Pró-Maxi, Anti-Casillas

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    A silly season futebolística começou cedo em Portugal. Durante as primeiras semanas do defeso, a surpreendente mudança de Jorge Jesus da Luz para Alvalade centrou todas as atenções mediáticas na Segunda Circular. De facto, poucos imaginavam que o fim de um casamento perfeito entre Jorge Jesus e o Benfica – seis anos, três campeonatos, duas finais europeias, valorização permanente de activos e empatia com os adeptos – terminasse com um mero atravessar de estrada do treinador para a casa do arqui-rival. Pelo meio, Bruno de Carvalho, Marco Silva e a justa causa. Sobre o FC Porto, nada.

    Depois disso, deu-se o segundo grande terramoto no mercado nacional, já com o Dragão no epicentro: o anúncio da contratação de Giannelli Imbula ao Marselha por 20 milhões de euros – um valor recorde neste “cantinho à beira-mar plantado” – espalhou estupefação pelos valores envolvidos.

    A verdade é que, até ver, o francês é o único estrangeiro a reforçar o meio-campo portista, agora órfão de Casemiro e Óliver: com ele, chegaram Sérgio Oliveira (capitão da selecção vice-campeã europeia de sub-21, formado no clube), André André (antigo capitão do Vitória SC, internacional AA, formado no clube) e Danilo Pereira (antigo capitão do Marítimo, internacional AA), três dos melhores médios do último campeonato nacional, todos eles portugueses. Antes disso já a vinda de Alberto Bueno estava mais do que confirmada. Para já, estes são os reforços apresentados.

    Imbula é o reforço mais caro e mais sonante do FC Porto até ao momento. Fonte: Facebook>/i> do FC Porto
    Imbula é o reforço mais caro e mais sonante do FC Porto até ao momento.
    Fonte: Facebook do FC Porto

    Mas parece que há mais bombas a caminho. E novamente no Norte do país. Maxi Pereira está praticamente confirmado no FC Porto – o acordo final com o ex-sub-capitão do Benfica estará para breve e será o desfecho de uma novela que se arrasta desde o período pré-Copa América. Mas não é o único. Entre avanços e recuos, parece que o futuro de Iker Casillas passará efectivamente pelo Dragão. Segundo a mesma imprensa que o dava como “irrevogavelmente” de malas feitas rumo à Invicta, as negociações entre o portero e o Real sofreram ontem algumas complicações, mas hoje a Onda Cero volta a dar o negócio como certo. Tudo somado, ainda não há certezas sobre nada mas em princípio estes dois jogadores vestirão de azul e branco na época que se avizinha.

    O possível interesse do FC Porto em Didier Drogba, avançado anteontem pelo Jornal de Notícias e prontamente desmentido pelo empresário (e, porque não, a página de fãs que pede Ronaldinho Gaúcho no FC Porto), ajudou a alimentar o debate no seio da nação portista: vale a pena despender tantos milhões em dois ou três “trintões” consagrados – investimentos que a priori representarão pouco ou nenhum retorno financeiro e que implicam imediato retorno desportivo? Resposta simples, um cliché: depende, cada caso é um caso.

     

    IKER CASILLAS

    Não há margem para dúvidas: Iker Casillas é um dos melhores guarda-redes do século XXI. Disputou mais de 500 jogos pelo Real Madrid e mais de 160 jogos pela selecção espanhola, vários deles como capitão; no clube foi cinco vezes campeão espanhol, três vezes campeão europeu e uma vez campeão mundial, com La Roja conquistou dois Europeus e um Mundial. O seu currículo vale por si – é indiscutível que já entrou na história do futebol mundial.

    No entanto, nos últimos anos da sua carreira tem demonstrado estar já em declínio, apresentando uma falta de consistência que provavelmente nunca se lhe tinha conhecido desde que aos 18/19 anos se assumiu como titular no monstruoso Real Madrid e na poderosa selecção espanhola.

    No último ano de Mourinho e no primeiro ano de Ancelotti no Real Madrid, o espanhol deixou de ser indiscutível na baliza dos merengues. Diego Lopez roubou a titularidade ao “deus Iker”, gerando um burburinho tal no país vizinho que Lopez foi expatriado para o AC Milan. É verdade que este ano Casillas superou a concorrência interna do recém-chegado Keylor Navas e que tem merecido a confiança de Del Bosque até agora (mesmo depois de um Mundial desastroso de nuestros hermanos), mas não é menos verdade que Casillas está em fim de ciclo. E, para tornar a coisa mais dramática, é provável que David De Gea consiga, numa questão de meses, “roubar-lhe o lugar” na baliza do Real Madrid e da selecção espanhola.

    Dito isto, impõe-se uma pergunta: precisa o FC Porto um guarda-redes? E a resposta, para mim, é clara: não. Nesse sentido, sou levado a crer que pagar um ordenado principesco a Iker Casillas, fazendo dele o mais bem pago do plantel, para reforçar uma posição onde há excedentários e que é ocupada pelo maior símbolo de portismo no balneário do clube (é bom recordar que Helton vai, aos 37 anos, para a sua 11ª época consecutiva de azul e branco e renovou recentemente) dificilmente poderá ser tido um acto de gestão desportiva exemplar.

    Andrés Fernandez, Gudiño e Ricardo apresentaram ontem os equipamentos - só um deles deverá ficar  Fonte: Facebook do FC Porto
    Andrés Fernandez, Ricardo e Gudiño na apresentação dos equipamentos – só um deles deverá ficar
    Fonte: Facebook do FC Porto

    Por mais valor acrescentado que Casillas traga à marca FC Porto (é inequívoco que se trata de um trunfo de marketing muito relevante) e ao plantel do clube (contar com Casillas e Helton é sempre melhor do que ter Fabiano e Helton), a contratação de um guarda-redes está longe de dever ser considerada prioritária. Até porque não me parece que, quer dentro do campo quer no balneário, Helton dê menos garantias do que Casillas.

    Nem Casillas nem Helton entram no lote dos dez melhores guarda-redes do mundo da actualidade, mas ambos continuam a ser, já em fim de carreira, grandes guarda-redes. Mais do que isso, as grandes mais-valias que Casillas pode trazer ao FC Porto são experiência, maturidade e voz de comando – exactamente as mesmas que Helton, com uma vida “quase” tão longa no Dragão quanto a de Casillas no Santiago Bernabéu, tem de melhor para oferecer ao grupo de trabalho. Desportivamente, equivalem-se.

    Iker Casillas chega a “custo zero”, é certo, e o Real Madrid até parece disposto a suportar parte do seu salário. Mas é impossível ignorar um investimento cerca de 10 milhões de euros para ter no plantel um guarda-redes que não é necessário durante duas épocas – uma operação com contornos “galácticos” para a realidade portuguesa, feita numa lógica mais comercial do que desportiva. Reconhecendo que Casillas tem todas as condições para se vir a revelar um jogador importante no FC Porto e que trará outra visibilidade mediática ao clube e à Liga Portuguesa, continuo a achar que Helton merecia mais crédito, mais confiança e mais respeito. Concordo com Secretário: «não é Casillas que vai fazer do FC Porto campeão». Casillas é um luxo, um capricho. Não uma necessidade.

    Vinte e cinco anos depois, Casillas deverá dizer adeus ao Santiago Bérnabeu. Fonte: Pierre-Philippe Marcou / AFP
    Vinte e cinco anos depois, Casillas deverá dizer adeus ao Santiago Bérnabeu.
    Fonte: Pierre-Philippe Marcou / AFP

     

    MAXI PEREIRA

    Se na baliza do FC Porto há quantidade e qualidade de sobra, na posição de lateral direito havia um grande vazio por preencher – Danilo, que custou mais de 30 milhões de euros ao Real Madrid e foi apresentado ontem por Florentino Pérez, foi dono e senhor do lugar durante três épocas a fio e saiu com o estatuto de um dos líderes de balneário aos 23 anos.

    Sendo que nenhum dos jogadores dos quadros do FC Porto tinha condições para assumir a titularidade no imediato – Ricardo tem sido testado na posição, mas nota-se ainda (e sempre?) que esse não é o seu habitat natural; Opare não conta para o totobola e deve permanecer na Turquia; e David Bruno e Victor Garcia, que começaram esta pré-temporada, são evidentemente cartas fora do baralho -, era imperativo atacar o mercado no sentido de encontrar um atleta que entrasse desde logo no onze inicial e que trouxesse a experiência e a força mental que Danilo emprestou à equipa na temporada transacta.

    Ora, Maxi encaixa que nem uma luva nesse perfil. O uruguaio, internacional pelo seu país por mais de 100 vezes, jogou mais de 200 jogos ao serviço do Benfica ao longo de oito longas épocas e chega ao FC Porto como bi-campeão nacional. É um futebolista com uma vastíssima experiência, que conhece profundamente o futebol português e que está mais do que adaptado à exigência de jogar num grande clube europeu. Além disso, julgo que a sua tremenda capacidade de luta, o seu espírito guerreiro e a sua permanente dedicação ao jogo e à equipa convencerão os adeptos mais cépticos de que, apesar de ter jogado toda uma vida no Benfica, Maxi é “um jogador à Porto”.

    À partida, o risco de esta contratação ser um flop é muito diminuta – trata-se de uma solução fiável, segura e imediata. Fala-se de um contrato de quatro anos e de um salário de quatro milhões brutos por ano, mas não é de descurar a possibilidade de o FC Porto ainda vir a receber algum retorno numa eventual venda de Maxi dentro de dois anos. Nessa altura terá 33 primaveras, mas não será estranho vê-lo suficientemente capaz de brilhar numa qualquer equipa das Américas, das Arábias ou até da China. Em suma, trata-se uma contratação cirúrgica e sensata, que vem colmatar uma lacuna no plantel e que tem o plus de enfraquecer um dos competidores directos pelo título.

    Maxi sabe bem o que é equipar de azul  Fonte: lebuteur.com
    Maxi sabe bem o que é equipar de azul
    Fonte: lebuteur.com

    Apesar de tudo, o plantel continua ainda demasiado indefinido e há ainda demasiadas questões por resolver em todos os sectores do terreno. No Dragão vive-se um novo PREC – período de remodelação em curso.

    Na baliza, há gente a mais (Andrés Fernandez está definitivamente de saída e o Granada afigura-se como o destino mais provável). Na defesa, é cada vez mais urgente esclarecer a situação de Alex Sandro (renova com promessa de sair para o ano ou é já vendido?), é fundamental acautelar a provável saída de Reyes e não esquecer que tem de haver uma alternativa a Maxi. No meio-campo, há nomes a mais e continua a registar-se uma carência de criativos (chegaram quatro médios, mas Óliver continua sem substituto; admira-me como ainda não surgiram interessados em Herrera; Quintero deve ser emprestado).

    No ataque, a provável saída de Quaresma pode ser facilmente compensada com o regresso de Varela ao clube e com a anunciada contratação de Rafa, mas a grande incógnita continua a ser a questão de saber se é nos ombros de Aboubakar que vai recair o peso da herança de Jackson Martínez. Eu diria que o FC Porto precisa de um avançado que assuma essa responsabilidade e que dê espaço ao camaronês para crescer. Por isso cheguei a declarar-me, não há muitas horas, um pró-Drogba convicto. Esse chegaria para ocupar um lugar vazio, tal como Maxi, e não para se sentar no trono do rei, como Casillas.

     

    Foto de Capa: Reuters

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    Francisco Manuel Reis
    Francisco Manuel Reishttp://www.bolanarede.pt
    Apaixonado pela escrita, o Francisco é um verdadeiro viciado em desporto. O seu passatempo favorito é ver e discutir futebol e adora vestir a pele de treinador de bancada.                                                                                                                                                 O Francisco não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.