As notícias sobre a morte de Luisão foram sempre manifestamente exageradas; e ao contrário do espirituoso Mark Twain, a Luisão foram decretadas, não uma, mas incontáveis certidões de óbito, ao longo dos seus 13 anos de Benfica – sucessivas, grandes e sintomáticas trapalhadas burocráticas nacionais. Mas de cada perecimento, Luisão surgia renovado, mais forte, melhor “central”, melhor “capitão” e – insondáveis são os mistérios da ressurreição – mais goleador (talhado para os grandes momentos).
As suas qualidades – como jogador, como “capitão”, como pessoa – personificam o modelo que explica o actual sucesso desportivo do Benfica. A sua postura e acção definem a estratégia e a dinâmica que se mantém, ano após ano, vigilante e ambiciosa, numa busca permanente e constante pela próxima vitória; pelo próximo título. Luisão é, por excelência, o guardião deste modelo, o homem e o jogador que lidera através do exemplo, capaz de unir todo o balneário em torno de si e dos (sempre prioritários) objectivos colectivos.
Luisão cresceu com o Benfica, tornou-se, por vocação e hábito, um de nós, um benfiquista de corpo e alma, no balneário, dentro do campo, profissional com cabeça e coração, justo no amor e nos negócios – sim, é verdade, Luisão julgou ter direito a vários aumentos salariais (e justificou cada centavo que auferiu). Acompanhou-nos durante todo o moroso e complexo processo de recuperação identitária (na sequência de uma década destrutiva), que assentou, necessariamente, nos princípios e valores fundadores do clube, condição indispensável para este belo despertar – nunca passivamente e colaborando decisivamente.