Dos eliminados também reza a história

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    Dizem que dos vencidos não reza a história, mas eles deixam sempre marcas. E é injusto que a história se esqueça deles. Felizmente isso não acontece, pois toda a gente se lembra da Itália de 1994, que perdeu, nos penalties, o Mundial e, continuando a olhar através da história dessa competição, toda a gente se lembra da Holanda de 1974, batida, na final, pela Alemanha.

    Não precisam, porém, de ser os finalistas a ser recordados. Quem não se lembra da fantástica campanha europeia do APOEL em 2011/2012, apenas travada pelo Real Madrid nos quartos-de-final da Liga dos Campeões? E da excelente imagem deixada pela Argélia no Mundial do ano passado?

    São exemplos recentes, é verdade, mas elucidativos de que não só dos vencedores se recordam aqueles que revisitam a história. Estão todos relacionados com grandes competições e isso devia começar a mudar. Assim, este artigo tem por inteção a recordação de duas selecções já eliminadas do Mundial de Sub20 deste ano, ainda em curso, mas que deixaram a sua marca (boa ou má) na história desta competição:

    Argentina

    Começando pelo menos agradável, é justo dizer que a sobranceria paga-se caro. Não houve a devida preparação emocional entre os miúdos argentinos, de quem muito se esperava – não só pelo facto de a Argentina ter conquistado dois Mundiais de Sub-20 neste século, mas também pelo facto de estes mesmos jogadores terem vencido o Sudamericano (competição de selecções Sub-20 sul-americanas) há coisa de 4 meses atrás, com um domínio absoluto na competição – quatro vitórias e um empate em 5 jogos na segunda fase, nos quais apontou 10 golos e apenas sofreu 2.

    Mesmo sem o peso da tradição ou da conquista de um título recente, esta era uma equipa em quem muitos analistas depositavam esperanças, sendo muitas estrelas argentinas apontadas como possíveis protagonistas da competição – Ángel Correa (Atlético de Madrid), Giovanni Simeone (River, melhor marcador do Sudamericano) ou Tiago Casasola (Fulham) são alguns exemplos.

    Bem, protagonistas foram, mas pelos piores motivos. A passividade com que a Argentina abordou os encontros com o Panamá ou com o Gana foi por demais evidente. No primeiro encontro houve imenso relaxamento quando a equipa se viu em vantagem e o encontro terminou empatado a 2, no segundo, a equipa deu parte e meia de avanço, mas quando acordou já perdia por 3-0 e o resultado ficou em 3-2. No último jogo, correndo contra o prejuízo, massacrou a Áustria, mas o nulo persistiu, como que a vincar que era tarde para modificar a atitude sobranceira com que encararam os jogos contra selecções teoricamente acessíveis.

    Os ucranianos caíram nas grandes penalidades frente ao Senegal Fonte: FIFA
    Os ucranianos caíram nas grandes penalidades frente ao Senegal
    Fonte: FIFA

    Ucrânia

    Passando para algo mais agradável, a Ucrânia foi das selecções que melhor desempenho teve neste campeonato do Mundo até ao momento, e isso inclui o jogo contra o Senegal, no qual foi eliminada.

    Esta equipa é a mesma que já tinha dado nas vistas no Euro de Sub19 do ano passado, revelando uma notável organização defensiva que quase lhe garantiu o apuramento para as meias-finais da prova, não fosse a “inevitável” derrota para a campeã Alemanha.

    Neste Mundial parece ter crescido e, acima de todas as outras coisas, revelou rapidez. Não pela velocidade dos seus jogadores com bola, mas sim pelo que faziam sem ela. A resposta à perda de bola era quase imediata e o figurino táctico moldava-se de forma fluída e eficaz. Algo que impressionou por surgir num nível de formação.

    Assim, foi “fácil” quase não sofrer golos, ainda que para isso também tenham contribuído as boas exibições do guarda-redes Sarnavskiy.

    Destaque ainda para Kovalenko, um médio com grande propensão ofensiva (é, actualmente, o melhor marcador do torneio – apontou 5) e excelente cultura táctica, e Luchkevych, jogador do Dnipro, finalista da Liga Europa, lateral/extremo com uma noção invulgar (para a idade) de todos os momentos do jogo a que alia a facilidade com que causa desequilíbrios à pressão alta que é capaz de exercer e que impedia, muitas vezes, a construção contrária.

    Duas selecções que surpreenderam. Uma por ter sido eliminada precocemente, a outra por revelar uma maturidade táctica acima da média. Mesmo sem mais jogos por disputar, são já figuras da edição de 2015 do Mundial de Sub20.

    Foto de Capa: Facebook de Ángel Correa

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