Quando era apenas uma criança – ainda mais do que sou agora – tinha como sonho ser jogador de futebol. Até aqui não devo estar a dar nenhuma novidade, visto que, arrisco dizer, mais de 80% das crianças rapazes desejam ser futebolistas. Muitos tentarão. A maioria ficará apenas pelo sonho. E os que triunfarão? Esses são poucos. Muito poucos.
A par da maioria que referi, também eu fiquei apenas pelo sonho. Nem tentei, sequer. Nunca joguei futebol em “escolinhas”, apenas na escola e na rua, com os amigos. No ar fica a dúvida: será que teria potencial para ser um grande jogador? Talvez sim, talvez não. O certo é que vi colegas, amigos ou simples conhecidos a fazerem parte desse grupo de “poucos” que se vão tornar muito: vão ser jogadores de futebol. Eu segui para jornalismo e eles para Alcochete, para o Seixal, para a fama, a idolatria, a vida próspera e de sucesso. Desengane-se. Pois dentro dos poucos que vi – vimos – seguir de chuteiras na mão, ainda menos chegarão a esse patamar.
Se olharmos para a situação desta forma, talvez saia eu a ganhar: daqui a vinte anos, espero eu, estarei a exercer jornalismo, seguro da minha vida e do meu emprego. E eles? Aqueles que deixaram para trás os estudos aos 15 anos para terem os olhos na bola? Que será deles se não chegarem à Primeira Divisão ou a um clube que os sustente o suficiente para viverem durante a sua curta carreira e mais além? Certamente não estarão bem.