De volta ao lugar a que pertencemos

    O Sexto Violino
    Estamos em primeiro. 8 anos, 10 meses e 23 dias depois, os Sportinguistas voltam a desfrutar da sensação de ocupar o lugar mais alto da Liga, com todos os adversários a olharem de baixo para cima para nos verem. E que revigorante é esta sensação! Por tudo aquilo que passaram, por todos os desgostos que viveram, por todas as decisões disputadas por rivais a que tiveram de assistir no sofá, os adeptos do Sporting já mereciam a alegria de ser líderes.

    Foram 3249 dias de impaciência, exasperação e, por vezes, descrença total. A última vez que tínhamos ocupado o lugar mais alto do pódio de forma isolada tinha sido em Janeiro de 2005, que é mais tempo do que qualquer Sportinguista gostaria de admitir. Nessa altura o país dava o último suspiro antes de mergulhar definitivamente na crise, George W. Bush tinha lamentavelmente sido reconduzido a um novo mandato enquanto Presidente dos EUA e preparava-se para tomar posse, Yasser Arafat tinha deixado a liderança da Palestina pouco tempo antes e José Sócrates estava prestes a tornar-se Primeiro-Ministro de Portugal. O Twitter não existia, o Facebook era pouco mais do que um projecto limitado de um geek universitário e os jovens interagiam virtualmente através do MSN ou do Hi5. Desportivamente, estávamos ainda na ressaca do Euro 2004, a memória das vitórias do Porto de Mourinho na Europa continuava muito presente, os Sportinguistas Francis Obikwelu e Rui Silva tinham, para não variar, salvo a honra de Portugal nos Jogos Olímpicos com uma medalha de prata e outra de bronze e o Sporting de José Peseiro estava a poucos meses de concluir em pesadelo uma época em que encheu os adeptos de sonhos.

    A onda verde e branca qu se tem gerado nas últimas semanas inundou Barcelos no último Domingo
    A onda verde e branca que se tem gerado nas últimas semanas inundou Barcelos no último Domingo

    Desde então muita coisa mudou – e, a julgar pelo estado actual do país, não necessariamente para melhor. Mas o Sporting só agora voltou a ser líder isolado. Nenhum Sportinguista que se preze ignora que muito do nosso insucesso se ficou a dever a direcções incompetentes e aos constantes “erros humanos” de uma arbitragem corrupta que acabava sempre por beneficiar os mesmos (neste ano de 2005 ocorreu o famoso golo de Luisão, sobre o qual ainda hoje se discute se é ou não precedido de falta. No entanto, caiu no esquecimento colectivo o facto de Paulo Baptista ter anulado um golo limpo a Hugo Viana num jogo contra o Braga que terminou 0-0 e que, provavelmente, seria suficiente para nos dar o título… Pode haver quem ache desajustado estar a falar disto tanto tempo depois, mas é bom que não deixemos que a História seja apagada nem recordemos apenas aquilo que dá jeito ao Benfica e ao Porto).

    O golo mal anulado em 2004/2005, no último ano em que o Sporting foi líder isolado. Hugo Viana é o sportinguista mais adiantado, mas muito longe de estar fora-de-jogo / Fonte: SCP Memória
    O golo mal anulado em 2004/2005, no último ano em que o Sporting foi líder isolado. Hugo Viana é o sportinguista mais adiantado, mas muito longe de estar fora-de-jogo / Fonte: SCP Memória

    Voltámos portanto ao lugar mais ambicionado, ao lugar que é nosso por direito desde que, no longínquo ano de 1907, conquistámos o primeiro troféu da nossa História ao Sport Clube Estefânia. Na manhã seguinte ao jogo de Barcelos, a primeira pessoa que vi na rua foi um rapaz que envergava orgulhosamente um casaco do Sporting, facto que me deixou com um largo sorriso na cara. Ontem, ao passar a pé pelo Colombo a caminho da faculdade, olhei para o chão e vi um bilhete de futebol rasgado, referente ao jogo da véspera entre Benfica e PSG, que ditou a eliminação encarnada. Sei que não devemos ficar felizes com o mal dos outros, especialmente porque continuo com a convicção de que esta nossa boa fase muito dificilmente se estenderá até Maio, mas registo com prazer que, pelo menos por uns tempos, as energias positivas parecem ter mudado de lado.

    Concluindo, desejo apenas que não voltemos a atingir outra vez o topo só daqui a 9 anos. O Sporting tem de se habituar a ganhar, sem medos e sem complexos. É certo que ainda é cedo para festejos, e bem sabemos como é sempre cedo para reservas do Marquês. Há ainda muitas jornadas por disputar e muitos campos difíceis para visitar. Mas quem disser que, ao cabo de 12 jornadas, a liderança do Sporting não é justa, ou não tem visto os jogos ou tem claras dificuldades em analisar o futebol de forma correcta. Estamos em primeiro!

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