Navegar por Mares Desconhecidos: A história de Portugal nas Olimpíadas de Inverno

    Cabeçalho modalidadesEntre 25 de janeiro e 4 de fevereiro de 1924, Chamonix, pequena localidade dos Alpes na sombra do imponente Monte Branco, o mais alto da Europa Ocidental, recebeu a Semana Internacional de Desportos de Inverno e, assim, atletas de 16 nações participaram naquela que seria a primeira edição dos Jogos Olímpicos de Inverno.

    Curiosamente, não distaria muito do momento em que Charles Jewtraw se tornou o primeiro campeão olímpico de inverno ao nascimento do primeiro atleta português, a 10 de março desse ano e de seu nome Duarte Espírito Santo. Num tempo em que a participação nos Jogos se dava por inscrição e não por apuramento, Duarte e seu amigo Carlos Gonçalves, incentivados por um instrutor de ski austríaco que conheceram na Serra da Estrela, inscreveram-se, mas Carlos acabaria por desistir e Duarte viajaria sozinho para Oslo. O ano era 1952 e, à 6ª edição dos Jogos, finalmente Portugal fazia parte das nações presentes, agora 30, quase o dobro da edição inaugural. Foi no esqui alpino que a estreia nacional aconteceu, mais concretamente em downhill, com Duarte Espírito Santo a ser 69º em 81 participantes.

    Depois desta experiência aventureira, seria preciso esperar 36 anos para voltar a ter uma presença lusitana e logo com a maior comitiva da história a deslocar-se a Calgary em 1988. Cinco atletas participaram em bobsleigh, nas disciplinas de duplas e em quarteto. Em 41 pares, João Pires e Jorge Magalhães foram desclassificados, mas António Reis e João Poupada foram 34ºs. Para o bobsleigh de quatro, Reis, Pires e Poupada contaram com a companhia de Rogério Bernardes, mas não foram além do 25º lugar em 26 participantes, apenas à frente do famoso conjunto da Jamaica que não terminou a prova. Este grupo, composto por emigrantes no Canadá, deu também início aquela que seria a tendência da representação portuguesa nos desportos de inverno, a aposta em emigrantes e luso-descendentes.

    Seria exatamente por esse artifício que Portugal regressaria às Olímpiadas e ao esqui alpino. O luso-descendente Georges Mendes, nascido em França, até se qualificou para Albertville 1992, mas uma lesão acabou por o impedir de participar e deixar a Nação Valente sem representação. Mas Mendes acabaria mesmo por cumprir o sonho olímpico apenas dois anos volvidos, em Lillehammer 1994, tendo participado em quatro disciplinas. Em Combinado e Super Gigante não terminou a prova, mas em Downhill foi 41º em 55 participantes e em Slalom 32º em 40.

    Em 1998, os Jogos rumam ao Japão e Portugal volta às participações plurais, levando pela primeira vez atletas de mais que um desporto. Fausto Marreiros é penúltimo nos 5000 metros da Patinagem de Velocidade (31º entre 32), mas é Mafalda Queirós Pereira quem brilha, ao alcançar o 21º lugar em Aerials no Esqui Estilo Livro. Ainda que entre somente 24 atletas, o resultado é o melhor de sempre em termos absolutos para o nosso país nos Jogos de Inverno. Mafalda era ainda jovem e depois de um passado na ginástica, dedicou-se ao esqui e o seu objetivo eram as Olimpíadas de 2002 em Salt Lake, tendo considerado nem sequer ir a Nagano, mas um ano após a sua participação sofreu uma lesão no joelho que lhe terminou a carreira desportiva e as esperanças nacionais, que se ficaram por mais umas Olimpíadas sem representação em 2002.

    Entra, então, em ação Danny Silva, mais um luso-descendente, este nascido nos Estados Unidos da América, que se dedica ao Esqui Cross-Country. Em Turim 2006 e Vancouver 2010 é ele o representante solitário das Cinco Quinas, só que sem resultados de especial relevo, é 94º em 98 atletas em 2006 e 95º em 95 participantes em 2010, quando se torna o mais velho português nas Olimpíadas de Inverno aos 36 anos.

    Já para a ida a Sochi 2014, houve injeção de sangue novo, com a introdução de dois competidores luso-descendentes no esqui alpino, Arthur Hanse e Camille Dias. Hanse não teve sorte e acabou por não terminar tanto em Slalom como em Slalom Gigante. Bem diferente foi a prestação da mais jovem representante lusa que, com apenas 17 anos, alcançou posições bem positivas para os padrões portugueses, sendo 59ª em 90 participantes no Slalom Gigante e 40ª em 88 participantes no Slalom. Mais uma vez, a parca sorte nacional com as promessas femininas verificou-se com Camille a anunciar o término da carreira em 2016.

    Arthur Hanse e Kequyen Lam são os representantes portugueses em 2018 Fonte: Comité Olímpico de Portugal
    Arthur Hanse e Kequyen Lam são os representantes portugueses em 2018
    Fonte: Comité Olímpico de Portugal

    Chegamos, então, aos dias de hoje e à missão que representará as nossas cores em PyeongChang 2018. Arthur Hanse, agora com 24 anos, é o repetente da equipa e voltará a participar em Slalom e Slalom Gigante no Esqui Alpino e será acompanhado pelo luso-macaense a residir no Canadá, Kequyen Lam, de 38 anos, que colocará Portugal de novo em ação na prova de 15Km do Cross-Country.

    Quando Kequyen Lam cumprir as suas funções de porta-estandarte na Cerimónia de Abertura dos XXIII Jogos Olímpicos de Inverno e erguer a bandeira portuguesa na Coreia do Sul, o equipamento oficial do Comité Olímpico de Portugal que trará vestido mostrará motivos a lembrar os Descobrimentos. É uma escolha adequada porque a ele e a Hanse cabe-lhes navegar sobre mares desconhecidos para a nação que representam, com a esperança e a crença de que, um dia, com muito trabalho e paciência, a tão sonhada medalha lá chegará para a pátria dos Heróis do Mar.

    Foto de Capa: Arthur Hanse

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