A democracia do golo e a ditadura dos goleadores

    Cabeçalho Futebol Nacional

    Não há forma de negar que o golo é a essência de um jogo de futebol. Sendo o único caminho para a vitória, só através dos golos uma equipa pode rentabilizar toda a sua qualidade de jogo, uma vez que boas exibições não garantem por si só pontos.

    Assim, numa altura em que cada vez mais todos os jogos são decisivos, importa averiguar o sucesso das equipas da Primeira Liga na missão de marcar e que caminhos percorrem para o fazer.

    Numa altura em que estão completas 19 jornadas, foram já disputados 170 jogos nesta edição do campeonato, aos quais acrescem uma primeira parte ainda suspensa do FC Porto – Estoril. Nestes referidos 170 encontros, a bola já bateu nas redes por 451 vezes, número consideravelmente superior aos 403 golos apontados no mesmo período na época transata.

    Importa ainda perceber que, caso todas as equipas tivessem o mesmo número de golos marcados, cada uma teria finalizado com sucesso em 25 ocasiões, mais três vezes do que o registado há um ano atrás. Mas, afinal, como chegam as equipas ao golo?

    Olhando, primeiramente, para o topo da classificação, assim como para a tabela dos melhores marcadores, um dado salta a vista: a única equipa com dois jogadores com mais de 10 golos no campeonato é o FC Porto. Com Marega e Aboubakar com, respetivamente, 14 e 16 golos, os avançados assumem grande parte da concretização dos dragões, mas ficam, ainda assim, distantes do total de 46 tentos apontados pela equipa de Sérgio Conceição.

    Marega e Aboubakar já apontaram, em conjunto, 31 golos para o campeonato Fonte: FC Porto
    Marega e Aboubakar já apontaram, em conjunto, 31 golos para o campeonato
    Fonte: FC Porto

    Este dado pode ajudar a perceber aquela que é uma das principais vantagens dos azuis e brancos em relação aos rivais: no FC Porto de Sérgio Conceição existem vários caminhos para o golo. Seja através da exploração da profundidade, muito bem aproveitada pela dupla africana, pela largura, pelas diagonais dos extremos ou até mesmo das bolas paradas, a democracia do golo parece imperar no Dragão, sendo que, até ao momento, e descontando as contratações de inverno, apenas Óliver Torres e Sérgio Oliveira não fizeram ainda o gosto ao pé.

    Já do lado dos rivais, o cenário é algo diferente. No caso do Benfica, Jonas é rei e senhor dos golos e leva já 23 para o campeonato, números verdadeiramente impressionantes. No entanto, o segundo melhor marcador do clube da Luz na Primeira Liga é Salvio, e o argentino apenas fez balançar as redes por sete vezes.

    Jonas é atualmente o melhor marcador do campeonato com 23 golos Fonte: SL Benfica
    Jonas é atualmente o melhor marcador do campeonato com 23 golos
    Fonte: SL Benfica

    A dependência do brasileiro da equipa de Rui Vitória parece evidente, e nos jogos contra equipas em que a sua inteligência, qualidade técnica e movimentação não sobressaem os encarnados têm dificuldades gritantes.

    Já no Sporting, Bas Dost é o responsável por aproximadamente 45% dos golos da sua equipa (Jonas assina metade dos do Benfica) e o jogo exterior da equipa, nomeadamente os cruzamentos de Gelson, de Acuña e dos laterais, parecem ser uma arma demasiado exclusiva da formação orientada por Jorge Jesus.

    A presença de Bruno Fernandes em zonas mais adiantadas do terreno, muitas vezes beneficiando dos excelentes apoios frontais do ponta de lança holandês, e toda a melhoria que este representa no jogo interior do conjunto leonino, são por vezes a única forma do Sporting fugir ao inevitável cruzamento. Mas subir Bruno Fernandes no terreno é retirar criatividade à primeira fase de construção, e são notórias as dificuldades da equipa de Jorge Jesus na ligação do jogo quando o médio se encontra mais subido.

    Vale ainda apena olhar para mais abaixo na classificação e atentar nos casos de Sporting de Braga e Rio Ave, respetivamente quarto e quinto classificados do campeonato. No caso da formação de Abel, a amplitude não só do número de marcadores, mas, sobretudo, do número de opções, é uma das imagens de marca do plantel. Os minhotos são, provavelmente, o conjunto em que é mais difícil apontar um onze titular, tal é o equilíbrio entre as várias opções ao dispor do seu treinador.

    Já na equipa de Vila do Conde, Guedes, com todas as qualidades que lhe são reconhecidas, está longe de ser um homem-golo, mas nem por isso a formação de Miguel Cardoso deixa de ser o sexto melhor ataque da liga. Com uma manobra ofensiva muito forte, que começa com o guarda-redes e envolve toda a equipa, qualquer um pode marcar no Rio Ave, sendo que o atual melhor marcador da equipa, João Novais (a par de Guedes), joga preferencialmente no meio campo e até começou mesmo a época como suplente.

    João Novais é o melhor marcador do Rio Ave, a par de Guedes, com 7 golos Fonte: Rio Ave FC
    João Novais é o melhor marcador do Rio Ave, a par de Guedes, com 7 golos
    Fonte: Rio Ave FC

    Apesar desta inegável importância do golo, convém nunca esquecer que, mais do que marcar muito, o essencial será sempre sofrer menos, já que uma vitória por 1-0 garante mais pontos do que um empate a 3. Estoril e Marítimo ilustram bem esta premissa, já que o conjunto de Daniel Ramos, atual sexto classificado, tem apenas mais dois golos marcados do que os estorilistas.

    A diferença está, evidentemente, nos golos sofridos. A consistência defensiva é a principal marca dos insulares, que concederam sensivelmente apenas metade dos golos sofridos pelo conjunto agora orientado por Ivo Vieira.

    A análise parece, assim, não deixar dúvidas: fruto da diferença de orçamentos e qualidade nos plantéis para as restantes equipas, os conjuntos que ambicionam chegar ao título devem, acima de tudo, encontrar soluções ofensivas variadas para chegar ao golo. Já no caso das restantes equipas, o golo não deve, nunca, deixar de ser procurado, mas a organização defensiva parece ser a solução para uma temporada sem sobressaltos.

    Foto de Capa: SL Benfica e Sporting CP

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    Pedro Paupério
    Pedro Paupériohttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é estudante de Ciências da Comunicação. Sendo um amante de desporto, é no futebol que encontra a sua maior paixão. A análise do que se passa em campo é a sua prioridade e não consegue ver um jogo sem tentar perceber tudo o que vai na cabeça dos treinadores. Idealiza uma cultura futebolística onde a tática e a técnica são muito mais discutidas do que a arbitragem.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.