Liga Fut7: Quem ganha é o desporto

    É no campo dos Unidos da Pontinha que se jogam todas as decisões. A tarde é de sol, e os intervenientes começam a chegar. Falamos da fase final da Liga de Futebol 7, organizada pela SideLine. Mas em que consiste? A SideLine é uma empresa de organização de eventos, quer desportivos, quer de outro cariz, e organiza, há quatro anos, o campeonato de futebol de 11 empresarial. Como forma de complementar a liga, foi criado este mini-campeonato no final da época, para garantir que as equipas tenham ritmo durante as férias. Nas palavras de Vitor Alves, CEO da SideLine , este torneio de futebol 7, que já vai na segunda edição, tem sido um sucesso. “Das 30 equipas do campeonato de futebol 11, oito mostraram-se interessadas. O nosso objectivo é promover a camaradagem e o desportivismo. São esses os valores presentes, mas, como em qualquer prova, há sempre ambição e todas as equipas querem ganhar. ” Neste segundo ano da prova, os moldes são diferentes. Dois grupos numa primeira fase e depois eliminatórias para se decidir os finalistas, ao contrário do antigo molde, de um campeonato a duas voltas.

    Vítor Alves, o CEO da SideLine Foto: Ricardo Pais
    Vítor Alves, o CEO da SideLine
    Foto: Ricardo Pais

    Ricardo Fonseca, gestor de projectos, explica as mudanças. “Este novo formato aumenta a competitividade e faz com que todas as equipas tenham hipóteses. Mesmo não terminando em primeiro no grupo, é sempre possível sonhar com o título. No antigo molde, corríamos o risco de o último classificado não aparecer ou jogar sem motivação num jogo importante na luta pelo título. Daí estas mudanças”. O fair-play e a camaradagem estão sempre presentes. “Observamos sempre o comportamento dos jogadores em campo, principalmente de equipas novas e que se queiram inscrever na Liga de futebol de 11. Qualquer conduta agressiva é punida com três ou quatro jogos, para darmos a entender ao jogador que esse não é o caminho que queremos”, afirma Ricardo Fonseca.

    Calendário de jogos:

    7.º/8.º lugar: NG Remax vs C.D. Olivais e Moscavide

    5.º/6.º lugar: Vodafone vs Emel

    3.º/4.º Fidelidade vs Biqueiras Aço

    Final: G.D. M.P.L. vs CARRIS

    Camaradagem, desportivismo e convívio são as palavras de ordem nesta prova e isso é notório desde o primeiro momento. Treinos ou jogos, estes valores estão lá. Há as habituais bocas e discussões de quem joga futebol, mas é tudo entre jogadores que já se conhecem há algum tempo. Rivais dentro de campo mas amigos dentro e fora dele. O primeiro jogo é entre o NG Remax e o Olivais e Moscavide, pelo 7.º lugar. Uns quilos a mais, a idade também já não perdoa, mas há ali vontade de se fazer aquilo de que mais se gosta e com alguma qualidade. Há livre, e é o numero 16 do Olivais e Moscavide (um dos melhores em campo para o conjunto da zona da Expo) que abre o marcador num grande pontapé. O jogo está vivo; o guarda-redes da equipa lisboeta mostra que a idade é apenas um número, ao segurar o resultado com algumas defesas brilhantes. Ouve-se no banco de suplentes “E anda o Benfica atrás de um guarda-redes, com este aqui”. É a boa disposição que caracteriza esta prova.

    Mas nem o número 19 nem o guarda-redes fazem valer ao Olivais e Moscavide. Ninguém acompanha o ataque pela esquerda e os jogadores estão demasiado juntos. Ninguém abre o jogo, ninguém se desmarca. Já os homens da Remax sabem o que fazer em campo e não lutam apenas pelo 7.º lugar. Nuno Duarte pode acabar como melhor marcador da prova, só precisa de três golos. Fruto de jogadas bem trabalhadas e ataques rápidos, o NG Remax chega ao intervalo por 4-1. Uma reviravolta justa no marcador. Já Nuno Duarte só está a um golo do objectivo. Vindo de lesão, o número 9 da Remax chega ao topo de melhores marcadores no segundo tempo. O guarda-redes da imobiliária também vai mostrando serviço, com algumas defesas, mas já não há nada a fazer para o Olivais e Moscavide. No final, o 6-2 para o NG Remax dá o 7.º lugar a estes, mas todos saíram vencedores de um jogo que, mais do que definir lugares, juntava amigos.

    O golo de livre do Olivais e Moscavide Foto Ricardo Pais
    O golo de livre do Olivais e Moscavide
    Foto Ricardo Pais

    No rescaldo, o responsável da Remax achou que foi um “jogo difícil devido ao calor”, mas em que a vitória foi justa. O segredo, afirma, “foi a rodagem de jogadores com o calor que se sentia”, mas realça a boa réplica do Olivais e Moscavide, equipa que já tinham defrontado três vezes. O balanço “acaba por ser positivo”, isto apesar de na edição passada terem conseguido o 3.º lugar. Agora é tempo de descansar, mas sem a certeza da participação no campeonato de futebol de 11, pois “faltam patrocínios e sem eles é complicado”.

    Do lado do Olivais e Moscavide “faltaram alguns elementos do grupo que joga futebol 11 e já conheciam o adversário”; quem sabe, com esses jogadores, a partida “poderia ter sido mais nivelada”. Ainda assim, o que interessa é ver como “o pessoal de mais idade se mantém activo, mesmo defrontado jovens de 20 anos”. Para o ano, o objectivo do clube é esse mesmo, continuar a fazer com que as pessoas pratiquem desporto e convivam, sempre dignificando o clube.

    Falámos também com Nuno Duarte, o melhor marcador da prova. O seu colega diz ser também o seu empresário e está disposto a negociar um contrato milionário. A sua mulher liga-lhe. “Já estou atrasado, vai dar-me na cabeça”. Entre as gargalhadas destes episódios, Nuno afirma que ser o melhor marcador da prova “é um trabalho de equipa que já deu frutos o ano passado”. Mesmo tendo estado parado por lesão, “o jogo correu bem e este é um prémio para a equipa”. Ainda assim, afirma que a equipa esteve abaixo do que esperavam, e isso deveu-se à condição física dos jogadores. Para o ano, fica a promessa de tentar fazer golos, mas o que interessa é ajudar a equipa.

    Nuno Duarte consagra-se o melhor marcador da prova
    Nuno Duarte consagra-se o melhor marcador da prova
    Foto: Ricardo Pais

    Mas como funciona a preparação destas equipas, sendo elas amadoras?

    Sendo os atletas trabalhadores das empresas que representam, os treinos são à noite durante os dias da semana. “São treinos onde o objectivo é descomprimir do trabalho, promover a união e espírito de equipa e manter o pessoal em forma”, afirma o responsável da Vodafone. Também da parte da EMEL a ideia é a mesma. “Queremos sair da rotina do trabalho e os treinos ajudam o pessoal a conhecer-se melhor e a criar um bom grupo de amigos.”

    Todos os responsáveis passam pelas mesmas dificuldades. “Nem sempre é fácil conciliar os treinos com os horários de trabalho”, afirmam. Mas os treinos correm sempre bem. “O importante aqui é o pessoal manter o contacto uns com os outros”, refere um dirigente do Olivais e Moscavide. A boa disposição e a vontade de jogar à bola entre amigos superam sempre as dificuldades.

    Para isso muito se deve o apoio das empresas a este projecto. O Clube Vodafone apoia no que for preciso os seus trabalhadores, ex-trabalhadores e associados. Tudo em nome da prática desportiva. Também a CARRIS apoia os seus atletas e não só no futebol. “A CARRIS dá-nos condições para treinarmos duas vezes por semana. Como existem mais modalidades na empresa e devido à situação do país, nem sempre é fácil garantir ajudas para todos, mas a empresa vai ajudando no que pode.”

    Vodafone vs EMEL Foto: Ricardo Pais
    Vodafone vs EMEL
    Foto: Ricardo Pais

    Chegámos à disputa pelo 5.º e 6.º lugares. Vodafone e EMEL jogam entre si. A equipa ligada aos parques de estacionamento é estreante neste tipo de competições e procura participar na próxima edição de futebol de 11. Ricardo Fonseca, da SideLine, não tem dúvidas de que esta equipa vai participar. “Tiveram uma boa prestação nesta prova, estiveram bem disciplinarmente e estão dentro daquilo que se pretende para esta prova. Tenho a certeza de que receberão um convite nosso para participarem no próximo campeonato”.

    O futebol é mais técnico e mais físico. A idade continua a pesar, mas o talento está lá. Os guarda-redes vão brilhando, com grandes defesas. O jogo acaba com um 6-0 para a equipa da Vodafone. A diferença entre as duas equipas é notória; a Vodafone joga junta há mais tempo, enquanto a EMEL formou agora o seu grupo e só contou com sete jogadores, e isso fez a diferença. No entanto, a EMEL deixou bons apontamentos para uma futura participação no campeonato.

    Para o responsável da EMEL, a derrota deve-se aos poucos atletas que tinham à disposição. “Tive de jogar à baliza, posição que não é a minha”. Mas o balanço é positivo para este grupo formado recentemente. “O que nós queremos é divertirmo-nos e jogar à bola, portanto foi bom. Encontrámos equipas que jogam o ano inteiro e que têm mais rotinas do que nós. Nós formámos o grupo agora, mas correu bem, tivemos uma boa atitude, muita entrega e eu gosto de que este grupo seja à minha imagem. Eu dou tudo em campo e eles hoje também o fizeram. Encontrámos pessoas bastante simpáticas e não houve confusão, que é o mais importante”.

    Para o responsável da Vodafone, mais do que acabar em 5.º, o importante são os resultados sociais desta prova. “Fomos uns vencedores justos e o balanço é positivo, por termos começado em 8.º e acabarmos em 5.º. Mas para nós é sempre um balanço positivo, porque, independentemente dos resultados desportivos, os resultados sociais são muito importantes. Obviamente que entramos sempre para ganhar, mas mais importante é o pessoal se divertir”.

    O jogo do 3.º e 4.º lugares não se realizou. A equipa do Biqueiras Aço, que conta com alguns ex-jogadores da Primeira Divisão de futebol, como Jorge Andrade, não compareceu por não conseguir juntar jogadores suficientes. Assim, o 3.º lugar ficou para a Fidelidade, que não precisou de comparecer em campo. “Por uma questão de bom senso, decidimos assim. Não fazia sentido os jogadores da Fidelidade estarem a deslocar-se até ao estádio, a equiparem e a darem o pontapé de saída. Deixámos essas burocracias de lado e entregámos o 3.º lugar à Fidelidade”, afirma Vítor Alves, o CEO da SideLine.

    MPL unido em busca da vitória Foto: Ricardo Pais
    MPL unido em busca da vitória
    Foto: Ricardo Pais

    Chegava a tão esperada final. De um lado, o Grupo Desportivo MPL, um dos favoritos à conquista; do outro lado, a CARRIS, um outsider, que muitos não esperavam que chegasse à final, tendo eliminado outro grande favorito, o Biqueiras Aços. Seja numa prova amadora ou numa prova profissional, as finais não se jogam, ganham-se. A velha frase cliché aplica-se na perfeição aqui. Intensidade e raça eram presença num jogo que decidia tudo. Os jogadores deixavam tudo em campo, por vezes de forma exagerada. Alguns choques mais agressivos, alguma linguagem que é habitual devido à emoção e ao calor do momento.

    CARRIS quer continuar a surpreender
    A CARRIS quer continuar a surpreender

    O MPL entra melhor e chega ao intervalo a ganhar por 3-0. A diferença deve-se ao facto de ter conseguido juntar mais jogadores do que a CARRIS. O momento do jogo é o segundo golo, quando Paulo Rodrigues, antigo guarda-redes da selecção portuguesa de futebol de praia, marca de baliza à baliza. Os seus colegas comentam em tom de graça: “Como é possível que o segundo melhor marcador da equipa seja o guarda-redes?”. Na segunda parte, o jogo fica quente. Há uma expulsão duvidosa para o MPL e os ânimos aquecem; alguns jogadores ameaçam ficar de cabeça perdida e há algumas bocas. Apesar de esta ser uma prova onde a amizade e o fair-play estão presentes, a emoção e a importância do jogo levam a alguns comportamentos menos próprios, que acabam mal o jogo termina.

    No final, o MPL leva a taça para casa numa vitória justa. As bocas e algumas atitudes durante o jogo ficam de lado e saúdam-se os intervenientes na partida. De parte a parte, dá-se os parabéns pelo jogo realizado pela Carris e pela vitória do MPL.

    A festa foi do MPL
    A festa foi do MPL
    Foto: Ricardo Pais

    Para a CARRIS, o que correu mal foi o facto de o núcleo duro de jogadores não estar presente. “Quatro dos jogadores que nos trouxeram até aqui não estiveram presentes hoje, por estarem de férias ou a trabalhar. Tive de jogar, coisa que já não faço”, afirmou o responsável. Ainda assim, esta equipa superou todas as expectativas. “Muitos não acreditavam que chegássemos aqui. Eliminámos um dos favoritos. Foi uma experiência gira. Muitos destes jogadores nunca jogaram futebol de 7, e eu tive de tentar colocar algumas das ideias do futebol 7 neles, portanto acaba por ser uma boa participação”. E como se prepara uma equipa que nunca jogou futebol de 7? “Treinar futebol de 11 é diferente de treinar futebol de 7. Os treinos que fazíamos eram num pavilhão, uma espécie de futsal, e eu tentei incutir essa ideia de futsal mas com 7. E depois o espírito e a união desta equipa ajudaram a chegar à final”.

    Para o ano, o objectivo passa por alcançar a subida, algo que vem fugindo há dois anos. “Vamos tentar este ano. A época passada morremos na praia, ao perdermos nos penaltis o jogo que dava acesso à primeira divisão. Vamos voltar a lutar pela subida de divisão, pois esta equipa merece estar na primeira divisão”.
    Do lado dos vencedores, esta é uma vitória que resulta da união do grupo. “Todos nós ficámos contentes com a vitória… Disfrutámos ao máximo da prova, e a base deste sucesso é a união deste grupo e a ajuda de algumas pessoas, como o Mário Lopes, o mentor do MPL. Em torno dele criámos esta união, criámos mais condições para o que, no fundo, nós queremos, que é jogar à bola”.

    Os campeões Foto: Ricardo Pais
    Os campeões
    Foto: Ricardo Pais

    No final, é tempo de entregar os prémios individuais e colectivos. A CARRIS faz a guarda-de-honra aos vencedores, numa imagem que resume muito bem o torneio. A boa disposição, o fair-play e a amizade imperaram. Entre jogadores, dirigentes e organizadores, que sempre se mostraram bastante acessíveis. É de salutar estas iniciativas, onde quem fica a ganhar são as pessoas e o desporto.

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    André Conde
    André Condehttp://www.bolanarede.pt
    O André apoia o Benfica, mas, acima de tudo, gosta de comentar o futebol em geral. Adora assistir às primeiras pré-eliminatórias das provas europeias e é fã do Stoke City.                                                                                                                                                 O André não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.