A Nova Geração Portista

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    Desde a sua criação, o FC Porto já venceu uma coleção de títulos tão grande que teve a necessidade de criar, em 2013, o museu do clube. Pondo a ironia de parte, no que diz respeito ao futebol, o FC Porto totaliza 74 títulos oficiais da modalidade, sendo o recordista das Supertaças Cândido de Oliveira e internacionalmente é detentor de 2 Ligas dos Campeões, 2 Ligas Europa, 1 Supertaça Europeia e 2 Taças Intercontinentais – conquista muito rara no futebol mundial. Evidentemente, todo este sucesso é fruto de muitas condicionantes, nomeadamente os bons treinadores que passaram pelo clube, mas é são contratações que o FC Porto faz que merecem o maior destaque. O FC Porto é, desde há alguns anos atrás, um clube que investe milhares de euros e que vende por milhões de euros, perdendo-se a conta às vezes que determinado jogador se valoriza no Dragão.

    As mais recentes transferências, de Mangala e de Defour, permitiram ao FC Porto ser, na última década, o clube português que mais valoriza os seus ativos. Ademais, está apenas a 20 milhões de euros de igualar o somatório de vendas dos restantes “grandes” nacionais juntos – Benfica, Sporting e Braga – nos últimos 10 anos, ainda que as possíveis saídas de Enzo, Gaitán e Luisão do plantel encarnado e de Slimani e William Carvalho do Sporting possam vir a equilibrar as contas.

    Porém, se ao invés de 10 anos forem considerados 11 anos, incluindo aquele em que o FC Porto ganhou a Liga dos Campeões e vendeu grande parte dos seus jogadores, fazendo entrar nos seus cofres cerca de 95 milhões de euros, essa diferença de 20 milhões de euros cai substancialmente.

    O FC Porto recebeu 30,5M€ por cerca de 57% do passe de Mangala  Fonte: Sky Sports
    O FC Porto recebeu 30,5M€ por cerca de 57% do passe de Mangala
    Fonte: Sky Sports

    Desde 2003/04, já saíram do plantel azul e branco jogadores como Ricardo Carvalho, Deco, Paulo Ferreira, Alenichev, Costinha, Maniche, Luis Fabiano, Diego, Lucho González, Lisandro López, Bosingwa, Anderson, Raúl Meireles, Guarín, Quaresma, João Moutinho, Álvaro Pereira, Cissokho, Bruno Alves, Pepe, Otamendi, Falcao, Hulk, James, Fernando ou Mangala. A maior parte destes jogadores não era conhecida nem pelos mais fanáticos do desporto-rei quando chegaram ao Porto, mas pelo bom desempenho na Invicta foram contratados pelos grandes clubes europeus. O Chelsea, por exemplo, já gastou cerca de 70 milhões no clube azul e branco e o Zenit, que contratou Hulk por 60 milhões e Bruno Alves por 20, ainda gastou mais! Mas o negócio que mais merece ser destacado é talvez o de Cissokho, que foi comprado por 300 mil euros e foi vendido por 15 milhões de euros meia época depois.

    Deste conjunto de vedetas que fazem parte das mais caras vendas do clube, apenas Bruno Alves e Ricardo Carvalho são jogadores que provêm da formação do FC Porto. Este facto demostra que ou os jogadores da formação não têm qualidade e o FC Porto desperdiça dinheiro na sua formação, ou clube tem deixado no banco (e em outros clubes) os seus formandos! Parece evidente que se trata da segunda opção!

    É este o ponto de chegada: o FC Porto, mais do que um clube que conquista frequentemente os títulos nacionais, é um clube “vendedor”! É impossível concorrer com as grandes potências do futebol, como Real Madrid, Barcelona ou Bayern, e portanto é impossível manter o plantel durante muito tempo – os jogadores procuraram clubes cada vez mais aliciantes (e que ofereçam melhores salários). Todavia, é o ponto de entrada para muitos jogadores desconhecidos, vindos maioritariamente do continente americano, o que permite ao FC Porto ter destaque nos mercados internacionais. Porém, se a multiplicação dos seus ativos permite manter as contas do clube equilibradas, não garante que este se “vingue” nas competições nacionais. A “época de ouro” do clube tarda em aparecer de novo!

    Hulk - a maior compra e a maior venda da história do FC Porto  Fonte: Telegraph
    Hulk – a maior compra e a maior venda da história do FC Porto
    Fonte: Telegraph

    Em primeiro lugar, a base dos grandes e eternos clubes de futebol é a formação! A formação contínua, a aposta em tácticas e técnicas bem definidas, desde os escalões menores até a idade adulta, permite que os jogadores estejam perfeitamente adaptados ao estilo de jogo do clube. Os clubes mais importantes nesta matéria são o Barcelona e o Ajax, ainda que o primeiro acrescente à sua cantera jogadores de grande qualidade formados em outros locais do mundo e o segundo se limite a apostar na formação. Por este motivo, o Ajax não consegue alcançar os resultados de outrora, mesmo que seja considerada a melhor escola de formação do mundo.

    Lopetegui e a sua “armada” trouxeram para o Porto novas expectativas, diferentes tácticas de jogo e a aposta em jogadores da formação, como é o caso de Rúben Neves. Mas será isso suficiente para trazer de volta o invencível FC Porto de outrora? Sem dúvida que a valorização da formação FC Porto é um ponto de partida, pelo papel indispensável que estes jogadores têm no plantel principal, como já foi supramencionado. Para além disso, Lopetegui trouxe consigo uma figura praticamente desconhecida no futebol, Pablo Sanz Iniesta. No clube, Iniesta será o novo responsável pela formação do clube, tomando o lugar de Luís Castro, que passará a ser exclusivamente responsável pelos juniores e pelo comando da equipa B – que é agora praticamente uma equipa de sub-20 -, demonstrando a aposta em jogadores mais jovens. Iniesta já pertenceu à Federação Catalã de Futebol e actualmente este “aliado” de Lopetegui está também ligado à seleção costa-riquenha, não se sabendo se lá irá continuar ou se irá dedicar-se exclusivamente ao clube. Sabe-se que é um forte apologista do estilo do Barcelona, tendo implementando essa filosofia em todos os escalões da formação catalã. Pouco antes de chegar à Costa Rica deu uma entrevista em que foi questionado acerca da mentalidade que pretendia incutir nas seleções jovens do País e respondeu: “um jogo com saída desde trás, de poucos toques e sobretudo com muita posse de bola – tentaremos implementar o estilo do Barcelona nos jovens jogadores costa-riquenhos (…) o Barcelona tem os melhores jogadores mundo, o que torna tudo mais fácil, mas espero que em 1-2 anos tenhamos um futebol vistoso, de muita mobilidade e de toque”.

    Pablo Sanz Iniesta é o novo coordenador da formação do FC Porto  Fonte: aldia.cr
    Pablo Sanz Iniesta é o novo coordenador da formação do FC Porto
    Fonte: aldia.cr

    Por conseguinte, ao contratar Lopetegui, o FC Porto não contratou exclusivamente um treinador que se limita a preparar uma equipa para a I Liga. Deu-lhe, antes, a possibilidade de escolher jogadores, trazer gente da sua confiança e implementar as suas ideias, não só na equipa principal, mas também na academia. Esta estratégia é pioneira em Portugal e pode ser o passo fulcral que faltava no futebol nacional, ou seja, a manutenção do estilo de jogo ao longo dos diferentes escalões, permitindo que mais talentos como Rúben Neves sejam mais facilmente identificados e a equipa B deixe de ficar “na margem” do futebol português.

    Concluindo, ao contratar Lopetegui e ao conceder-lhe esta liberdade, Pinto da Costa mostrou que confia no trabalho do espanhol e que afinal a idade pode trazer outras virtudes. Não sabemos por quanto tempo este grande homem, que estará para sempre ligado à história do clube, se manterá como presidente. No entanto, ao trazer esta nova mentalidade para o clube e para a sua formação irá permitir que dentro de poucos anos o FC Porto seja um clube de excelência nas transferências, na formação e nos títulos (assim esperemos!). Por outro lado, que o novo presidente tenha o seu trabalho facilitado! Como dizia, um génio, “o único lugar em que a palavra sucesso vem antes de trabalho é no dicionário”! Somos Porto!

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    João Luís Martins
    João Luís Martins
    Sócio do FC Porto desde o dia em que nasceu, é apaixonado por desporto e treinador de futebol.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.