Estará a Federação com disfunção?

    a minha eternidade

    Nascido no Porto a 22 de Novembro de 1956, Fernando Mendes Soares Gomes foi recrutado pelos olheiros portistas numa prova de futebol de salão, quando tinha 14 anos. A sua frieza finalizadora saltou imediatamente aos olhos dos observadores; como tal, foi convidado a prestar provas nas camadas jovens do Futebol Clube do Porto, no campo da Constituição, onde foi treinado por António Feliciano, estrela do Belenenses na década de 40.

    Fez a sua primeira partida na 1ª Divisão com 17 anos, com a bênção do técnico Aimoré Moreira, numa partida frente à CUF do Barreiro, onde deixou, desde logo, a sua marca com um bis. Também neste patamar competitivo mais elevado começou a furar as redes adversárias, deixando logo a sua marca nos primeiros jogos. Veloz e inteligente na desmarcação, perfeccionista na ocupação de espaços e no jogo sem bola (arrastando marcações, abrindo espaço de penetração para os companheiros), possuidor de “fácil”, forte, colocado e oportuno pontapé, bem como de um jogo de cabeça voraz, Fernando Gomes foi o “homem-golo”, o “carrasco sem clemência” dos guardiões que se lhe opunham.

    A instabilidade no seio do clube azul e branco, em 1980, originou a sua transferência para o clube espanhol Sporting de Gijón. Apesar da sua estreia auspiciosa – contra o Oviedo, num torneio de Verão, onde festejou cinco golos de sua autoria -, a época ficou marcada por uma lesão contraída aquando do festejo do seu golo, diante do Atlético de Bilbau, ainda no arranque dessa época. A segunda temporada foi bem mais positiva: assinou 12 golos no Campeonato (melhor marcador da equipa) a que acrescentou mais 8 na Taça do Rei, competição onde brilhou, ajudando a sua equipa a chegar a uma histórica final (derrota por 2-1 frente ao todo-poderoso Real Madrid).

    De qualquer forma, o apelo da “casa-mãe” impeliu-o a regressar – aí apresentou, de novo, um rendimento altíssimo. Conquistou a sua primeira “Bota de Ouro” (melhor marcador europeu) em 1983, marcando por 36 vezes. Repetiu o feito dois anos mais tarde “acariciando” a baliza por 39 vezes. Sendo um dos elementos mais carismáticos e respeitados do plantel portuense, foi também figura notável na selecção portuguesa (48 jogos e 13 golos apontados). Tem um extraordinário currículo em provas internacionais: actuou na final da Taça das Taças em 1984 (derrota com a Juventus por 2-1) mas uma lesão impediu-o de participar na final de Viena em 1987 (onde o Porto venceu a sua primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus) e teve um papel muito relevante nas vitórias da Supertaça Europeia e Taça Intercontinental (onde fez golos e excelentes exibições). Em Agosto de 1989 transferiu-se para o Sporting, mantendo a sua veia goleadora intacta. Como epílogo importa relevar os 800 golos que marcou em competições oficiais, as duas “Botas de Ouro” e as seis “Bolas de Prata (1977, 1978, 1979, 1983, 1984 e 1985). O seu registo colectivo contempla cinco campeonatos (1978, 1979, 1985, 1986, 1988), três Taças de Portugal (1977, 1984, 1988), quatro Supertaças Cândido de Oliveira (1981, 1983, 1984 e 1986), uma Taça dos Campeões, uma Taça Intercontinental e uma Supertaça Europeia (todas em 1987).

    Considero, sem dúvida, Fernando Gomes como o melhor ponta-de-lança do futebol português. É, no entanto, relevante explicar que julgo Eusébio como o melhor avançado centro de sempre, embora não o inclua na categoria de ponta-de-lanca. O moçambicano era mais móvel, ao passo que Fernando Gomes habitava mais fixo na área. É interessante verificar que estes dois craques apenas estão separados por dois golos no histórico dos diversos campeonatos nacionais – Eusébio com 320, Gomes com 318.

    Nas últimas semanas, o universo portista condenou a Federação Portuguesa de Futebol pelo tratamento subalterno dado a “altas patentes” da sua história na gala do centenário do futebol em Portugal. Foi alvo de escárnio pelo clube portuense o esquecimento de Pinto da Costa e a pouca relevância dada a José Maria Pedroto. Incluo o “Bi Bota” neste rol de ostracizados (não premiados ou agraciados): uma trindade ilustríssima, mas, infelizmente, bacocamente desprezada. Fernando Gomes dizia que “marcar um golo é como ter um orgasmo”. Estará a FPF com alguma disfunção… “eréctil”? Perdoem-me a indagação fálica (devia tê-la esquecido também).

    Foto de capa: paixaopeloporto.blogspot.com

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    David Guimarães
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