovido Benevento.

     

    O que todos estes jogadores têm em comum? Tal como a maioria das outras contratações feitas pelo Parma, são futebolistas numa idade já avançada. Nota-se aqui uma aposta na experiência e maturidade para iniciar a ambicionada estabilidade do clube. Esperemos que, dado à grande força de mercado que o futebol italiano está a voltar a ter, os parmesãos não se tornem um depósito de jogadores emprestados dos grandes.

    Disto não podemos falar de há uns 20 anos atrás, porque tínhamos uma grande equipa. O Parma não deixa nenhum fã de futebol internacional dos anos 80 e 90 indiferente. O peso da história deste clube e das famosas camisolas azuis e amarelas, ou branca com a cruz preta ao meio, são certamente aliciantes para alguns dos novos jogadores do clube. Passemos a um ‘throwback’ daqueles deliciosos.

    Foi este o clube que deu a conhecer ao mundo Gianluigi Buffon que foi protagonista da primeira grande transferência de um guarda-redes. Em 2001 foi para a Juventus a troco de 52 milhões de euros. Tinha 23 anos. Houve outros grandes futebolistas do futebol italiano em Parma: Carlo Ancelotti, Gianfranco Zola; Fabio Cannavaro; Alberto Gilardino; Enrico Chiesa; Marco Di Vaio; Giuseppe Rossi; Antonio Cassano e Daniele Bonera são alguns dos nomes.

    Cannavaro, Buffon, Thuram, Crespo ou Véron… Classe para dar e vender
    Fonte: UEFA

    Também se falou português em Parma. A primeira aventura de Fernando Couto no estrangeiro foi por lá. O antigo defesa da Seleção Nacional jogou por este clube entre 1994 e 1996 e mais tarde entre 2005 e 2008. Sérgio Conceição, agora treinador do FC Porto, vestiu a camisola do Parma na temporada 2000/2001. Os brasileiros Adriano ‘Imperador’, Claudio Taffarel e Amoroso também por lá andaram.

    O avançado romeno Adrian Mutu, o japonês Nakata, os argentinos Crespo, Ortega, Verón e o defesa francês Lilian Thuram também fazem parte da constelação que foi o Parma.

    Não foram só nomes. Também houve títulos, mas nunca um scudetto. Os momentos altos do Parma foram a conquista da Taça UEFA em 1995 e 1999 e uma Supertaça Europeia em 1993. Chegar perto disto vai demorar muitos anos à equipa parmesã, mas por enquanto, bem-vindos novamente!

     

    Foto de Capa: Parma Calcio 1913

    Artigo revisto por: Jorge Neves

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    Francisco Correiahttp://www.bolanarede.pt
    Desde os galácticos do Real Madrid, do grandioso Barcelona de Rijkaard e Guardiola, e ainda a conquista da Liga dos Campeões do Porto de Mourinho em 2004, o Francisco tem o talento de meter bola em tudo o que é conversa, apesar de saber que há muitas mais coisas que importam. As ligas inglesa e alemã são as suas predilectas, mas a sua paixão pelo futebol português ainda é desmedida a par com a rádio. Tem também um Mestrado em Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa.                                                                                                                                                 O Francisco não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.