UFC 186: Obrigado, “Mighty Mouse”

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    Combate após combate Demetrious Johnson, o campeão de Peso Mosca, surpreende, domina e mostra ser um dos melhores pound for pound da UFC, se não o melhor. Protagonizou, com Kyoji Horiguchi, o melhor combate da noite. No entanto, houve gente que abandonou o recinto mesmo antes de este começar. Em relação a vendas de bilhetes e PPV, os eventos encabeçados pelo campeão são sempre dos que menos vendem, apesar de os seus combates serem sempre dos mais excitantes. Qual é, então, o problema de Demetrious Johnson?

    Apesar das baixas vendas o evento foi, no geral, bastante bom e teve combates de elevada qualidade. O cartaz principal do UFC 186 teve início com o confronto entre Yves Jabouin e Thomas Almeida. O brasileiro, que, à altura, tinha finalizado em 17 das suas 18 vitórias, entrou invicto no octógono e saiu com igual estatuto. O veterano, Yves Jabouin, não conseguiu lidar com o superior striking de Almeida, acabando encostado à rede e apenas defendendo tudo aquilo que Almeida tinha para lhe dar. Yves Lavigne acabou por terminar o combate, aos 4 minutos e 18 segundos da primeira ronda, por K.O técnico. Almeida promete ser um caso sério na divisão de Peso Galo e com certeza que enfrentará um lutador do ranking no seu próximo combate.

    John Makdessi e Shane Campbell, que se estreava na UFC, lutaram no segundo combate da noite. Apesar de não ser um combate importante em nenhuma divisão em particular (combate ocorreu em categoria catchweight) foi, apesar de tudo, agradável de se ver. Campbell entrou bem, acertou alguns pontapés cirúrgicos ao corpo e pernas, mas acabou por ir ao encontro de uma direita de Makdessi que o abalou. Ainda conseguiu levantar-se com a ajuda da rede, chegando mesmo a encostar Makdessi. Este, no entanto, arranjou espaço para desferir mais uma direita que, novamente, abalou Campbell. Desta o veterano da WSOF não conseguiu recuperar, apenas defendendo o ground and pound de Makdessi. O árbitro parou o combate aos 4 minutos e 53 segundos da primeira ronda.

    O terceiro combate teve, ao contrário daqueles que o precederam, um perfil bem mais elevado. O favorito dos fãs Michael Bisping enfrentou C.B Dollaway na categoria de peso Médio. Num combate que decorreu em todas as 3 rondas foi Dollaway quem deixou o primeiro aviso: um gancho de esquerda abalou o britânico nos instantes finais da primeira ronda. No restante decorrer da luta Bisping mostrou ter mais experiência e resistência do que o seu oponente, aumentando o ritmo consoante lhe era favorável e desgastando o seu adversário com algumas sequências. No final da última ronda foi a vez de Bisping acertar um bom gancho, desta vez de direita, para fechar o combate. Na hora da decisão Bisping venceu por unanimidade. Uma grande vitória para “The Count”, que disse acreditar que ainda pode vir a ser campeão de Peso Médio. Estaremos cá para ver.

    Foi também neste UFC 186 que se deu o (triunfante) regresso de uma das lendas da companhia e do mundo do MMA: Quinton “Rampage” Jackson, que tinha abandonado a UFC em 2013, voltou à casa que o deu a conhecer ao mundo, após ter estado na Bellator. Jackson, aliás, esteve muito perto de não competir e voltar para esta última companhia. Segundo a Bellator, a rescisão de contracto de “Rampage” não era legal pois este ainda tinha algumas lutas por cumprir. O tribunal acabou por decidir (à segunda vez) que Jackson estava possibilitado de competir pela UFC, pelo que lutou no co-evento principal contra Fábio Maldonado.

    Falando do combate em si, Maldonado nunca foi muito agressivo, permitindo a Jackson desferir as suas sequências a seu bel-prazer. No entanto, o brasileiro nunca quebrou. Aliás, Jackson disse mesmo que Maldonado não é humano. A verdade é que este pouco mais mostrou do que um queixo forte. Nem quando Jackson mostrou cansaço Maldonado capitalizou. No final, Jackson venceu por unanimidade e admitiu, em conferência de imprensa, querer vingança de todos aqueles que já o derrotaram.

    O regresso de “Rampage” Jackson (na foto) foi um dos momentos mais aguardados da noite Fonte: UFC
    O regresso de “Rampage” Jackson (na foto) foi um dos momentos mais aguardados da noite
    Fonte: UFC

    O último combate foi uma ode ao MMA, autoria de Demetrious Johnson. O campeão roça a perfeição em todas as fases do combate e luta com tal intensidade que parece que acaba as lutas com mais energia do que aquela com que entrou. Kyoji Horiguchi foi mais uma das vítimas do campeão, que já riscou o nome da maioria dos lutadores do Top 10 de Peso Mosca. Apesar de tudo, o japonês entrou bem na luta, conseguindo distribuir algumas sequências com velocidade. Mas nem bem nem muito bem chega para fazer um arranhão a Johnson. Tanto na primeira, como na segunda, seguindo para a terceira, para a quarta e, finalmente, quinta, o “Mighty Mouse” conduziu a luta conforme quis, derrubando quando assim era necessário, acertando alguns socos quando podia. No geral, fez as transições grappling-striking, e vice-versa, de forma irrepreensível.

    Nos instantes finais da quinta e última ronda, Johnson derrubou e controlou através do Crucifixo na montada. O final aproximava-se e Johnson ia desferindo alguns golpes na face de Horiguchi. Mesmo no final, Johnson fez a transição (bela, diga-se) para uma chave de braço, obrigando Horiguchi a desistir no último (!) segundo de luta. Johnson podia ter continuado na montada, ganho por decisão, mas preferiu procurar a finalização. E o que Johnson quer Johnson alcança. É a finalização mais tardia da história da UFC. Um belíssimo recorde para um dos mais dominantes campeões da história da UFC.

    Demetrious “Mighty Mouse” Johnson (calções brancos) a fechar a Chave de Braço que, no último segundo da luta, lhe deu a vitória Fonte: UFC
    Demetrious “Mighty Mouse” Johnson (calções brancos) a fechar a Chave de Braço que, no último segundo da luta, lhe deu a vitória
    Fonte: UFC

    Posto isto, retoma-se a pergunta inicial: qual é, então, o problema de Demetrious Johnson? É irrepreensível no octógono (talvez só superado por Jon Jones), tem igual atitude fora dele (algo que Jon Jones continua a não conseguir fazer – foi recentemente acusado de fuga de um acidente rodoviário), ainda tem bastantes anos dentro do octógono e uma carreira com muitas mais promessas de sucesso. Mas não vende. Os fãs não querem saber de Demetrious Johnson, muito menos da divisão que encabeça. A verdade é que Johnson não é dos campeões mais carismáticos, mas isso não deveria ser um problema quando se dá respostas tão contundentes onde interessa: no octógono.

    Dana White diz que tanto Chuck Liddell como Anderson Silva demoraram tempo a ganhar o apoio dos fãs, pelo que, com exemplos destes, só podemos acreditar que o mesmo acontecerá com Demetrious Johnson. Até lá, parece que apenas os verdadeiros fãs de MMA e desportos de combate, no geral, apreciarão a maravilha que é ver Johnson lutar. Tenho pena dos restantes. Obrigado, “Mighty Mouse”.

    Foto de Capa: UFC

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    Gonçalo Caseiro
    Gonçalo Caseirohttp://www.bolanarede.pt
    Entusiasta de MMA e futebol, o Gonçalo apoia fervorosamente o Benfica e a ideia de que desportos de combate não são apenas socos e pontapés.                                                                                                                                                 O Gonçalo não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.