Mehdi Carcela: A magia tem um preço

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    É encantador ver o rigor táctico ser invadido por laivos de futebol selvagem. Uma destrução criativa, que nos remete para tempos em que se improvisavam bolas e campos de futebol. É o futebol em estado puro, momentos de inspiração que nos remetem para a infância tal e qual as madalenas de Proust e que nos fascina como números de magia.

    Cada vez mais impressionam, essas “performances”, esses momentos. Por eles mesmos, e pela galopante raridade que vão tendo no panorama futebolístico de topo. É cada vez menos frequente vermos rasgos de génio, deixando espaço para que sejam elogiadas as mentes dos treinadores, a quem é cada vez mais atribuído o mérito de cada vitória.

    É pouco romântico, o futebol actual. Estrategicamente, está no auge e o espaço para jogadores apenas talentosos vai-se reduzindo. Porque um jogador com pés, mas sem cabeça, vale de muito pouco no contexto da alta competição.

    Isto não significa que o futebol moderno seja enfadonho. Há lugar para o talento, desde que acompanhado com inteligência e objectividade. Rasgos de génio são bem-vindos por todos os treinadores, desde que decidam e façam a diferença na maior parte das vezes e sejam executados num contexto em que a equipa possa correr poucos riscos.

    Joga-se cada vez mais pelo seguro, o que não é mau. Aposta-se muito no homem, em vez do jogador, pela previsibilidade que isso pode trazer, de forma a saber com o que se pode contar. Escolha louvável, que beneficia quem trabalha e quem pensa, mas que deixa de lado muitos jogadores talentosos e, com eles, momentos mágicos que acrescentem magia ao jogo.

    Jogadores como Juan Quintero – que podia já estar num patamar competitivo acima da liga portuguesa (encontra-se cedido ao Rennes, pelo FC Porto) mas que tarda em se afirmar por não ter disciplina táctica – Zakaria Labyad -que vai sendo sucessivamente emprestado pelo Sporting CP, tardando a sua afirmação como excelente armador de jogo por lhe ser reconhecida alguma perguiça mental – ou Mehdi Carcela são exemplos perfeitos.

    O do marroquinho do Benfica é o caso mais gritante por ser o mais recente. Conta já 26 anos, está num clube que precisa de um extremo com o seu talento, e a quem são reclamadas (pelo público e pela crítica) oportunidades pelos desempenhos nos últimos encontros. Condições ideias para a sua afirmação… desde que use o seu talento de forma regrada. Algo que não tem acontecido.

    Carcela esteve bem frente ao Tondela... quando o jogo estava resolvido Fonte: Sport Lisboa e Benfica
    Carcela esteve bem frente ao Tondela… quando o jogo estava resolvido
    Fonte: Sport Lisboa e Benfica

    Sim, Carcela marcou dois golos de belíssimo efeito e deixou em campo promenores deliciosos nos últimos dois encontros disputados com a camisola do Benfica. Sim, Carcela arriscou e saiu-lhe bem… nessas situações! Outras houve, frente a adversários mais exigente, em que o marroquino arriscou e perdeu a bola, e forma mais essas do que aquelas em que conseguiu driblar com sucesso. Ou seja, é um jogador ainda pouco trabalhado do ponto de vista táctico e é essa a principal causa de ainda ficar no banco, pese embora as capas de jornais que faça após vitórias do Benfica carimbadas com golos dele.

    Gonçalo Guedes, para Rui Vitória, continua a ser mais fiável e, de facto, analisando o que oferece à equipa a nível defensivo e as noções dos momentos do jogo do português, sem dúvida que sai a ganhar sobre o marroquino.

    O futebol deixou de ser só magia. Por isso, por agora, Carcela fica no banco.

    Foto de Capa: Sport Lisboa e Benfica

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