Hoje foi difícil ser do Benfica

    camisolasberrantes

    Ainda digiro o empate de Domingo. Para mim, que gosto de futebol, aquilo não foi nada. Para mim, que gosto ainda mais do Benfica do que de futebol, aquilo foi uma facada no coração e logo dada pelas costas.

    Assistimos a dois clubes a anularem-se constantemente, tanto por mérito como por demérito de ambos. A espaços, a coisa assim se foi dividindo, construindo-se ali, em Alvalade, um jogo mais chato, desesperante e triste do que o dérbi que supostamente nos tinha sido prometido durante toda a semana. Afinal, mil e uma personalidades vieram para a frente das câmaras – aproveitar os seus segundos de fama – para nos convencerem de que os seus muitos conhecimentos futebolísticos anteviam, sem espaços para dúvidas, um jogo similar ao 3-6 ou ao 7-1. No entretanto, os sportinguistas lotaram também o estádio naquela que havia de ser a sua maior assistência de sempre e os benfiquistas esgotaram em menos de três horas os quase três mil bilhetes que foram postos à venda no Estádio da Luz. Jorge Jesus dizia que não havia motivos para surpresas. Marco Silva prometia um Sporting liberto. Em suma, estamos em Fevereiro, mas já vinha aí o melhor jogo do ano. Só que não.

    Talvez esta construção muito específica de uma realidade que não se tornou real tenha despoletado, num contragolpe bem irónico, um sem-número de realidades que hoje invadem os jornais e as redes sociais. Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, veio defender que os adeptos do Benfica deveriam ser «severamente punidos pela Federação e pela Liga». Os motivos prendem-se com o que aconteceu sábado, na partida de futsal entre as duas equipas, onde foi possível avistar-se uma tarja que relembrava (com orgulho) o assassinato – porque não há outro nome – do sportinguista Rui Mendes, em 1996, e também com a forma como os benfiquistas se despediram do dérbi deste Domingo, ao arremessarem very lights e petardos para as bancadas afectas ao público de verde. Horas depois, e em concordância com o que o seu Presidente havia declarado na sua conta de Facebook pessoal, o Sporting Clube de Portugal emitiu um comunicado oficial no qual lamentava e censurava as atitudes dos adeptos afectos ao outro lado da 2.ª Circular, lamentando também a péssima abordagem que a direcção do Benfica havia optado por seguir quando confrontada com o tema: apelidar de “folclore” o desabafo – interessa lá se oportuno ou ridículo – do presidente do Sporting, depois de seis (dos seus) adeptos terem ficado feridos naquilo que deveria ser somente uma partida de futebol.

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    As desprezíveis palavras das claques benfiquistas no dérbi de futsal de Sábado

    Enquanto uns optam por pôr lado a lado o que as claques do Sporting fizeram – gozar com a memória de Gullit, jovem benquista que morreu há muitos anos num trágico acidente, ou mesmo desejar a todos os de encarnado que de uma vez se “juntem” a Eusébio – com o que as claques do Benfica criaram – a exibição de uma tarja a “adorar” um episódio que muitos de nós ainda hoje tentamos apagar da nossa memória e do nosso futebol, a adoração à mesma com cânticos e outras “pérolas” que tal, já para não falar em pôr em risco a vida de pessoas que só quiseram foi mesmo ir à bola e acabaram no Hospital Sta. Maria –, eu opto hoje, aqui, por apontar o dedo, sem reservas, aos energúmenos que dirigem o clube que eu amo. Tudo o resto são não-conversas.

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    Outras desprezíveis palavras, desta feita pelas claques sportinguistas no dérbi de Domingo

    O Benfica não é vosso. O Benfica não pertence a nenhum de vós. O Benfica não vos deve nada. O Benfica viveu décadas sem vocês e viverá da mesma forma muitos outros séculos. O Benfica não vos quer, nem de vocês necessita. O que os votos de alguns significam num momento, nada querem dizer quando se fala em respeitar e amar este clube como se respeita e se ama a própria vida. Vocês não vivem para o Benfica. Não vivem o Benfica. Nem o Benfica vive em vós.

    O que anda o senhor João Gabriel a fazer a merda do ano inteiro para só aparecer em frente às câmaras não mais do que meia-dúzia de vezes e em todas elas, sem excepção, cuspir alarvidades repletas de arrogância, próprias de quem não sabe estar num clube que tem milhões de seguidores pelo Mundo fora? Quem passa a este senhor o atestado de sabichão empertigado mais preocupado em atirar farpas aos outros do que em desaprovar os actos dos nossos? O que é que se faz neste clube hoje em dia? É que antigamente ainda se dizia que se andava a criar riqueza e essa era a desculpa para sermos guiados por um bando de abutres ignorantes, todos eles demasiado ocupados para andarem de cachecol ou estenderem a mão e o espírito ao “triste povinho” que mantém o Benfica onde o Benfica merece estar. Mas hoje em dia? Hoje em dia nem dinheiro, nem títulos, nem dignidade! E ainda se faz o manguito ao clube que nos recebeu e que viu seis dos seus adeptos irem de charola para as urgências?!

    É de meter nojo. E é aqui que as minhas palavras ganham todo o significado de que não precisam. É por ser enorme e por não ser “isto”, que o Benfica é dos que sabem vivê-lo com saúde mental, deixando as entradas a pés juntos só para o que acontece em campo (e mesmo aí, cuidadinho com os pitons). A direcção do Benfica, a qual nem merece a utilização de um “d” maiúsculo, deveria saber retratar-se. Deveria, com a mesma perícia com que mostra e vomita arrogância e pedantismo, saber comportar-se com elegância, respeito e maturidade. Deveria, aliás, substituir a primeira fórmula pela segunda. E já que estamos a falar em substituir, que se substitua também quem continua a hipotecar, passo a passo, o futuro deste clube. Primeiro, o seu futebol. Depois os seus activos. Depois a sua formação. Depois os seus adeptos. E agora a sua dignidade. A sua honra. A sua mística.

    Nunca pensei dizê-lo, mas estes senhores fazem-me ter vergonha em ser Benfica. Felizmente, não foi com eles que aprendi a amar estas cores e este emblema. Somos muito mais do que aquilo que lhes chega à vista. Porque à mão e à vista só lhes chegam negócios e dinheiro. A bola (seja ela de futebol ou não) vem depois…quando eles estão em casa ou nos hotéis (que nós pagamos), a deliciarem-se com as prostitutas (que nós pagamos), que lhes afogam as mágoas e os fazem acreditar, ainda que por breves minutos, que são relevantes nos cargos (que nós pagamos) e que executam de fatinho lustroso (que nós pagamos), mas encardido dos perdigotos que lá caem enquanto mentem com os dentinhos todos. Tenham vergonha, seus animais.

    E já agora: quanto é que ficou o dérbi, mesmo?

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    Tiago Martins
    Tiago Martins
    O Tiago tem uma doença incurável que o afeta desde o momento em que nasceu: a paixão pelo Benfica. Gosta de ver bom futebol, mas a sua maior alegria é comer um coirato à porta do Estádio da Luz.                                                                                                                                                 O Tiago não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.