A temporada está a chegar ao fim. O Benfica realizou uma caminhada má, despida de títulos, parca em qualidade exibicional e sem valorizar quaisquer dos seus jogadores.
Muitos têm culpa no cartório. Mas é de Rui Vitória de quem se vai falar aqui. O treinador acentuou esta época as fraquezas que demonstrara nas duas primeiras ao leme do Benfica. A incapacidade para oferecer um plano alternativo, quando as coisas não estavam a correr bem, é, hoje, uma realidade indesmentível.
O plano inicial, isto é, o modo como a equipa se apresentou no início dos jogos, também não foi do agrado de ninguém. Demonstrou alguma superação ao horrível arranque de temporada com a cimentação de um sistema tático diferente (4x3x3) e a escalação de Krovinovic ao onze. Depois, com a lesão do croata e, mais recentemente, de Jonas, o Benfica voltou a jogar o que jogava no início, ou seja, zero.
Estrategicamente foi capaz de ser superior apenas ao Sporting e ao Braga, considerando os jogos com adversários de igual ou maior valia. Com os restantes, inclusivamente na Liga dos Campeões, foi penoso ver o Benfica jogar. Até com o Tondela foi inacreditável a forma como o treinador encarnado não percebeu que a equipa de Pepa é uma equipa personalizada, que quando recupera a bola tem sempre várias linhas de passe para jogadores rápidos e competentes a finalizar.
E a ideia de tirar médios para meter avançados, quando está a perder, é algo digno dos anos 90. Para se marcar há que criar e para criar é essencial inteligência e criatividade, não músculo e pontapé para a frente. Outra das virtudes que as suas equipas tinham, a de serem fortes emocionalmente nos momentos decisivos, também se perdeu algures este ano. Em jogos decisivos, o Benfica claudicou como não antes se tinha visto na era Vitória.
Rui Vitória já provou que consegue construir equipas competentes, aliando resultados positivos. Se a direção não inventar, e lhe oferecer um guarda-redes, um defesa direito, um central e um médio, todos de créditos firmados, Vitória pode reviver o sucesso. Mas o seu cargo está mais fragilizado do que nunca e para a época que vem a margem de erro é nula.
As suas fragilidades estão à vista e vai ter de as superar de nova forma, com mais astúcia dentro de campo e, fora dele, com um discurso mais rico, menos baseado em chavões. E esta de desculpar resultados com a arbitragem, como se viu no dérbi, é de bradar aos céus. É sempre embaraçoso quando alguém que faz bandeira de ser idóneo e íntegro, entregar-se à desculpa mais antiga que existe no futebol para justificar o que quer que seja. E pior se torna quando começa a ser usada no final de três épocas.
O balanço da época é negativo e Vitória terá de se superar para continuar no Benfica. O estado de graça acabou.
Foto de Capa: SL Benfica