Os actores já são conhecidos da mais recente polémica do futebol português. A sensação que fica é que a controvérsia chega com largo período de atraso. Falta apenas saber o modus operandis de todo este esquema que envolve não só as arbitragens mas muito mais. Aos poucos, é com relativa facilidade que o puzzle é montado e as peças se encaixam com perfeição.
Retornamos à década de 80. Luís Filipe Vieira tem um negócio de pneus, o negócio é tão bem-sucedido que o apelidam de “Kadhafi dos pneus”. Mas os pneus geravam pouco lucro para quem ambicionava mais. Cedo percebeu que as progressões social e económica nunca passariam por práticas comuns e idóneas. Mais tarde passou a gerir uma empresa de construção civil e imobiliária. Uma das empresas geridas foi a CIMOVENDA, que entrou em insolvência através uma acção movida pela CITAC por incapacidade total de pagar as dívidas aos seus credores. Outra das empresas que teve o mesmo destino sob a administração de LFV foi a EDIVERCA, entre outras que faliram sob sua gestão.
Avancemos até 1991. É neste ano que Luís Filipe Vieira é eleito presidente do Futebol Clube Alverca. O empresário começa, então, a montar um esquema bem delineado para um clube que nunca tinha atingido o primeiro escalão do nosso futebol. Mas antes de o Alverca conseguir atingir esse feito, LFV foi preso em Julho de 1993 por roubar um camião. Conta a história que o Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, condenou-o a vinte meses de prisão, sendo sentenciado juntamente com mais cinco arguidos. A sorte surgiu quando as duas leis da amnistia, uma de 1986 e outra de 1991, lhes valeram o perdão das penas de prisão aplicadas por aquele tribunal. O juiz-presidente, Afonso Ferreira, destaca o facto de LFV ter sido o único que não se declarou arrependido pelo crime cometido. Esta história, “digna da sétima arte”, poderá ser analisada na íntegra na publicação de “O Independente”, de 2001.
O Alverca cresce a olhos vistos e, em Fevereiro de 2000, LFV é reeleito para o biénio. Nesta altura, o Alverca abunda na primeira liga portuguesa e o seu presidente começa a ser questionado pela forma como geria as transferências do clube, nomeadamente os negócios com o FC Porto. Foram prometidos centros de estágio e melhores infraestruturas para a continuidade do seu mandato, até que, em 27 de Maio de 2001, o então presidente do Alverca despede-se para ingressar num novo projecto a convite do presidente do Benfica, Manuel Vilarinho.
“Estou de partida porque há outros projectos que me motivaram. Mas a nossa instituição irá continuar com o projecto Alverca, geração do futuro. A estrutura vai mudar, com a minha saída e a do professor Jesualdo, mas o pensamento continuará o mesmo”. Sabendo deste projecto, LFV comete a primeira fraude dois meses antes de o aceitar. Vende Pedro Mantorras ao desbarato para o Benfica, sem confirmar os valores envolvidos, ficando o Alverca com cerca de metade do valor de uma futura transferência.
Foto de Capa: SL Benfica