O draft da NBA é a grande representação das pretensões de competitividade que esta liga promove praticamente desde a sua génese. Privilegiando as equipas com piores resultados na escolha dos novos atletas aproxima o fundo do topo da tabela. Uma meritocracia inversa que sempre tentou encurtar distâncias e, tanto quanto possível, promover a rotatividade de sucessos. O modelo de hoje é complexo e muito afinado, aperfeiçoado nas últimas quatro décadas, mas nem sempre foi assim. Desde 1966 instaurou-se um sistema que duraria 19 épocas: as duas piores equipas de cada conferência disputavam entre si uma “moeda ao ar” para decidir quem levaria a primeira escolha. Simples.
Em 1969 deu-se um dos mais curiosos casos deste modelo, conhecido como First Pick Coin Flip. A 19 de março em Nova Iorque o futuro da liga estava prestes a ser alterado por uma moeda de 50 centavos. Milwaukee Bucks e Phoenix Suns partilhavam ligação com o comissário Walter Kennedy. Rodou no ar, caiu no chão, e o comissário exclamou o resultado: COROA! Festa em Milwaukee, os veados ganharam, tinham a primeira escolha do draft daquele ano.
Este não era um draft normal, era o draft que trazia para a NBA o jogador mais impressionante e mais dominante alguma vez visto no basquetebol universitário. Lewis Alcindor como foi conhecido até 1971, vinha de uma carreira impressionante na UCLA, ganhando por três vezes consecutivas a NCAA, entre 67 e 69, sendo em todas elas considerado o melhor jogador da competição e o melhor jogador da final-four. Os Bucks tinham ganho o melhor jogador da sua história.
Foi em 1971 que ganhou o seu primeiro anel, e primeiro e único campeonato para o franchise de Milwaukee. MVP e Finals MVP desse ano, na sua terceira época como profissional, dominava a liga a seu belo prazer. Esse ano marcou também a sua mudança de nome, seria como Kareem-Abdul Jabbar que o mundo inteiro o conheceria como um dos melhores jogadores da história do basquetebol. O seu lançamento característico eternizado como skyhook, é ainda hoje visto como um dos movimentos mais eficazes e difíceis de defender de sempre.
Quatro anos volvidos uma troca levou-o para Los Angeles, onde sempre desejou jogar, para ao serviço dos Lakers formar uma das equipas mais espectaculares e bem sucedidas de sempre. Mais tarde chegou Magic Johnson e os Show-Time Lakers estavam prontos para abalar o mundo do desporto. Kareem despediu-se com 6 títulos, 6 MVP’s, o melhor marcador da história da competição, maior numero de lançamentos concretizados, atleta com mais minutos jogados, e muito mais. Um jogador que marcou mais que uma época, marcou uma modalidade. Naquela noite, em 69, uma moeda ditou mais que uma escolha. Ditou o destino de um fora de série, um atleta especial.
Foto de Capa: NBA