Na Segunda Liga, o cenário é mais equilibrado, sendo que os portugueses até costumam estar em ligeira maioria. CD Nacional, CF União e CD Cova da Piedade são, para já, dos clubes que mais estrangeiros empregam no escalão secundário, enquanto o CD Santa Clara contraria a tendência insular, apesar de também estar há muito longe dos voos a que se habituaram os rivais da Madeira. Os micaelenses contam no seu plantel com 15 portugueses, sendo que seis são açorianos.
No caso das formações insulares, o fenómeno é especialmente demonstrativo das disparidades existentes entre os clubes nacionais. Fruto, precisamente, da questão da insularidade, estas são muitas vezes obrigadas a um esforço suplementar para conseguirem convencer os jogadores a deixarem o território continental e rumarem aos arquipélagos. A tarefa nem sempre é fácil, já que a maior parte prefere ficar no espaço continental pela proximidade da família, da terra natal e das grandes zonas urbanas de Lisboa e Porto. Além do mais, também o vasto número de equipas nortenhas no principal escalão resulta num grande leque de opções para os jogadores naturais ou residentes nessa região do país.
Mas não são apenas os clubes madeirenses e açorianos que têm dificuldade para contratar jogadores de qualidade com experiência em Portugal. Fatores como a presença de investidores em emblemas como o GD Chaves, o Vitória SC ou o CD Aves, que permitem uma maior desenvoltura financeira, ou a política de contratações dos crónicos candidatos ao título, que recrutam para emprestar, resultam numa falta de competitividade no mercado interno, que obriga a comprar fora ou a recorrer às cedências temporárias.
As boas prestações da seleção e dos clubes portugueses nas competições europeias, ao longo das últimas duas décadas, contribuíram também para um maior mediatismo do campeonato nacional e, sobretudo, dos atletas que atuam no país. De reconhecida qualidade, os jogadores nacionais têm pretendentes em inúmeros campeonatos europeus, onde os salários são mais atrativos ou a carga fiscal menor, o que se traduz em mais um obstáculo para quem pretende contar com atletas bem experimentados em Portugal.
Atento ao mercado, o treinador Daniel Ramos, tem em mãos a tarefa de comandar o Marítimo europeu e admitiu recentemente à comunicação social, durante o estágio da equipa, que a intenção era dotar o plantel de experiência, mas que a tarefa não se tem revelado simples. “Os jogadores portugueses são difíceis de contratar”, afirmou também, numa entrevista ao JM, publicada a 9 de julho. O treinador dos verde-rubros reconheceu que é preferível apostar em atletas com conhecimento no futebol português, mas que essa não tem sido uma estratégia fácil de seguir, ressalvando, no entanto, os esforços feitos para “dar uma referência mais portuguesa ao Marítimo”. “Somos obrigados a recorrer a outros mercados em função das dificuldades de contratar os jogadores que tínhamos referenciados”, justificou o treinador de 46 anos.
Foto de capa: Getty Images
Revisto por: Pedro Couto