Se os jogadores são peças importantes numa equipa, e fundamentais até para os seus resultados, também os treinadores têm um papel decisivo. São muitas vezes acusados no insucesso, idolatrados aquando das conquistas e dão a cara por um plantel que vai à luta pelos objectivos. Na história recente do FC Porto, há dois nomes que dificilmente serão esquecidos, dois nomes ligados a conquistas internas importantes e à história do clube na Europa: José Mourinho e André Vilas Boas.
Embora o tempo que tenham passado no Dragão seja distinto, é fácil percebermos a influência de ambos:
José Mourinho
55 anos;
Épocas ao serviço do FC Porto: 3 (na primeira apenas entrou a meio, em Janeiro de 2002);
Jogos realizados: 127;
Vitórias: 91;
Títulos: Liga dos Campeões, Taça UEFA, Taça de Portugal, Supertaça Cândido Oliveira e 2 Ligas Portuguesas.
André Villas-Boas
40 anos;
Épocas ao serviço do FC Porto: 1;
Jogos realizados: 58;
Vitórias: 49;
Títulos: Liga Europa, Taça de Portugal, Supertaça Cândido Oliveira e Liga Portuguesa.
Chamado ao FC Porto para substituir Octávio Machado no comando técnico da equipa, a meio da época 2001/2002, José Mourinho rumou de Leiria até à Invicta. Desse mês de Janeiro até final da temporada não conseguiu ir além do terceiro lugar, mas somou 11 vitórias, dois empates e duas derrotas. Ainda assim, o melhor estava reservado para os anos seguintes. José Mourinho afirmou com total certeza que o FC Porto iria ser campeão, em 2002/2003 e não falhou. Aliás, a equipa foi catapultada para um dos melhores e mais vitoriosos períodos da sua história.
Sob as ordens daquele que viria a ser considerado como o melhor treinador do mundo, os azuis e brancos disputaram 34 jogos no campeonato, somando 27 vitórias e registando cinco empates e duas derrotas. No final, conquistaram o título e, a nível interno, fizeram a dobradinha, erguendo também o troféu da Taça de Portugal. A temporada foi, ainda assim, coroada com o regresso aos títulos europeus. O FC Porto voltou ao topo da Europa pelas mãos de José Mourinho ao vencer a edição 2002/2003 da Taça UEFA. Em Sevilha, frente ao Celtic FC, os dragões venceram por 3-2 e puseram fim a uma época de sonho.
Ainda assim, José Mourinho não deixou o clube e propôs-se a novos desafios. No ano seguinte começou por vencer a Supertaça Cândido de Oliveira e lançou a equipa para o bicampeonato, com 25 vitórias, sete empates e duas derrotas em 34 jogos. Um dos períodos mais icónicos para o clube havia de terminar logo depois, com uma nova conquista europeia. Contra as expectativas, o FC Porto encarou a Liga dos Campeões como um objectivo e ganhou. Na mítica final de Gelsenkirchen, venceu o AS Mónaco por 3-0, com golos de Carlos Alberto, Deco e Alenichev. José Mourinho deixou então o clube e rumou ao Chelsea, onde continuou a fazer história.
Já André Villas-Boas teve uma passagem mais curta pelo Dragão. Chegou à Invicta em 2010/2011 para ocupar aquela que dizia ser “a sua cadeira de sonho”. Nunca escondeu a ligação que tinha com o clube, facto que colocou os adeptos do seu lado e confiantes nos bons resultados. E é certo que Villas-Boas não desiludiu. Pelo menos não até ao final do ano. Sob o seu comando, o FC Porto teve uma época de um incrível sucesso interno: zero derrotas em 30 partidas disputadas e apenas três empates, com 73 golos marcados e apenas 16 sofridos, levaram a equipa a levantar o troféu de campeão nacional.
Mas, para além do título, a temporada de Villas Boas ficou marcada por duas vitórias especiais para a equipa e adeptos. Primeiro, os 5-0 do FC Porto ao principal rival, o SL Benfica, no Dragão. Numa noite mágica e inesquecível para quem assistiu, os dragões golearam os encarnados e confirmaram a qualidade que vinham a demonstrar. A cereja no topo do bolo chegou em inícios de Abril. A cinco jornadas do final, os azuis e brancos tinham a possibilidade de se sagrarem, matematicamente, campeões nacionais, precisamente na jornada em que se deslocavam à Luz. Ao leme da equipa, André Villas Boas liderou o plantel para mais uma vitória, por 1-2, e para um dos festejos mais icónicos de sempre. O campeão, na Luz, foi saudado com o sistema de rega e sem energia, mas a festa já não podia ser parada.
A Supertaça ganha no arranque e a Taça de Portugal no fim, valeram a Villas Boas o pleno nas competições internas, mas ainda havia mais um título a juntar. O FC Porto voltava, menos de dez anos depois, aos grandes palcos europeus e, numa final 100% portuguesa frente ao SC Braga, conquistou a Liga Europa, com um golo solitário do mágico Falcão.
Ao contrário de Mourinho, André Villas-Boas não continuou no clube após a época de sonho a que o conduziu, seguindo precisamente os passos do já apelidado “Special One” e rumando a Inglaterra, também para o Chelsea. E para muitos adeptos ficou a mágoa de o ver partir tão cedo, sobretudo depois de ter afirmado ter chegado ao lugar que sempre sonhou.
Foto de Capa: Bola na Rede
Artigo revisto por: Jorge Neves