Caros aficionados do FC Porto,
Escrevo-vos esta carta de igual para igual, isto é, na condição de adepto incondicional do único clube que me desperta emoções extremas e incontroláveis: o FC Porto. E é precisamente colocando-me no papel de adepto que consigo perceber, tão bem quanto possível, a frustração que sentem por mais uma temporada futebolística que, aproximando-se do seu final, provavelmente não trará até à Cidade Invicta, pelo quarto ano consecutivo, qualquer troféu.
Não estamos habituados a isto. Não estamos, nem queremos habituar-nos a isto. A nossa matriz é outra; é a do calcanhar do Madjer contra o FC Bayern München, da arrancada imparável do Rui Barros contra o AFC Ajax, do golaço na neve do Madjer contra o CA Peñarol, da imparável insistência do Derlei contra o Celtic FC, da classe do Deco contra o AS Monaco FC, do olhar mortífero do Pedro Emanuel antes de marcar o penálti decisivo contra o CD Once Caldas, do voo do Falcão contra o SC Braga. Essa é a nossa essência, a essência do “ser Porto”.
Como se esta história de glória não bastasse, somos adeptos especiais. Não nos limitamos a dizer, de forma acrítica, “o FC Porto é o maior” ou “somos o clube com mais títulos conquistados em Portugal” como outros fizeram num passado em que nada ganhavam. Nós apontamos o dedo, tentamos perceber o que está mal e advogamos pela mudança. Mesmo nos momentos em que nos revoltamos com as arbitragens nunca deixamos de criticar os jogadores, o treinador, ou até mesmo o Presidente se entendermos que tal é necessário, porque aquilo que queremos é voltar a ganhar com a certeza de que no FC Porto não existem “vacas sagradas”. Se é preciso mudar, então mude-se tudo o que for preciso; a única coisa que não admitimos é passar mais quatro anos sem que possamos sair à Avenida dos Aliados para festejar a conquista de títulos.