A Revolução da Inteligência

    eternamocidade

    Este domingo joga-se mais um clássico do futebol português: FC Porto e SL Benfica defrontam-se na meia-final da Taça da Liga, num jogo meramente formal para as duas equipas. Vamos por partes: o Benfica chega ao Dragão depois da conquista do título, dos festejos no Marquês e sobretudo depois de uma magra mas importante vitória na última quinta-feira frente à Juventus para a Liga Europa; quanto aos dragões, esta meia-final da Taça da Liga nem uma “salvação” de uma época terrível parece ser. Os portistas vêem nesta competição apenas uma oportunidade para juntar um troféu (irrelevante, digo eu) ao seu palmarés. Quando as duas equipas pisarem o relvado do Dragão, a cabeça do plantel benfiquista estará com certeza no jogo de Turim e o pensamento dos jogadores portistas na época 2014/15.

    Bem sei que depois de uma época de tantos desaires, a última coisa que os adeptos portistas querem é mais um fracasso. Ainda assim, fazer desta meia-final da Taça da Liga o jogo mais importante da época parece-me um exagero e sobretudo um insulto para aquilo que tem sido a história recente portista. Não deixa por isso de ser curioso como no espaço de 12 meses a história ter mudado tanto: o Benfica já aparece campeão nacional, quando no ano passado todos se lembram do célebre gesto de Jesus a ajoelhar-se no Dragão; o Benfica aparece a caminho da final da Liga Europa, enquanto o FC Porto foi vergado de forma humilhante em Sevilha. E, sim, já nem falo da diferença de qualidade das duas equipas durante esta época porque sobre isso já dissertei dezenas de vezes este ano. Ainda assim, é importante recordar o que foi dito e escrito depois do final da época passada para colocar na cabeça, tal como escrevi na semana passada, que uma época como esta só aconteceu por puro demérito portista.

    Contudo, e apesar das críticas que podem ser feitas à equipa (e que eu próprio fiz), ao treinador e à estrutura, sinceramente não entendo a falta de memória de muitos “adeptos”. Depois de tantos anos onde campeonatos se acumularam e onde títulos europeus foram deixando o clube e a cidade orgulhosos, não entra na minha cabeça que uma época perdida seja argumento suficiente para colocar tudo em causa. Ao longo das últimas semanas, tenho assistido a ataques nas redes sociais, a ameaças feitas a jogadores e a ataques brutais feitos a dirigentes. Depois de tantos anos de conquista, será justo? Será justo que depois de um tri-campeonato os adeptos coloquem tudo em causa apenas e só em virtude de algumas escolhas de um presidente que entrará para sempre na história do futebol mundial?

    Não quero que me interpretem mal e que achem que estou a tentar desculpar: não, bem pelo contrário. Como tenho escrito no Bola na Rede, esta época do FC Porto deve ser um alerta para todos aqueles que vivem este clube, desde jogadores a adeptos. Contudo, a pior coisa que acredito que se pode fazer é ter memória curta e esquecer o calcanhar de Madjer em 1987, a correria de Derlei em 2003, a magia de Deco em 2004 ou o voo de Falcao em 2011. Bem sei que o futebol é um jogo de emoções e que muitas das vezes a memória é demasiado curta para os adeptos se poderem lembrar de momentos como os que citei agora. No entanto, depois de todas estas derrotas, não me parece que este argumento justifique a tão proclamada “revolução” que os tais “adeptos” portistas tanto apregoam.

    pinto da costa e antero
    A estrutura que este ano errou é a mesma que somou títulos atrás de títulos
    Fonte: A Bola

    Fui escrevendo ao longo da época neste espaço que o plantel portista foi mal construído, que a aposta no treinador foi errada e que alguns erros básicos de comunicação foram cometidos sem que razão aparente houvesse. Ainda assim, não compreendo como neste momento, com tão pouco para jogar e para ganhar, se declare que é preciso mudar tudo, mudar os protagonistas todos e fazer uma autêntica revolução como se um clube fosse gerido de fora para dentro.

    Um dia depois da celebração dos 40 anos da Revolução dos Cravos, pareceu-me interessante colocar em discussão a tão proclamada revolução que tantos desejam para o FC Porto. Um plantel mal construído e um erro na nomeação de um treinador não devem bastar para colocar tudo em causa e achar que tudo deve mudar. Olhando para o exemplo inglês, é inteligente pensar que só porque um clube como o Manchester United está a fazer uma das piores épocas da sua história deve mandar jogadores como Rooney, Van Persie, Javier Hernandéz ou Nani embora? Pois…

    No FC Porto é assim também que acredito que se deve escrever a próxima história, o próximo capítulo de um clube destinado a vencer. Apesar de todos os erros cometidos, não acredito que o Mangala não consiga ser um central de classe europeia, que Danilo e Alex Sandro se tenham esquecido da qualidade que têm, que Jackson já não saiba marcar um golo ou, pior, que Pinto da Costa já não saiba liderar um clube.

    40 anos depois da Revolução dos Cravos, não acredito que seja preciso soltar os tanques e trazer o povo para a rua para reivindicar o que seja. Afinal de contas, são mais as vitórias do que os desaires na nossa memória: sim, essa memória que não deve ser curta e que não deve ser selectiva para todos aqueles que já nos deram tantas alegrias e conquistas. Porque, sim, os outros também jogam. Não se esqueçam disso.

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