Por favor, vamos meter as polémicas e as suspeições de parte, sim? Considerando o que foi o ano de Froome, era difícil dar esta “distinção” a outro que não o britânico, principalmente, entre outros fatores, por ter conseguido realizar um feito incrível ligado ao facto de ter vencido duas Grandes Voltas seguidas num só ano.
A temporada do britânico até não começou com grandes destaques. Esteve no top’10 de uma prova na Austrália e depois foi para Espanha (Volta à Catalunha), onde até podia ter conquistado 2 etapas, não fosse a BMC (no contrarrelógio coletivo) e Valverde a tirarem-lhe essa possibilidade. Quando se previa que fosse disputar a vitória até ao fim, acabou por ficar muito para trás numa etapa importante e apenas esteve perto de levar a camisola da montanha para casa, que também acabou por ir para Valverde.
Depois esteve no Tour de Romandie e voltou a estar discreto, apenas mostrando um pouco da sua qualidade no contrarrelógio individual. A partir daí é que começámos a ter um Froome mais normal, principalmente pela proximidade do Tour e da sua preparação estar a ir ao encontro dessa mesma prova.
O Critérium du Dauphiné demonstrou já um Chris Froome mais em forma e preparado para o Tour que iria ter. Notou-se que não estava no pico de forma – expectável – mas já conseguiu realizar uma corrida muito mais constante e esteve quase no pódio final, ficando com o quarto lugar na geral a apenas 1 segundo do terceiro classificado.
E chegou o Tour de France e com ele novamente um domínio da Sky e de Froome. Mesmo não tendo ganho qualquer etapa, foi muito mais regular do que qualquer outro e aproveitou o contrarrelógio no final da prova para selar qualquer dúvida que houvesse. Uran foi o seu rival mais próximo, algo que nem se previa no início da prova. Aliás, a restante concorrência ficou a mais de 2 minutos de distância, sendo que a Sky ainda se deu ao “luxo” de ter um homem em quarto lugar (a 1 segundo do pódio!) e outro no top’15, vencendo igualmente e confortavelmente a classificação por equipas.
Após a sua quarta vitória – e terceira seguida – na Volta à França, um ciclista “normal” já poderia estar plenamente satisfeito e ter a época quase feita, mas a verdade é que um ciclista como Froome tem sempre objetivos mais elevados e para se juntar definitivamente às lendas do ciclismo precisa de realizar ainda registos mais incríveis, não só em termos de palmarés como também em termos de recordes.
Assim foi e assim partiu o britânico para uma aventura em Espanha que o fizesse “vingar” finalmente os segundos lugares de 2016, 2014 e 2011. Após um contrarrelógio coletivo dentro das expetativas e que permitiu um bom começo de prova, Froome foi reagindo bem aos acontecimentos e, mais uma vez, não só demonstrou ser o mais regular (a “pior” classificação dele, em todas as etapas, foi 32.º e foi numa etapa que terminou com a vitória de uma grande fuga), como também conseguiu juntar vitórias em etapa à sua vitória na geral.
Bateu toda a concorrência numa etapa com chegada no alto e depois nem deu hipóteses no longo CR que houve, conseguindo ganhar ainda mais tempo a todos os adversários. Este tipo de provas, geralmente, são ganhas por quem é mais “all-rounder” e Froome, neste momento, demonstra ser o melhor de todos – Tom Dumoulin, por exemplo, até já mesmo durante este ano, poderá ameaçar isso se realmente se comprovar a sua boa evolução.
Desde … que ninguém vencia de forma consecutiva uma Grande Volta e Froome fê-lo em pleno 2017. Para terminar o ano em grande, conseguiu duas medalhas de bronze nos Mundiais. A primeira foi com a equipa e a segunda foi de forma individual, onde por pouco não foi surpreendido pelo português Nélson Oliveira, que fez uma excelente prova e ia ficando com o último lugar no pódio.
Para a próxima época, o grande objetivo de Froome é conquistar outra dobradinha diferente: Giro e Tour. Infelizmente, neste momento, ainda não é possível saber se isso realmente irá ser concretizado, devido às polémicas existentes e que já foram esmiuçadas o suficiente para voltar a estar aqui a colocá-las. Até prova em contrário, Froome foi “rei e senhor” em 2017 e prepara-se para voltar a tentar sê-lo em 2018. Veremos se ele e a Sky voltarão a estar ao nível desejável para mais feitos incríveis no ciclismo mundial.
Por fim, Chris Froome terminou então este 2017 com o segundo lugar no ranking da UCI, apenas superado pelo belga Greg van Avermaet. Num possível pódio em termos de melhores ciclistas do ano, completaria o mesmo com a presença em segundo lugar do (tri)campeão do mundo Peter Sagan (mais um excelente ano para um dos ciclistas mais entusiasmantes e confiantes do mundo – só lhe faltou ter destaque em Grandes Voltas, sendo que foi desclassificado do Tour no dia após ter vencido a primeira de algumas etapas das quais se esperava que Sagan vencesse) e em terceiro lugar ficaria o fortíssimo Tom Dumoulin, que até de forma surpreendente – ou não – finalmente venceu uma Grande Volta e, com a conquista do Giro, demonstrou que Froome poderá ter um rival à altura nos próximos anos (além do Giro, ainda conseguiu ser campeão do mundo nos contrarrelógios coletivo e individual).