Mundial 2015 de Andebol: aproxima-se o momento decisivo

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    Qatar, Polónia, Espanha e França. São estes os quatro apurados para as meias-finais do Mundial de Andebol. Um deles sagrar-se-á campeão do mundo. Os asiáticos recebem a competição e nunca tinham ido tão longe na prova, os polacos têm pouco a perder, mas será provavelmente da meia-final entre Espanha e França que sairá o campeão. Amanhã jogam-se as duas partidas das meias finais. Façamos, pois, o ponto da situação:

    Qatar

    Um caso escandaloso e que marcará para sempre este Mundial: 10 dos 17 jogadores do Qatar são naturalizados, e alguns já contam inclusivamente com presenças pelas suas selecções respectivas. Aproveitando uma grave falha nas regras, a federação deste país com pouca tradição no andebol comprou a nacionalidade de vários jogadores estrangeiros para fazer boa figura no “seu” Mundial. Como se não bastasse, no jogo dos quartos-de-final contra a Alemanha o Qatar foi claramente beneficiado, conforme se pode ler aqui.

    Ainda assim, os comandados de Valero Rivera tiveram o mérito de terminar a fase regular em 2º – apenas atrás da Espanha, com quem perderam por 25-28 no penúltimo jogo dos grupos. De resto, só vitórias: contra Brasil (28-23), Chile (27-20), Eslovénia (31-29) e Bielorrússia (26-22), nesta última partida virando um resultado de 7-12 que se verificava ao intervalo. Nos oitavos-de-final afastaram a Áustria (29-27) e, na ronda seguinte, superiorizaram-se à Alemanha (26-24), nesse tal jogo polémico. De resto, como curiosidade, importa realçar o facto de o Qatar ser a única equipa deste Mundial que teve sempre menos jogadores excluídos do que o seu opositor.

    Quanto a destaques individuais, Zarko Markovic, ex-Montenegro, é o 2º melhor marcador da competição e o melhor em prova (55 golos/102 remates; eficácia de 53,92%). O lateral-direito tem estado em evidência, sendo também o jogador da sua equipa que mais assistências faz (21). Na defesa, o lateral-esquerdo de origem egípcia Hassan Mabrouk destaca-se com 12 roubos de bola em 7 jogos, sendo o pilar de maior referência na defesa da baliza de Danijel Saric (49 defesas/135 remates na sua direcção; 36% de eficácia). Nota ainda para o lateral cubano Rafael Capote, autor de 12 incríveis golos contra a Eslovénia e de 8 contra a Alemanha.

    Com mais ou menos ajudas, a verdade é que a surreal “sociedade das nações” do Qatar já provou que é melhor do que muitas equipas europeias. Além disso, há que ter ainda em conta o factor-casa. A meia-final com a Polónia será sem dúvida um jogo interessante de seguir.

    Polónia

    Depois de duas campanhas relativamente discretas nos dois últimos Mundiais – no seguimento de um 2º lugar em 2007, a melhor classificação internacional de sempre do país, e de um 3º em 2009 – a Polónia garantiu pelo menos o 4º lugar e não terá muito a perder. No entanto, o facto de os seus opositores nas meias-finais serem os qataris abre-lhe seguramente melhores perspectivas do que se jogasse com a Espanha ou a França.

    Com o emblemático Slawomir Szmal na baliza (52/164; 32%), as duas maiores figuras do conjunto de Michael Biegler têm sido, para não variar, os irmãos Juriecki: o pivot Bartosz, que completará 36 anos na véspera da final, é o melhor marcador da equipa (28/35; 80%), e o lateral-esquerdo Michal destaca-se tanto no capítulo ofensivo (7 assistências) como a defender (7 blocos realizados com êxito). Há ainda Karol Bielecki, poderoso lateral que ajudou o Kielce a chegar ao 3º lugar da Liga dos Campeões em 2013.

    O percurso dos organizadores do Europeu do próximo ano não começou muito bem, mas foi melhorando. Duas derrotas compreensíveis contra Alemanha (26-29) e Dinamarca (27-31), uma vitória à tangente contra a surpreendente Argentina (24-23), um triunfo contra a decepção Rússia (26-25) e uma goleada (32-13) frente à fraca Arábia Saudita levaram o país ao 3º lugar do grupo. Na fase a eliminar, tanto a excelente vitória frente à Suécia (24-20) como o triunfo emotivo contra a Croácia (24-22) provam que os polacos estão a subir de forma.

    Apesar de o Qatar jogar em casa, diria que a Polónia é ligeiramente favorita. No entanto, seja qual for a equipa que siga em frente nesta eliminatória, será sempre o elo mais fraco da final. O caso da Dinamarca, por exemplo, é claro: a equipa mostrou mais potencial, mas teve o azar de cruzar com a Espanha na fase a eliminar.

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    Qatar, Polónia, Espanha ou França: quem se sagrará campeão mundial?

    Espanha

    Com a dissolução do At. Madrid e do Valladolid, o campeonato espanhol tornou-se um passeio para o Barcelona. Nomes incontornáveis como Maqueda, Aguinagalde, Ugalde ou Cañellas viram-se obrigados a abandonar aquela que foi em tempos considerada a melhor liga do mundo. No entanto, a elite do andebol do país vizinho parece não se ressentir: campeões mundiais em 2013, os espanhóis querem defender o título e fazer esquecer o 3º lugar no europeu do ano passado. E haverá algo melhor do que consegui-lo à custa da França, responsável pela eliminação dos homens de Manolo Cadenas em 2014?

    Apresentando um andebol agressivo tanto a atacar como a defender, a Espanha é, sem sombra de dúvidas, uma grande candidata a vencer a competição. Para isso terá, contudo, de vencer a França, naquela que será a sua segunda final antecipada – depois de bater a Dinamarca na última ronda (25-24). Antes disso, vitórias contra Bielorrússia (33-28), Brasil (29-27), Chile (37-16), Qatar (28-25), Eslovénia (30-26) e, já nos oitavos, Tunísia (28-20).

    O ponta Valero Rivera tem estado em grande e é o segundo melhor marcador ainda em prova (39/47; 82,98% – incríveis 10 golos em 11 remates à Dinamarca), servido sobretudo pelo central Raul Entrerríos (27 assistências). Defensivamente, a solidez do bloco espanhol é personificada sobretudo pelos gigantes Morros de Argila e Gedeón Guardiola, aos quais se junta ainda o potente Jorge Maqueda, que resolveu o jogo com os dinamarqueses. Na baliza, Pérez de Vargas (70/78; 39%) tem estado a um nível altíssimo e pouco comum num guardião tão novo. A Espanha tem, portanto, um plantel riquíssimo que lhe permite sonhar com a revalidação do título mundial.

    França

    Se a Espanha quer vingar a eliminação do Europeu de 2014 às mãos dos franceses, estes quererão corrigir a derrota com os espanhóis na final do Mundial 2013. País com pouca tradição durante as primeiras décadas da modalidade, nos últimos 20 anos a França já conquistou 4 Mundiais, 3 Europeus e 2 Jogos Olímpicos. Caso se sagre campeã no Qatar, passará a ser o país mais bem-sucedido de sempre. Mas, para que tal aconteça, é preciso suplantar a Espanha numa meia-final escaldante e imprevisível.

    Até aqui, os franceses apenas tremeram com a Islândia no terceiro jogo (26-26), tendo vencido a República Checa (30-27), o Egipto (28-24), a Argélia (32-26) e a Suécia, o principal opositor do grupo (27-25). Garantido o 1º lugar, a França afastou depois com facilidade a Argentina nos oitavos (33-20) e a Eslovénia nos quartos (32-23). Pode dizer-se, portanto, que a prova de fogo para os comandados de Claude Onesta começa agora.

    Esta equipa mantém o núcleo duro de anos anteriores, o que lhe confere uma enorme estabilidade. Porém, o nível individual não é menos impressionante. Para se ter uma ideia, três dos convocados já venceram o prémio de Melhor Andebolista do Mundo: Nikola Karabatic (2007), Thierry Omeyer (2008) e Daniel Narcisse (2012). O central N. Karabatic é, de resto, o jogador francês que mais passes para golo efectua (19), embora a qualidade desta equipa não se esgote nestes três atletas. Michaël Guigou, ponta-esquerda do Montpellier, é o melhor marcador (28/36; 77,78%), e tanto os já mencionados Narcisse e Omeyer (76/210; 36%) como Xavier Barachet (7 roubos de bola) garantem serenidade, critério e qualidade na defesa. O jogo exterior da equipa foi comprometido pela ausência de Luc Abalo, mas tanto Guillaume Joli (incríveis 84,38% de eficácia de remate) como Valentin Porte têm estado à altura. É importante não ignorar também a boa forma do pivot Cédric Sorhaindo e o agradável aparecimento do jovem ponta Kentin Mahê.

     

    Pela qualidade individual e colectiva dos franceses, bem como pela experiência acumulada, aposto neles para vencerem o Mundial. Contudo, a Espanha também está muito forte e tem reais hipóteses de bater os franceses. O que é praticamente certo é que o novo campeão do mundo sairá desta estrondosa meia-final entre França e Espanha. Que comecem os jogos decisivos!

     

    Fotos: Facebook da IHF
    Facebook da Real Federación Española de Balonmano
    Site da Federação Qatari de Andebol (qatarhandball.com)

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