Há várias maneiras de descrever uma venda no que diz respeito aos clubes. Pode ser vista como uma necessidade directamente relacionada com questões financeiras – vejam o caso de André Silva no FC Porto -, uma inevitabilidade na medida em que um clube pura e simplesmente bate uma cláusula ou só porque sim, porque um clube precisava de reforçar um sector e foi ao mercado à procura de uma solução viável. No caso do Benfica é um misto de tudo.
Portanto, até ver, o Benfica viu Ederson e Lindelof irem para Manchester. O brasileiro foi tirar Bravo da baliza do City – bem precisam – e Lindelof foi fazer companhia a Baily no centro da defesa de Mourinho. Duas baixas de peso, visto que ainda não se sabe se o Benfica vai buscar um guarda-redes novo ou se Rui Vitória volta a apostar em Júlio César, e muitas questões se colocam na defesa. Luisão e Jardel? Luisão e Lisandro? Jardel e Lisandro? Alguém novo?
Não se sabe. E para que conste ainda pode piorar caso Nélson Semedo, Grimaldo e Mitroglou, apesar da existência de Seferovic, sejam os próximos. Tudo isto pode ser barulheira de tartaruga aflita se nos lembrarmos de que o Benfica às ordens de Vitória já foi capaz de nos surpreender jogando com aquilo que tinha à mão, mas não deixa de ser assustador pensar que a qualidade “daquilo que tínhamos à mão” era tanta e está a ir embora.
Nem quero sequer pensar no cenário em que Pizzi também faz as malas e se muda para algum lado. Manter uma equipa com esta capacidade competitiva, já com estas duas saídas registadas, vai ser complicado, quanto mais ter de reconstruir uma defesa e remodelar parte do meio-campo e do ataque. Parece uma missão impossível e o Benfica não tem nenhum Tom Cruise, que se saiba, nos quadros.
Como o título desta crónica sugere, uma venda, ou várias, pode ter dois tipos de conotação, mas, na realidade, quando o negócio é bem feito, tem sempre as duas. É de facto uma bênção, sobretudo, financeira. Estes 70 milhões provenientes das vendas de Ederson e Lindelof dão sempre jeito. Seja para ajudar com eventuais dívidas, melhorar o passivo ou ir às compras. O futebol é um negócio, por isso é bom que haja dinheiro para manter a máquina a funcionar.
Contudo, também pode ser uma maldição. Perder jogadores deste gabarito, mesmo por um preço justo, pode sair caro a médio prazo. Podem não ser encontrados substitutos à altura, o dinheiro pode ser mal investido em jogadores cujo desempenho não justifica o gasto, ou as dimensões do negócio podem não ser as melhores (Bernardo Silva e timings).
O mercado de transferências é uma altura de alegrias e tristezas. No entanto, se tudo correr como nos últimos tempos, levamos umas coças na prova do Emirates em Londres, perdemos 5-3 com o Sion, mas em Maio vamos ao Marquês.
Foto de Capa: SL Benfica