Miklos Fehér: O dia em que o futebol perdeu a cor

    sl benfica cabeçalho 1O futebol sempre fez parte da minha vida, tal como a música; Essas duas coisas foram-me incutidas desde que me lembro de ser gente, quase como se fosse uma herança que tinha de ser passada para mim. Claro que depressa descobri que não era apenas uma herança ou educação, mas sim algo que me corria no sangue, que estava nos genes.

    A minha mãe sempre me ensinou a ver futebol, a percebê-lo e a amá-lo, mesmo quando achamos já não haver razões para tal. E, claro, todos esses ensinamentos foram passados à luz do Benfica. Miúda, pouco percebia daquilo e não compreendia o porquê de alguém viver tão intensamente aquilo que era “um simples jogo”. Até que, no dia 23 de Março de 2003, ela me levou ao velhinho estádio da Luz, para assistir ao último jogo que lá se realizaria, frente ao Santa Clara, dando origem à minha primeira memória futebolística. Não me lembro de tudo, afinal, tinha apenas cinco anos, mas quem visita a velhinha Catedral, não esquece.

    Bilhete do último jogo realizado na velhinha Luz Fonte: Bola na Rede
    Bilhete do último jogo realizado na velhinha Luz
    Fonte: Bola na Rede

    Muita coisa se desvaneceu com o passar do tempo e, pouco menos de um ano depois sim, a minha memória ficou marcada para sempre.  Os jogos em Guimarães são sempre duros e nunca me irei esquecer da felicidade lá em casa quando o Benfica fez o 0-1 em cima dos 90 minutos. No entanto, o jogo estava longe de terminar e a alegria do golo desapareceu minutos depois. Miki Fehér.

    Se há algo que ninguém esquece é o seu último sorriso. Não vale a pena descrever toda a cena: o amarelo, o sorriso, a queda. Todos nos lembramos e todos fazem questão de o recordar pormenorizadamente.

    Todos nos apercebemos da gravidade da situação quando Sokota começa a gritar e a gesticular desesperadamente para o banco, virando o seu colega de equipa de lado e colocando-lhe a mão na boca. Numa questão de segundos, tudo se tornou real. Irei sempre recordar aquela noite, fria e chuvosa. Quando penso do dia 25 de Janeiro, as primeiras imagens que me vêm à cabeça são a da minha mãe, com o meu irmão ao colo (na altura com apenas um ano), a passarinhar no corredor, com um olhar de pânico, ou talvez medo; um qualquer coisa que, até hoje, não voltei a ver. A Outra é de Tiago, desolado. Sim, eu sei, todos estavam, mas foi ele que me ficou na memória, num choro inconsolável e de mãos na cabeça. Na altura, na modéstia dos apenas seis anos que tinha, a primeira coisa que fiz foi desenhar o Fehér, junto a Tiago (crianças…). Hoje, relembro toda a noite como se tivesse sido ontem.

    Ainda bem que nbão fui para artes Fonte: Bola na Rede
    Ainda bem que não fui para artes
    Fonte: Bola na Rede

    14 anos depois, ainda ouço o primeiro silêncio ensurdecedor a Fehér no estádio do Vitória.

    14 anos depois, ainda ouço os aplausos a Fehér nas bancadas de Guimarães.

    14 anos depois, ainda ouço a união de toda uma massa adepta a gritar, em uníssono “Miklos Fehér”.

    14 anos depois ainda sinto o pânico da minha mãe, o choro de Tiago e os gritos de Sokota.

    14 anos depois, recordo mais facilmente o dia em que Portugal esqueceu a cor  e chorou junto, do que o dia em que vi o Benfica sagrar-se campeão pela primeira vez (em 2005).

    14 anos depois, o futebol e as picardias são esquecidas, ainda que apenas por momentos, para se relembrar o último sorriso do eterno camisola 29.

    Foto de Capa: 90min.com

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    Joana Libertador
    Joana Libertadorhttp://www.bolanarede.pt
    Tem a vaidade, o orgulho, a genica, a chama imensa. Para além da paixão incontrolável pelo Benfica, tem um carinho especial pelas equipas que vestem vermelho e branco. Menos na NBA. Aí sofre por aqueles que vestem branco, ou azul, ou amarelo, ou preto (depende do dia) - os GS Warriors.                                                                                                                                                 A Joana escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.