Carta Aberta a Jorge Jesus

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    Caro Mister,

    Imagino que por estes dias esteja a fazer contas à vida, o que significa, mais ou menos, estar a fazer contas ao nosso plantel. Como não tenho a certeza de que irá ler esta carta até ao fim, quero pedir-lhe já isto: não estamos em era de milagres, mas não deixe sair o puto Gelson. E se os outros também não saírem melhor ainda. Depois trate do outro lado do problema. Deixe sair quem tem de sair, sem remorsos caso a culpa da escolha tenha sido só sua. É este o meu conselho, o que significa, também, um apelo à lógica.

    Já confessei algumas vezes a inveja que sinto dos meus patriotas clubísticos que se lembram de ter festejado um campeonato. Acho que eu, enquanto adepto, preciso tanto de vencer um Campeonato como precisa o nosso Clube. E como o prazo vai encurtando, está em si essa responsabilidade. Deixe-me que lhe diga o seguinte: quando se confirmou a sua vinda para Alvalade pareceu-me surgir uma certa ressurreição na alma verde e branca. Foi como se começássemos de novo e já ninguém tinha dúvida de que esse ano é que era. Se nem você percebeu bem como é que aquilo aconteceu, imagine o resto dos Sportinguistas. Para além daquele futebol desenhado só há uma coisa a reter daquele tempo, e acho que o Míster concordará comigo. É que afinal é mesmo possível ser Campeão, e isto é quase filosófico. Pense comigo. Não ganhámos, é um facto, mas embora isto pareça contra-producente, a verdade é que aquela sua primeira época serviu-nos de elucidação.

    Jorge Jesus é o timoneiro que vai tentar acabar com o jejum do Sporting Fonte: Forum SCP
    Jorge Jesus é o timoneiro que vai tentar acabar com o jejum do Sporting
    Fonte: Forum SCP

    De nada valeria este elogio se não repararmos no que sucedeu na segunda época. Foi mau, Míster. Acho que, outra vez, nem você percebeu bem como é que aquilo aconteceu. Nem eu, nem nenhum Sportinguista. Há quem diga que foi algo transcendente à ciência futebolística, porque a base do Plantel era a mesma e porque até vieram para a equipa craques que souberam atenuar a saída de outros craques. Mas quem jogou no Bernabéu como nós jogámos deve querer mais, e, acima de tudo, apelar às revitalizações da memória. Há ainda outra coisa, Míster, que já disse no passado e que quero voltar a dizer. Mesmo quando você treinava o rival, eu era daqueles que o admirava. Continuo a acreditar que há muito poucos a conseguir perceber o que o jogo pede como você consegue, mudar a rota da equipa de um momento para o outro, por exemplo. Depois a forma de moldar o jogador à sua capacidade e não o contrário, dizer ao atleta que, afinal, ele só será de topo caso jogue naquela posição e não nesta, e caso jogue desta forma e não daquela. É por isto, Míster, que quando se confirmou a sua vinda para Alvalade, nós sabíamos que não podíamos ter melhor.

    Por ser difícil gerir a angústia há quem sugira a sua saída, como se fosse inadmissível, quase imperdoável, não termos sido campeões nos últimos dois anos, como se fosse sua a culpa de estarmos quase a bater o grande recorde de jejum. É claro que ganhar muito é dar de bandeja trunfos ao argumentário de quem já não o quer no Sporting, mas também eles se esquecem daquilo que fomos pagando a quem nunca soubemos bem só, e apenas isso, para irmos festejar ao Jamor de vez em quando. Por fim, e o Míster deve sabê-lo, há por aí quem entre em regozijo por nós dizermos que para o ano é que é. Mas a verdade é que a grandeza do nosso clube, do meu e do seu, não deixará que se adie por muito mais tempo aquilo que inevitavelmente irá acontecer. E quando acontecer só faz sentido ser consigo, Míster.

    Foto de Capa: Sporting Clube de Portugal

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    Ricardo Gonçalves
    Ricardo Gonçalves
    Como uma célebre música diria, "eu tenho dois amores", com o desporto e a comunicação a ocuparem 50/50 do seu coração. Entusiasta confesso daquilo que é a alegria do futebol, promete transmitir-vos através de palavras as emoções que se sentem durante os 90 minutos (e além disso). Escreve sem acordo ortográfico