O court de ténis é, provavelmente, um dos locais mais solitários do mundo. Porém, não se limita a ser um espaço solitário; é-o, curiosamente, enquanto se está na companhia de outra pessoa num recinto com pouco mais de 260m2. Num grande palco, como o de Wimbledon, aos atletas soma-se o público; com quase 16 mil pessoas nas bancadas nada muda para quem está no court: a solidão é a mesma, as dúvidas, o autoquestionamento constante, a insegurança, a angústia face aos consecutivos erros não forçados, o pânico face à sensação de se ser incapaz de dar a volta aos acontecimentos, o trémulo nas pernas aquando do segundo serviço para se evitar um set point potencialmente decisivo.
Num court de ténis “não há rede”, o jogador confronta-se solitariamente com cada winner, com cada erro não forçado, com cada ás, com cada dupla falta, com cada bola que bate na tela e cai do seu lado do court, com a sensação de exaustão física, com as dificuldades para manter a concentração, com a espiral de descrença nas suas capacidades quando os erros se sucedem. Mas há um tenista para quem estes diferentes momentos parecem não existir; esse tenista dá pelo nome de Roger Federer.
O suíço é um fora de série, é alguém que se enquadra num restrito grupo de grandes campeões como Michael Jordan, Michael Phelps, Usain Bolt ou Muhammad Ali. O que diferencia Roger Federer de todos os demais é que enquanto estes usam uma raquete, o Maestro tem-na enquanto extensão natural do seu corpo. Federer joga como respira, desliza no court ao invés de correr, substitui pancadas em slice, amorties e volleys por fouettés, grand jetés e pliés. O ténis do suíço é um bailado no qual não há lugar ao esforço ou ao cansaço. Pés, tronco, raquete e bola assemelham-se a uma peça única, a um fenómeno natural caraterizado por uma peRFeição aparentemente incontrolável. A cada deslocação no court, a cada pancada na bola, a cada ponto ganho fica a sensação de se estar a assistir a um momento ímpar, a estória na história do ténis. Fica a ideia de que quem criou o ténis fe-lo na esperança de que, um dia, surgisse alguém como Federer para ensinar como este deve ser jogado.