DesfaSADa do tempo

    dosaliadosaodragao

    Habituámo-nos a olhar para o FC Porto e a vislumbrar como a base de todo o imenso sucesso das últimas décadas (sobretudo) uma organização directiva plenamente definida, estruturada e assente na figura maior do seu Presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa. Não sou eu que o digo, aliás; todo o profissional que envergou a camisola dos Dragões tece, a cada entrevista, rasgados elogios àquilo que mais comummente se qualifica de “Estrutura” do actual tri-campeão nacional.

    Todavia, nem este mar é todo azul nem o universo FC Porto é todo cor-de-rosa. Se inquestionável continua a ser a liderança de Pinto da Costa – por mais que os rivais falem em ditadura, plesbicito ou democracia especial, sempre desprezando que é, precisamente, Pinto da Costa a maior das suas dores de cabeça (basta atentar na necessidade aguda que o Presidente do Sporting demonstra em comentar entrevistas e declarações do líder dos Dragões) e o construtor de um império de vitórias –, a verdade é que, do meu ponto de vista, a Estrutura tem falhado (ou, pelo menos, tem estado mais exposta a riscos) do que em momentos anteriores.

    Qualquer análise requer factos e, deste modo, vários são os exemplos que podem ser apontados de uma gestão menos consentânea com aquilo a que o FC Porto, ao nível da sua organização e planeamento, nos foi acostumando. À cabeça, o ‘caso Marat Izmailov’. O russo está verdadeiramente desaparecido em combate: não é visto a treinar no Olival há uma data de meses e, por entre a versão oficial de que continua a “tratar de assuntos pessoais”, muito se tem especulado e muitas versões e teorias têm vindo público. A verdade é que a situação se arrasta sem um fim à vista, com todo o prejuízo para uma equipa e um plantel que se viram privados, desde cedo, de um elemento que se adivinharia útil para atacar esta temporada. Mais do que isso, nunca ninguém ligado à cúpula portista veio a terreno esclarecer (no mínimo, os sócios e adeptos mereciam mais do que o risível e repetido boletim oficial diário) o que, de facto, se passa com o internacional russo e o porquê da sua (eterna?) ausência. Algo nunca visto em momentos anteriores.

    Marat Izmailov. A última aparição data de 22 de Setembro de 2013.  Fonte: Reflexão Portista
    Marat Izmailov. A última aparição data de 22 de Setembro de 2013.
    Fonte: Reflexão Portista

    Por outro lado – e voltando a um ponto que já cheguei a tocar neste mesmo espaço –, o plantel desta época parece ter sido construído de forma primária, acabando por ser desequilibrado. Desde logo dois factos: para além de metade da época ter sido jogada apenas com um verdadeiro extremo (Varela), as laterais (com Danilo e Alex Sandro) tiveram e têm um défice de alternativas. Aqui importa relembrar Fucile – a SAD portista não soube gerir este dossier; o uruguaio foi afastado por Vitor Pereira, regressou com Paulo Fonseca mas está de novo fora das contas. Mais do que ter sido um jogador problemático e com pouco rendimento desportivo nas últimas épocas, é hoje um atleta em final de contrato e acabará por sair sem qualquer retorno ao nível financeiro. E tão diferente que poderia ter sido se lembrarmos que Fucile tinha a cotação em alta logo após o Mundial de 2010. Semelhante raciocínio vale, aliás, para a situação de Rolando, outrora patrão da defesa do FC Porto. Ou ‘Cebola’ Rodriguez. Três jogadores que, em determinado momento, aliaram a um rendimento desportivo bastante interessante a possibilidade de uma mais-valia financeira e que acabaram ou acabarão por sair – advinha-se – s€m honra n€m glória.

    Retomando o fio da actualidade e o problema dos corredores do FC Porto ao nível ofensivo, não deixa de ser impressivo que a SAD (e, aqui, talvez também Paulo Fonseca) tenha desprezado um prodígio argentino – ainda que com muito por onde crescer – que em Itália dá provas do seu potencial e desperta a cobiça de alguns emblemas importantes ao mesmo tempo que resgata um trintão com muita magia mas sem ritmo de jogo. Em suma, Iturbe por Quaresma – não que o ‘Harry Potter’ não esteja a ser uma verdadeira lufada de ar fresco (e a surpreender-me) no jogo sem soluções do actual Dragão; a verdade é que a solução encontrada se não apresentava risco de uma perspectiva financeira, em termos desportivos foi (e é) uma cartada perigosa: esperar e desejar que Quaresma venha dar a magia, acutilância e capacidade no 1×1 de que o FC Porto necessita após a gorada contratação de Bernard. Numa palavra, a SAD falhou Bernard, ignorou Iturbe, delineou um plantel coxo e num acto mais de fé do que de racionalidade fez regressar Quaresma.

    Juan Iturbe. Ainda irá o argentino a tempo de brilhar no Dragão?  Fonte: minutouno.com
    Juan Iturbe. Ainda irá o argentino a tempo de brilhar no Dragão?
    Fonte: minutouno.com

    Neste contexto, podemos ainda falar da contratação de Diego Reyes. O central mexicano tem um futuro brilhante à sua frente, não tenho dúvidas; mas não teria sido mais prudente, num plantel com, na altura, Maicon, Otamendi, Mangala e Abdoulaye, canalizar o montante despendido (num total de 9M€) no reforço de outras posições (já anteriormente enunciadas) mais carecidas? Como não seria possível e aconselhável capitalizar o excelente rendimento de Walter no Goiás através de uma transferência, já que o brasileiro dificilmente voltará a ter oportunidade no FC Porto? E a solução para Kléber – outrora um ponta-de-lança muito promissor e apreciado em diversos pontos mas hoje encostado na equipa B – não poderá passar por algo diferente do que a desvalorização total do atleta tão previsível perante o actual cenário? Noutro tempo talvez as respostas, para o adepto portista, fossem mais óbvias…

    É certo que os Tomás Costas e os Predigers desta vida continuarão a existir; é impraticável que um clube tenha uma taxa de sucesso incontestável no que diz respeito a contratações e decisões a nível de mercado. Mesmo perante estas premissas, a percentagem de acerto do FC Porto é, ainda, bastante respeitável – há poucas equipas a vender pelos números dos Dragões (Moutinho, Hulk, Falcão e James são os exemplos mais recentes). Agora, e não obstante este facto, muito discutíveis têm sido as opções tomadas por quem dirige o Dragão desde o topo nos últimos anos. Ou melhor, mais discutíveis do que anteriormente. Cingindo-me apenas às quatro linhas, Sapunaru, Belluschi, Janko, Miguel Lopes, Liedson ou Atsu – para além dos anteriormente citados – são tudo exemplos de recursos humanos que, contratados, vendidos, trocados ou dispensados, foram consequência de um pensamento que invadiu os escritórios do Dragão: o de que, hoje, o mínimo indispensável para ganhar chega. Talvez seja momento de a Estrutura recuperar aquele pressuposto a partir do qual construiu um FC Porto vencedor: aqui só podem mesmo estar os melhores. Em qualquer que seja a área ou departamento.

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    Ao ritmo do Penta e enquanto via Jardel subir entre os centrais, o Filipe desenvolvia o gosto pela escrita. Apaixonou-se pelo Porto e ainda mais pelo jogo. Quando os três se juntam é artigo pela certa.                                                                                                                                                 O Filipe não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.