Especial Clássico: Benfica 2-0 FC Porto

    O Benfica recebeu e venceu o FC Porto por 2-0 na última jornada da primeira volta. Num jogo intensamente disputado, Rodrigo (13m) e Garay (53m) fizeram os golos que valeram os três pontos e a liderança isolada da Liga aos encarnados.

    Em tarde de homenagem a Eusébio, Rodrigo abriu o caminho para o triunfo / Fonte: Lusa
    Em tarde de homenagem a Eusébio, Rodrigo abriu o caminho para o triunfo
    Fonte: Lusa

    Sport Lisboa e Benfica

    Era tarde de emoções fortes e ninguém o negava. Os benfiquistas responderam à chamada que Eusébio involuntariamente deixou e quiseram estar presentes naquele que seria, teoricamente, e até ao momento, o jogo mais difícil do campeonato…também ele a encerrar a primeira parte do mesmo. Igualdade pontual no pódio com os três grandes a mostrarem como se dá de comer (bom futebol) ao povo português, se bem que pelas 16h00 de Domingo já o Sporting tinha empatado na Amoreira e tremia com a possibilidade de ver um dos seus dois adversários directos distanciar-se. O que veio mesmo a acontecer.

    O Benfica abriu as portas a uns 63 mil espectadores – naquela que foi, de longe, a melhor assistência do ano – e preparou coreografia, homenagem, minuto de silêncio, vídeo…tudo para lembrar e relembrar o Rei que partiu há ainda menos de uma semana. Estar no estádio – e posso afirmá-lo sem precedentes porque fui um dos privilegiados – foi como ir ao céu e voltar. Poucas coisas sabem assim, daquela maneira única que todas e nenhumas palavras servem para explicar. Arrepiante.

    Apito inicial e a equipa da casa a querer ir para cima do adversário. Mais bola, mais atrevimento e o lado esquerdo a funcionar on wheels, proporcionando alguns sustos a Paulo Fonseca e seus pupilos. Mas cedo o FC Porto se recusou a abandonar o jogo e guardou para si a bola. Ainda só íamos com dez minutos de jogo e já se percebia que as bancadas queriam ver mais Benfica, ou o mais normal seria voltar aos tempos em que nem pintados de ouro os jogadores de encarnado conseguiam vencer o clube nortenho. Nem de propósito e sem muitos o conseguirem prever, Rodriguito, numa perfeita e oportuna homenagem ao Pantera Negra, faz o primeiro da noite: um remate vistoso e indefensável pela esquerda, ao minuto 13…o mesmo número que Eusébio envergou ao serviço da Selecção Nacional no Mundial de 66. Respira fundo, Jesus. Ficou mais fácil.

    Sabemos é que, quando fica mais fácil para o Benfica, abre-se lugar ao disparate. Ora, sem tirar nem pôr: os azuis e brancos foram ganhando espaço e mais espaço e quando se dava por eles estavam em cima da área encarnada a tentar bombear bolas para a baliza de um Oblak que entrou em campo como o terceiro mais novo guarda-redes de sempre a enfrentar o FC Porto no eterno clássico. Com uma exibição segura e sem grandes preocupações, o jovem alcançou perante o rival nortenho o sexto jogo consecutivo sem sofrer golos tornando-se no melhor guarda-redes estreante da história do clube. Com ou sem coincidências, a defesa do Benfica mostrou-se também ela segura – ainda que com linhas muito baixas – e assim fomos para intervalo. O FC Porto não era preciso, mas estava mais forte.

    Voltou-se para aquela que seria uma segunda parte sem muita história. O Benfica entrou pesado e sem vontade de ver o seu adversário jogar e as bancadas deliciaram-se com o festim de bola que iam vendo. Passes acertados, iniciativas de se lhe tirar o chapéu, espaço para chegar ao meio e uma defesa irrepreensível. Ia-se notando, por esta hora, a importância de Matic e Enzo neste esquema habitual, e depois a importância de Maxi e Siqueira na quebra das laterais do FC Porto. Como se não bastasse, os centrais ainda subiam e, numa dessas ocasiões, Garay – de canto – meteu a cabeça à bola e bateu um Helton pouco inspirado e relativamente nervoso. Estava feito o segundo da noite e nem a entrada de Quaresma serviria para pôr água na tépida fervura que era o jogo de Paulo Fonseca. Foi um jogo bonito e simples, muito disputado, mas que teve um justo vencedor: o que realmente venceu.

    A assinalar ainda que Artur Soares Dias tem falhas relativamente estranhas e critérios que deixam um pouco a desejar. Entra em campo com o objectivo de não amarelar desnecessariamente os jogadores de ambos os conjuntos, mas consegue – já na segunda parte – atribuir cinco cartolinas em menos de dez minutos. A isto junte-se uma mão de Mangala na área que o juiz da partida não conseguiu ver – minuto 52 – e um “chega-para-lá” perfeitamente escusado de Garay sobre Quaresma que poderia ter valido grande penalidade para os azuis e brancos – minuto 80. Vale a pena deixar bem explícito que não foi um jogo propriamente fácil para o árbitro que, para além de ter 63 mil pessoas à sua volta, teve ainda de lidar com a agressividade excessiva dos jogadores do FC Porto na primeira parte…tendo essa mesma agressividade sido retribuída em alguns poucos lances por parte dos jogadores do Benfica.

    Campeões de Inverno. “Só” falta o resto.

    Rodrigo e Garay foram os autores dos golos na vitória encarnada / Fonte: Lusa
    Rodrigo e Garay foram os autores dos golos na vitória encarnada
    Fonte: Lusa

    Classificação dos Jogadores:

    Oblak (9) – Tudo o que havia para fazer, ficou feito. Com segurança e determinação. E não precisa de mais do que 21 anos de vida e outros tantos de treino e experiência para provar que tem pela frente uma brilhante carreira.

    Garay (7) – Não se pode exigir perfeição a nenhum ser humano, mas quando se é realmente perfeito exige-se que tal dom se mantenha, propague e exalte dia após dia ou, neste caso, jogo após jogo. Ora, se Garay é perfeito…para quê uma ou outra entrada fora de tempo e plena de agressividade? Quaresma tem razão de queixa.

    Luisão (7) – Em dia de homenagem ao Rei, o rei da defesa encarnada puxou da coroa, ocupou o habitual trono e, ainda que o turbo de Jackson tenha em alguns momentos metido medo, o brasileiro não se deixou ofuscar. Fácil.

    Maxi (8) – Portentoso. E pouco mais há a dizer. Tirando o facto de ter feito o jogo da época e de ter estado bem ao ponto de lembrar os anos em que (nos) deslumbrou. “El Cantiflas” ainda terá jogo em si?

    Siqueira (7) – Não sou apreciador do estilo, revejo nele inúmeras falhas que ocuparam o lado esquerdo da nossa defesa desde a saída de Coentrão, mas não posso deixar de tirar o chapéu a esta bem conseguida exibição. Forte fisicamente e com a capacidade para anular completamente Varela e não se deixar assustar pelas arrancadas do recém-chegado Quaresma.

    Matic (8) – Dá vontade de lhe comprar um estádio e uma bola e pagar bilhete só para ver o raio do homem jogar e deslumbrar sozinho. Só falhou no minuto 10 quando Helton ofereceu uma prendinha de Natal atrasada e o passe não lhe saiu bem. De resto? Não só mandou no meio-campo encarnado, como no azul. Vai deixar saudades…

    Enzo Pérez (6) – Consistente e presente. É uma luz que na Luz (e fora dela) não se apaga. Só que não tão brilhante como em outras alturas.

    Gaitán (7) – Desengata sempre e em qualquer situação. Faz lembrar aquele amigo que todos nós temos que é sempre capaz de meter o carro a pegar. Dá uma confiança tenebrosa ao ataque do Benfica e isso viu-se num lado esquerdo sempre muito criativo e maroto.

    Lima (5) – Continua à procura do seu espaço na equipa. Ninguém esquece as suas capacidades nem o que deu ao Benfica numa só época. Mas pede-se mais. E ele é capaz.

    Rodrigo (8) – Desbloqueou o jogo e quebrou o medo. Funcionou não como timoneiro – papel mais natural -, mas sim como farol. Aguentou o ataque com a classe de um jogador que já faz isto há muitos, muitos anos. Não é o caso. Mas parece.

    Jardel (-) – Registei uma intervenção poderosa, mas nada mais.

    Rúben Amorim (-) – Sem tempo para mostrar serviço.

    Melhor em Campo: Markovic (9) – Brilhou de forma curiosa, tal como as estrelas mais bonitas o fazem no céu: nem sempre de forma consistente e escondendo-se por uma ou outra vez. Mas ainda assim capazes de nos alegrar e embelezar a noite. Ou, neste preciso caso, o final de tarde. É um caso a ter em conta. Arrancada pela esquerda, arrancada pelo meio. Passe aqui, passe acolá. Luta pelo chão, luta pelo ar. Foi pau para toda a obra e, ainda que tenha caído a meio da segunda parte, merece o prémio de jogador do clássico. É para manter.

    Tiago Martins

    Futebol Clube do Porto

    O FC Porto continua a desiludir. Contra onze “Eusébios” em campo e mais uns quantos milhares na bancada, num Estádio da Luz apinhado para se despedir do Pantera Negra, os pupilos de Paulo Fonseca nunca fizeram o suficiente para merecer os três pontos e voltaram a revelar sérias fragilidades. Há uma série de críticas recorrentemente apontadas ao FC Porto ao longo desta época e que ganharam ainda mais consistência após o jogo de ontem: a apatia de vários jogadores em vários momentos, a falta de dinâmica colectiva, a incapacidade para trocar a bola no meio-campo adversário, a dificuldade em sair em transições rápidas e eficazes, a escassez de situações de golo verdadeiramente perigosas, a lentidão de processos e a inoperância dos extremos teimam em manifestar-se e impedem o FC Porto de se apresentar ao seu nível habitual.

    Durante toda a primeira parte, o Benfica foi mais forte do que o FC Porto. Ao contrário do que anteviu publicamente Paulo Fonseca, o Benfica apresentou-se com dois avançados de início mas acabou por não sentir a inferioridade numérica no miolo. Rodrigo colocou os anfitriões em vantagem logo no primeiro quarto de hora e a pressão alta e forte do Benfica impediu, quase sempre, o FC Porto de sair com segurança da sua primeira fase de construção. Não houve uma resposta efectiva e o meio-campo portista nunca conseguiu impor-se na partida. Lucho não foi capaz de fazer a diferença, Carlos Eduardo teve novamente dificuldades em assumir o jogo nas zonas mais nevrálgicas e Jackson foi muito pouco (e mal) servido. Os dois extremos, muito bem vigiados pelos médios ala do Benfica, foram extraordinariamente inconsequentes.

    Na segunda metade, que praticamente começou com o 2-0, a toada manteve-se. O Benfica, um pouco mais cauteloso, geriu a preciosa vantagem que tinha, nunca permitiu grandes veleidades aos nortenhos. O FC Porto tinha mais bola mas desprotegia demasiado a retaguarda, permitindo aos benfiquistas alguns contra-ataques perigosos. A entrada de Quaresma logo após o golo de Garay surtiu muito poucos efeitos e, ao contrário do que é comum na equipa dos dragões, já nem os próprios jogadores acreditariam que fosse possível inverter o rumo dos acontecimentos depois de Danilo ser (mal) expulso.

    Da mão de Mangala ao empurrão de Garay a Quaresma nas respectivas áreas, passando pelo empurrão de Jackson a Maxi, pela lei da vantagem que ficou por dar quando Jackson se isolava e pelas inúmeras faltas no meio-campo, serão vários os casos de arbitragem discutidos durante a semana, como é quase inevitável nos clássicos. Certo é que o árbitro acabou por não influenciar o resultado: o FC Porto perdeu e perdeu justamente. Após o empate sofrido em Alvalade (que só não deu em derrota por acaso), uma derrota na Luz. Ainda falta muito campeonato (metade, na verdade), mas a inconsistência da equipa não deixa antever um desfecho muito favorável para os azuis e brancos. Para já, segue atrás dos outros “grandes” na classificação. Ou melhora ou esta poderá vir a ser a pior época dos últimos anos…

    Paulo Fonseca continua a desiludir e já vai em 3.º lugar / Fonte: Lusa
    Paulo Fonseca continua a desiludir e já vai em 3.º lugar
    Fonte: Lusa

    Classificação dos Jogadores:

    Helton (6) – Inventou logo no início, dando uma bola ao adversário num mau alívio. Não teve qualquer hipótese no primeiro golo e saiu-se mal no segundo. De resto, correspondeu sempre que foi chamado a intervir.

    Danilo (5) – Teve algumas desconcentrações defensivas, como no primeiro golo do Benfica. Soltou-se muito pouco no ataque e, na única vez que foi à linha, caiu na área e acabou expulso por Artures Soares Dias. Longe do que já o vimos fazer nesta época.

    Alex Sandro (6) – Teve pela frente um super-Markovic, que lhe deu muito trabalho a defender e o fechou muito bem quando atacava. Procurou envolver-se no ataque mas ontem foi travado pela defesa benfiquista.

    Otamendi (6) – Voltou a assumir a titularidade, mas não esteve particularmente seguro, cometendo alguns erros que poderiam ter custado caro.

    Mangala (6) – Esteve ao seu nível ao longo de um jogo em que teve muito trabalho. Apesar do lance do segundo golo – em que foi superado por Garay – registou uma exibição positiva.

    Lucho (5) – Demasiado preso. A classe e o espírito de liderança continuam lá, mas a idade já pesa e tende a ser pouco lesto a executar. Ontem viu-se isso: pedia-se-lhe mais nervo e mais rotação. Acabou por sair, precisamente por isso.

    Carlos Eduardo (6) – Tal como contra o Sporting, teve dificuldade em aparecer no meio, onde é mais preponderante. Tentou pegar no jogo, mas só teve a oportunidade de desequilibrar nas bolas paradas, onde esteve particularmente desinspirado.

    Varela (6) – É um jogador dedicado e que nunca vira a cara à luta, mas mais uma vez foi incapaz de criar perigo. Não conseguiu ganhar um único duelo individual com um lateral adversário e isso diz tudo. Ainda assim, dos mais inconformados.

    Licá (5) – De facto, só joga porque não há outra solução. Depois da entrada fulgurante, logo no início da época, na Supertaça, nunca mais voltou a evidenciar qualidade suficiente para fazer parte das opções individuais. Muito empenho, pouco desempenho. Saiu aos 55.

    Jackson (6) – Desastrado na única real oportunidade de que dispôs, já no final da primeira parte. Batalhou muito com os centrais do Benfica, mas teve muito pouco espaço para se movimentar. A bola raramente lhe chegou em condições e, por conseguinte, esteve muito apagado.

    Quaresma (6) – Entrou logo a seguir ao 2-0 para substituir Licá, procurando desestabilizar a defesa encarnada, mas revelou-se aquilo que os portistas mais temiam: para já, não passa de um jogador talentoso muito longe da sua melhor forma. Ainda tem tempo para se encontrar, mas ainda não foi neste encontro que surtiu o efeito desejado pelo treinador.

    Josué (-) – Rendeu El Comandante aos 70 minutos, mas também veio acrescentar pouco ao jogo, até porque o FC Porto se viu em inferioridade numérica poucos minutos depois da sua entrada em campo.

    Melhor em Campo: FERNANDO (7) – Não consegue jogar mal. É dos poucos que tem uma postura irrepreensível em todos os jogos, independentemente das competições ou do adversário. Ao longo de toda partida, desdobrou-se a acudir os colegas, foi o líder do meio-campo a partir de trás mas esteve pouco participativo nas missões ofensivas. Apenas o menos mau num colectivo demasiado fraco.

    Francisco Manuel Reis

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