Foi isto o Mundial: o que fica do que passa

    Genérico ao estilo de Game of Thrones. Música épica em vez de comercial. Vídeo-árbitro. Cinco golos logo a abrir. Jogos à tarde. Ronaldo é um monstro, visto do Terreiro do Paço. Argentina não se vê da Islândia. Nenhuma das favoritas convence. Autogolo. Neymar rebola. Ronaldo é mesmo um monstro. Trivela. A fé de 2016 parece não ser suficiente. Vuvuzelas? Coreia arruma os alemães.

    Não há africanos. Adepto mexicano usa credenciais de uma família distante. Autogolo. Japoneses limpam bancadas. A fé de 2016 não era mesmo suficiente, contra uma equipa que o foi. Neymar rebola. Espanha tem saudades de outros tempos. Mbappé. Sampaoli nunca jogou xadrez, Messi quer jogá-lo em vez de futebol. Batshuayi remata contra si próprio. Schmeichel é uma parede, com uma parede sénior a ver. Japoneses deixam o balneário limpo e agradecem.

    Pickford. It’s coming home. Autogolo. Foi contra este Uruguai que perdemos? Courtois. Neymar rebola para fora da competição. Rússia sai de cabeça levantada. It’s really coming hom… not. Geração de ouro de pequenos belgas. Não filmem mulheres giras, o futebol é mais bonito. Autogolo. Penálti. Tiro. Tiro. Tiro. Frango, depois das estiradas. França tem os melhores e está mais crescida. A taça vai para o Louvre.

    «Autogolo. Penálti. Tiro. Tiro. Tiro. Frango, depois das estiradas. França tem os melhores e está mais crescida. A taça vai para o Louvre.»

    Foi isto o Mundial. Falta alguma coisa? Não falta, deixei para o fim. Croácia. Desde o EURO 2008 que passou a estar na minha lista de seleções acarinhadas. Não sei porquê, achava que o azul combinava bem com o xadrez vermelho-e-branco. Em 2016 foram a equipa em quem apostei mais vezes no Placard. Devia tê-lo feito também este ano, mas estava distraído a ver o rapaz da foto.

    Não é um ídolo para mim, nem estará na minha lista de cinco jogadores favoritos, mas é um regalo. O 10 mais puro do mundo. Respira futebol. Sem mariquices, sem arrogância. Simples. Bonito. Criativo. Muitas vezes ouvi o meu pai falar de jogadores que, tendo sido estrelas à sua época, se desvaneceram na corrida do tempo. Bergkamp. Iordanov. Poborsky. Até Cruyff.

    Muitos outros. Oásis de futebol, mas que ficam na sombra dos Ronaldos, Messis, Pelés e Maradonas. Este junta-se a essa lista de anónimos. Irei falar muito de ti com os meus filhos, Luka. E sempre que me lembrar deste Mundial, vou lembrar-me de ti. Do teu Mundial. E do da Croácia. E do da França, depois de nós. Do da França dos meus primos, a falar com eles no chat. Parabéns para eles, que mereceram!

    Do Mundial dos guarda-redes. Dos underdogs. Do da minha cobertura jornalística através de um ecrã, que, quem sabe, possa quebrar em 2020 ou 2022. Aí te espero, Wembley e Qatar. Obrigado por este mês, bem bonito.

    «O 10 mais puro do mundo. Respira futebol. Sem mariquices, sem arrogância. Simples. Bonito. Criativo.»

    P.S.: Antes de voltarmos para as malas, os vouchers, as contagens de adeptos em treinos, as operações, os polvos, os anti-jogos, só um recado para dentro: há dois anos foi bonito. A chave foi a união, a fé e um travo de sorte. Como estes podem falhar facilmente, talvez seja melhor apostar também no conteúdo. E não ter medo. Dar tudo. No Mundial dos underdogs, pouco bastava para repetir a façanha.

    Foto de Capa: Michael Regan – FIFA/FIFA via Getty Images

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    André Maia
    André Maiahttp://www.bolanarede.pt
    Durante os seus primeiros seis anos de vida, o André não ligava a futebol. Até que no dia 24 de junho de 2004, quando viu o Ricardo a defender um penálti sem luvas, se apaixonou pelo jogo. Amante da história de futebol e sempre com factos na ponta da língua, tem Cristiano Ronaldo e Rui Patrício como os seus maiores ídolos.                                                                                                                                                 O André escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.