O Benfica fez uma primeira volta praticamente irrepreensível nos jogos fora de casa. Não fosse a derrota em Braga, e os encarnados teriam 100% de vitórias nas deslocações aos redutos adversários. Para além disso, ainda que o futebol praticado na altura não fosse de uma espetacularidade única, o Benfica sofreu pouquíssimos golos e ganhava os jogos com vários golos de diferença.
Ao virar da época, tudo mudou. O Benfica perdeu em Paços de Ferreira de forma escandalosa – relembro que na altura estava em cima da mesa a possibilidade de aumentar a vantagem para nove pontos em relação ao FC Porto. Logo na deslocação seguinte, o Benfica concedeu novamente pontos no empate em Alvalade. Nos jogos fora, seguiram-se Moreirense, Arouca e, por último, Rio Ave. Frente ao Moreirense e ao Arouca, o resultado final mostra que o Benfica foi feliz e conseguiu o objetivo dos três pontos. A história do jogo, porém, revela um padrão incompreensível nas deslocações mais recentes: extrema dificuldade em controlar o jogo.
Era visível até ao mais desatento dos adeptos que este apático Benfica acabaria por cair mais cedo ou mais tarde. O Benfica tremeu em Moreira de Cónegos e em Arouca, mas saiu ileso de ambos. Em Vila do Conde, onde habita uma equipa com qualidade reconhecida, a previsão geral tornou-se realidade e o impacto do estrondo do Benfica a cair no Estádio dos Arcos foi atenuado pelo enorme tropeção do FC Porto na Madeira.
Surpreendentemente, este vacilar nos jogos fora de casa começou precisamente quando os adeptos do Benfica, altamente empolgados pela possível conquista do bi-campeonato, deram início a mais uma “onda vermelha”, que acompanha a equipa de norte a sul. Os mini-estádios da Luz, como referiu Jorge Jesus antes da partida frente ao Arouca, são visíveis sempre que o Benfica joga fora do seu próprio terreno. Como é óbvio, à exceção de Alvalade, do Dragão e do Axa, os adeptos das águias dominam por completo as bancadas dos adversários. Este domínio, contudo, não se traduz no relvado. “A jogar em casa”, o Benfica não entra forte e dominador. Pelo contrário, apresenta-se quase sempre receoso, mole e lento. Traídos pelo conforto de jogar com o apoio da maioria dos adeptos, os jogadores encarnados acomodam-se na partida, menosprezando estupidamente o adversário (aquele que joga verdadeiramente em casa).
O efeito é o oposto ao esperado, uma vez que, com tanto apoio das bancadas, a falta de ambição, vontade, garra e espírito de sacrifício fica bem patente no decorrer do jogo. O Benfica não pode dar-se ao luxo de desperdiçar uma das grandes vantagens da grandiosidade do clube: a enorme massa adepta. Os mini-estádios da Luz têm-se revelado altamente perigosos porque a mentalidade incutida aos jogadores não é a correta. O facto de o vermelho ser a cor dominante nas bancadas não faz com que o jogo seja mais fácil, longe disso. No entanto, é precisamente essa a imagem deixada pela triste atitude dos jogadores nesta segunda volta e deve ser imediatamente revista.
O Benfica tem de correr mais, tem de querer mais. Não basta ser mais.
P.S. Um facto curioso e que se adequa ao texto: das oito partidas que faltam para o final do campeonato, o Benfica irá jogar seis na grande Lisboa. Relembro que bastam apenas essas seis vitórias para o que 34º título de Campeão Nacional entre nos livros da história do Benfica.