Mas o espetáculo do futebol nesta zona do país não se fica pela bancada e pelo apoio que dela vem. Dentro de campo, as equipas do Norte do país aliam os resultados à atmosfera que conseguem criar. São conhecidas as deslocações que todos classificam de difíceis aos redutos nortenhos. ‘’Lá em cima’’, criaram-se as expressões que todos usam, mas poucos praticam: ‘’dar o litro’’, ‘’correr até cair para o lado’’ ou ‘’comer a relva’’. Sem olhar a conquistas ou à qualidade do futebol praticado, verificamos uma forte presença das equipas nortenhas nas duas mais altas competições do futebol nacional.
Na 1ª Divisão e nos últimos 10 anos, observamos uma participação nortenha quase sempre perto dos 50% (em 2015/16 eram apenas 8 em 18 participantes, em 2013/14, 2011/12 e 2008/09 eram apenas 7 em 16 participantes) ou superior (em 2014/15, 2016/17 e na presente edição, participam 10 equipas num total de 18).
Na 2ª Divisão, um campeonato mais extenso, competitivo, variado e de difícil acesso, a participação é maior. Também nos últimos 10 anos, a percentagem de equipas nortenhas é sempre superior a 50%. O destaque vai para a época de 2010/11, onde em 16 participantes, 11 estavam localizados na região Norte do país. Isto corresponde a aproximadamente 68% dos competidores e já nas duas épocas anteriores tinha sido de 62%. Na época passada correspondia a 50% e na anterior a 60%.
Olhando para a prova rainha, salta à vista a mesma tendência. Nos últimos 10 anos, só na época 2011/12 não houve participação nortenha na final. A Académica de Coimbra venceu o Sporting CP por 1-0. Neste período de tempo, seguiram para o Norte cinco Taças de Portugal (FC Porto x3, SC Braga, Vitória SC) e somam-se os vencidos: Vitória SC x2, FC Porto x2, SC Braga, Rio Ave FC, GD Chaves e FC Paços de Ferreira.
Uma referência ainda ao Torneio Interassociações Lopes da Silva. Para quem não conhece, é um torneio onde as várias associações de futebol do nosso país reúnem os seus melhores atletas sub-14 e se defrontam para coroar a associação campeã naquele que é o escalão imediatamente anterior às primeiras chamadas à Seleção Nacional (sub-15).
Nesta categoria e nos últimos cinco anos, a AF Porto tem conseguido atenuar aquele que vinha sendo o sucesso consecutivo da AF Lisboa. Neste período de tempo, venceu por duas vezes essa associação e por uma a AF Viseu. Nas outras duas edições (2013 e 2016), houve representação da região Norte na final; a AF Braga e a AF Aveiro, respetivamente, perderam para a AF Lisboa.
Os jogos para ‘’homens de barba rija’’ continuarão porque o Norte tem força. Os jogadores vão sempre correr mais, mas nem sempre melhor. Serão chamados de ‘’caceteiros’’ mas continuarão lá em cima, enquanto outros sobem e descem. Os duelos serão ‘’rasgadinhos’’ e os adversários serão abordados com a certeza de que ‘’para baixo do pescoço é canela’’. O futebol não se resume a regionalismos nem se pretende que uma região se superiorize a todas as outras. Não se procura elevar uma equipa ou região nem rebaixar qualquer outra. O futebol nacional não é feito disso. É feito das diferenças de região para região e são elas que caracterizam o perfume dos nossos campeonatos. Mas é inegável que esse perfume cheira a Alto Minho, Alto Tâmega, Porto, Ave, Cávado, Douro, Tâmega e Sousa e Trás-os-Montes.
Foto de Capa: Global Imagens/Ricardo Júnior