Caros Roger Federer e Rafael Nadal,
Escrevo-vos hoje em nome de todos os amantes de ténis que convosco aprenderam a amar a modalidade ou que, após a retirada de outros grandes nomes da mesma (como Pete Sampras, Björn Borg, Jimmy Connors, Rod Laver, Ivan Lendl, John McEnroe ou Andre Agassi), encontraram em vós novas referências no desporto que tanto nos apaixona. Escrevo-vos hoje pouco após o término da Laver Cup, o torneio “a feijões” que durante três dias nos colou aos ecrãs, para vos descrever aquilo que senti quando vos vi abraçados a festejar uma vitória que nada valia como se fossem dois meninos acabados de vencer o primeiro torneio das vossas vidas.
O ténis é, todos sabemos, uma modalidade especial. O fair play está cristalizado nos hábitos dos jogadores e a integridade é caraterística basilar nos mesmos. Sempre assim o foi, desde os primórdios, mas se ainda assim o é muito se deve a vós. “Caramba, como é possível num desporto individual haver respeito e, imagine-se, amizade entre os dois maiores da atualidade?”, perguntarão alguns. “Porque somos tenistas”, responderão vós. A Laver Cup foi apenas a expressão máxima dessa realidade e foi, permitam-me dize-lo, uma chapada de luva branca em todas as modalidades nas quais a mediocridade fora de campo chega a sobrepor-se à arte com a qual os seus executantes nos brindam dentro do mesmo.
Roger e Rafa, tantas e tantas batalhas depois, tantas e tantas horas dentro dos courts a lutar até que a força mental se sobrepusesse à força física, tantas e tantas emoções! No final, faz-se hoje a mesma pergunta que sempre foi feita: quem é o melhor? Vocês certamente riem e pensam para vós mesmos: o que interessa isso quando ambos fazemos aquilo de que tanto gostamos? Todos sabem que tu, Roger, és um prodígio técnico, que és poesia em movimento, que te moves no court como se estivesses num bailado de Tchaikovsky. E todos sabem que tu, Rafa, és a personificação perfeita de “la furia española”, que sempre figurarás na história como um dos maiores guerreiros da história do desporto.