Carta Aberta a: Rui Vitória

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    Que a laringe, a faringe e o esófago estejam preparados. Que o seu coração esteja saudável. Que o nó da sua gravata esteja solto e o botão da camisa junto ao pescoço desabotoado. Sábado é O dérbi, e você, meu caro Rui Vitória, vai ter gritar com todo o ar que tiver nos pulmões. Vai ter de gritar por cada cachecol encarnado que naquele dia, seja no estádio ou em casa, seja de sócios ou adeptos, seja em Portugal ou no Haiti, estiver ao pescoço de milhões de pessoas. Vai ter de voar mais alto que a nossa águia, vai ter de orientar a equipa com o nome de Eusébio nas costas, com a sabedoria de Coluna na cabeça e com a emoção daquele miúdo que, na primeira fila, vai chorar, independentemente do resultado.

    No dia 5 vai ter de dar pólvora ao nosso Jonas Pistolas, ir ao registo civil mudar a terminologia do nome do Mitroglou para Mitrogolo. Vai ter de dar aço no pequeno almoço ao Lindelof e ao Jardel. Vai ter de soltar o Renato Sanches e o Gaitán e deixá-los imaginar, criar e vencer. Vai ter de mostrar o que nós somos, o porquê de todos os seus ex-alunos com quem me cruzo me dizerem que sempre confiaram em que chegaria a esta posição vencedora, em que apenas dependemos de nós próprios, mesmo depois daquele arranque desastroso.

    Sábado é o seu último clássico desta época em Portugal e temos de o vencer. Eu não quero saber se já perdemos três vezes. Dói-me, mas já passou. O crescimento da equipa suplantou a mágoa, e o bom desempenho na Europa eleva-me o ego benfiquista. Mas agora abstraia-se da Europa, abstraia-se da ‘Taça da Cerveja’ e diga a todos os seus jogadores, de pulmão bem cheio: “Vamos para cima deles!”

    “Vai ter de gritar por cada cachecol encarnado que naquele dia, (…), estiver ao pescoço de milhões de pessoas.” Fonte: SL Benfica
    “Vai ter de gritar por cada cachecol encarnado que naquele dia, (…), estiver ao pescoço de milhões de pessoas.”
    Fonte: SL Benfica

    Ataquem, fintem e dominem como sabem fazer melhor. Este já não é o Benfica de Jesus, isto já não é o início da época. Ele já não nos conhece. Agora ele tem de nos estudar, e jogadores como Renato, Gaitan ou Jonas não se estudam: defrontam-se. E no ‘mano a mano’ ou no ‘mata-mata’ quem manda somos nós. Quem tem a chama, quem veste o manto sagrado somos nós.

    Diga ao Júlio César que nunca deixou de ser imperador, porque é verdade. Diga ao Salvio e ao Paulo Lopes que, mesmo não jogando este tempo todo, os adeptos não esquecem o quanto eles amam o clube e o quão importantes eles são num balneário campeão. Diga a todos que são o Benfica e que os adeptos estão sedentos deste título.

    O campeonato não é impossível. Os berbicachos que inundam as redes sociais não passam disso, vozes amadoras que tomam como certa a derrota do Benfica. Não. Agora as coisas serão diferentes, agora vamos dar o litro e vamos ganhar. Por favor, berre, grite, gesticule, dê pontapés no banco, atire a gravata para o chão… Faça o que quiser, mas mexa-se, mas fale, ralhe e congratule. Não fique impávido e sereno à espera do próximo movimento da esfera. São onze de cada lado, e a bola é redonda. As duas equipas são fantásticas, e é por isso que os dérbis não se ganham com técnica mas sim com raça, com amor.

    Diga aos jogadores para sentirem a camisola como se fosse a própria pele, para eles sentirem as costuras do emblema junto ao peito, junto ao coração. A onda vermelha irá cantar o vosso nome e serão eternos.

    Meu caro Rui, não quer ser eterno? Afinal de contas, o que todo o ser humano teme é a morte, o Benfica oferece-lhe a imortalidade. Venha, vença e conquiste. A Segunda Circular está preparada para o terramoto. Faça abanar o relvado, rasgue as redes. Dê-nos o 35.º campeonato. Seja grande. Até sábado.

    Saudações benfiquistas,

    Tomás Gomes

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    Tomás Gomes
    Tomás Gomes
    O Tomás é sócio do Benfica desde os dois meses. Amante do desporto rei, o seu passatempo favorito é passar os domingos a beber imperial e a comer tremoços com o rabo enterrado no sofá enquanto vê Premier League.                                                                                                                                                 O Tomás escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.