Este país não é para campeões

    Cabeçalho Futebol Nacional

    A seguinte história retratada neste artigo, bem como os seus diálogos, são uma obra de ficção criada pelo autor com o intuito de ilustrar o panorama futebolístico português desde o fatídico dia 10 de julho de 2016. Fatídico porque nesse dia, durante os festejos do golo de Éder, o primo do autor – chamemos-lhe Carlos – bateu com a cabeça e entrou em coma. Acordou agora, sete meses depois. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

    – Diz-me que conseguimos, André! Fomos campeões?
    – Claro que fomos, Carlos! Ainda duvidavas?
    – Não, eu sempre acreditei! Ah, é tão bom poder dizer que sou campeão europeu! Finalmente! – deslumbrava-se o meu primo, com um sorriso de orelha a orelha.
    – É fantástico! – anuí eu – E a festa foi mesmo bonita, pá!
    – Então mas conta-me mais! Como estão agora as coisas? Quem está em primeiro? – perguntou o Carlos entusiasmado.
    – Está tudo na mesma… em primeiro está o Benfica, em segundo o Porto e em terceiro o Sporting.
    – Hmm… e na Champions? Como nos safámos? Também fomos longe? – quis saber ele.
    – Não foi grande coisa.  – respondi – chegámos no máximo aos oitavos, mas o Benfica foi arrumado por 4-1 e o Porto por 3-0. O Sporting ficou em último na fase de grupos. Até perdemos um lugar nas competições europeias: caímos no ranking.
    – Caímos?! Então mas com jogadores campeões europeus nos clubes e mesmo assim fomos arrumados?
    – Pois… fomos mesmo, nem deu hipótese – confirmei eu.
    – Então mas ao menos andam a jogar bem no campeonato? – ripostou o meu primo.
    – Nem por isso. Já jogou bem o Sporting, depois espalhou-se. Já jogou bem o Benfica, mas joga enervado, ganha nos mínimos. Está a subir o Porto, mas ainda não convenceu também.
    – Mas isso quer dizer que as outras equipas estão a dar luta! – exclamou.
    – Também não. O quarto classificado, o Braga, está a quase dez pontos do Sporting, no terceiro.
    – Que coisa, que desinteresse, esperava mais emoção… mas ao menos temos a nossa Seleção, certo? Só vitórias, não é? – perguntou numa gargalhada confiante.
    – Por acaso estamos em segundo lugar, perdemos logo com a Suiça. Agora perdemos com a Suécia num amigável também. Esperemos que não volte a máquina de calcular! – respondi.
    – Mau! Então mas estás a gozar ou quê? Somos campeões! Perdermos jogos com aquele apoio todo? – questionou incrédulo.
    – Não estou não! E nem queiras saber do apoio! – disse eu entre risos – no penúltimo jogo, a claque da Seleção insultou o Benfica, as claques do Benfica responderam e até iam agredindo um dirigente do Sporting!
    – O quê? Mas houve porrada?
    – Não, porrada não, mas houve ataques. E muitos! Do Benfica à FPF, do Benfica ao Porto e às suas claques, do Porto e das suas claques ao Benfica, do Porto aos árbitros, dos árbitros ao Benfica, do Benfica à Comissão de Arbitragem e ao Conselho de Disciplina, do Conselho de Disciplina ao Sporting, do Sporting ao Benfica, do Benfica ao Sporting, do Sporting ao próprio Sporting, do Sporting ao Vitória de Setúbal, do Vitória de Setúbal ao Porto, do Porto à CMTV, da CMTV ao Cristiano Ronaldo, do Cris…
    – Epa, já percebi, já chega! Está tudo na mesma, não é?

    A pressão aos árbitros tem sido uma constante por parte de todos os principais clubes, neste caso, de uma claque afeta ao FC Porto
    A pressão aos árbitros tem sido uma constante por parte de todos os principais clubes, neste caso, de uma claque afeta ao FC Porto

    Realmente está tudo na mesma ou pior. As falcatruas, o mau ambiente, o derrotismo e a cegueira dos adeptos, que gostam mais do seu clube do que de futebol. Se tivéssemos de contar a alguém como tem sido o futebol português desde a conquista do EURO 2016, falaríamos mais de polémicas e de acontecimentos negativos, do que de futebol e situações positivas.

    Neste mês de março, então, aconteceu de tudo: descemos no ranking UEFA e perdemos uma equipa nas competições europeias, sendo eliminados das mesmas por goleada; a palavra “bardamerda” foi mais proferida do que a palavra “golo”; houve ameaças a árbitros com património dos mesmos vandalizado; ou até a claque da Seleção Nacional a entoar cânticos anti-Benfica e claques benfiquistas a responderem com pressões à FPF e com insultos aos visados e ao vice-Presidente do Sporting. Por último, houve castigos e operações, com um cheiro a tempos passados: Bruno de Carvalho foi punido com 113 dias de suspensão de funções, o mais pesado castigo aplicado deste a negra época do “Apito Dourado”.

    Ao mesmo tempo, a “Operação Jogo Duplo” fez mais seis arguidos: cinco jogadores e um membro dos Super Dragões, por suspeita de viciação de resultados. E é triste que seja esta a paisagem do futebol português neste momento – um país campeão europeu em título, mas não em atitude. Só tenho pena que esta parte não seja também ficção.

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    André Maia
    André Maiahttp://www.bolanarede.pt
    Durante os seus primeiros seis anos de vida, o André não ligava a futebol. Até que no dia 24 de junho de 2004, quando viu o Ricardo a defender um penálti sem luvas, se apaixonou pelo jogo. Amante da história de futebol e sempre com factos na ponta da língua, tem Cristiano Ronaldo e Rui Patrício como os seus maiores ídolos.                                                                                                                                                 O André escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.