Agora que a azia já passou, que os ânimos acalmaram, os festejos do clube campeão já passaram, a Liga dos Campeões – e o segundo lugar – foi garantida, podemos falar novamente sobre a época passada. E vamos fazê-lo de uma forma definitiva. Fechar de vez este dossiê, estas más memórias e fingir que nada aconteceu. Mas primeiro, vamos apenas ver o que correu mal, quem foram os culpados desta época fracassada. Depois disso, fechou, prometo. Só voltarei a falar sobre o futuro, naquele local onde o Benfica pode, de facto, conquistar troféus, e não sobre a época anterior onde não conquistou nenhum.
Em primeiro lugar, o Benfica nunca deitaria este campeonato a perder se não tivesse um rival à altura. O FC Porto foi, sem dúvida, um merecedor – até acaba por ser O merecedor – a vencer a Primeira Liga esta temporada. Quer se queira, quer não, os azuis e brancos foram a melhor equipa no campeonato. Não significa que tenham sido extraordinários. Significa apenas que foram os melhores a jogar em Portugal e, por isso, venceram. Se não houvesse um adversário à altura do Benfica, o penta poderia ter sido alcançado e tudo o que foi desastroso esta época podia ter sido tapado e colocado à sombra de um campeonato ganho porque ninguém foi melhor, não por termos sido realmente bons.
Por outro lado, temos a própria direção do clube. É sabido, e mais do que discutido, que a direção encarnada falhou na altura de investir para esta temporada. Saíram peças fundamentais do onze inicial encarnado e pouco ou nada se fez para que a qualidade fosse reposta na equipa encarnada. A falta de soluções à altura da conquista de um pentacampeonato foi evidente desde o princípio da temporada até ao último jogo. Ao longo da época, houve sempre algo que faltou às águias – por vezes nem se sabia bem o quê, mas apenas que faltava de facto algo -, mas acontece que as probabilidades estão a favor da opinião de que o que faltava era qualidade, soluções, jogadores que conseguissem manter o mesmo nível de jogo independentemente de quem está em campo.
Por fim, Rui Vitória terá de ser um dos responsáveis. Por um lado, podemos ser um pouco injustos ao dizer que a culpa do fracasso desportivo foi do treinador português, tendo em conta que é um bicampeão português pelo clube e que venceu grande parte das taças nacionais nos anos anteriores a esta época de escassez. No entanto, também é verdade que parece faltar algo ao timoneiro das águias. Lucidez tática, assertividade nas substituições, pujança quando joga contra equipas maiores e – algo que a cada semana que passa é cada vez mais criticado – a sua fraqueza discursiva nas conferências de imprensa e flash interviews.
Se por um lado Vitória conseguiu encontrar o 4-3-3 que fez o Benfica voltar a jogar, a coragem para trocar o sistema tático encarnado só se deu quando metade da época já tinha sido jogada; se por um lado Vitória pouco tinha (em termos de qualidade individual) para mexer na equipa, como é o caso de colocar Seferovic em campo por não ter mais nenhum avançado para meter a jogar, a troca insistente de um avançado ou extremo para colocar Samaris em jogo aos 60 minutos e quando se ganhava pela vantagem mínima, além de previsível, demonstra a atitude demasiado cautelosa e pouco ousada do treinador português; se por um lado Vitória costuma vencer os jogos contra os ‘pequenos’, de forma mais ou menos sofrível, contra os rivais diretos o Benfica com Rui Vitória parece ter sempre imensas dificuldades a fazê-lo, até mesmo no próprio reduto; se por um lado o discurso era uma lufada de ar fresco por contrastar com a agressividade e arrogância do antigo treinador, agora é um discurso irritante, monótono, previsível e fraco que precisa de mais força, veracidade e peso.
Desta forma, podemo-nos despedir de 2017/18, esquecer que existiu, mas lembrar o que aconteceu para que quiséssemos tanto esquecê-la, de modo a que em 2018/19 seja para recordar.
Foto de Capa: SL Benfica
Artigo revisto por: Beatriz Silva