O herdeiro português de Cruyff

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    Há menos de cinco anos, o Sporting estava diferente. Tão diferente que tinha ao leme um treinador que chegou a dizer, num dos últimos dias do mercado, que precisava “de um pinheiro para o ataque, para que lhe possamos acertar com a bola na cabeça e ela vá para dentro da baliza”. Esse treinador era Paulo Sérgio. Não costuma ser grande sinal quando um treinador profere semelhante frase, e este caso não foi excepção: o Sporting ficou em 3º lugar, mais perto do último – a 26 pontos – do que do primeiro – a 36. Pior do que isso, jogava um futebol feio, básico, deficiente. Eis uma prova cabal de como o desporto-rei não é para todos e de como os resultados não caem do céu, por muitos “pinheiros” que se coloquem em campo.

    Felizmente os tempos mudaram e, meia década volvida, o Sporting tem à frente já não Paulo Sérgio mas sim Jorge Jesus. Ao contrário do primeiro, Jesus não fala em pinheiros nem em atirar a bola contra a cabeça de ninguém, e tem em Johan Cruyff uma das suas maiores referências. De tal modo que chegou a fazer um estágio com o treinador holandês. Em 2013, após a final da Liga Europa com o Chelsea, afirmou estar “orgulhoso” porque uma grande inspiração minha, Cruyff, me disse que o Benfica mostrou que é uma grande equipa, com um futebol de que ele gosta”. Não é de estranhar, por isso, que o futebol das equipas de Jorge Jesus tenha bebido vários ensinamentos do mestre Cruyff, agora desaparecido. Com efeito, na hora de comentar a morte do holandês, Jesus não deixou de dizer que foi “um pouco influenciado por essa ideia de que ganhar é importante mas não chega”.

    Já era tempo de o Sporting poder contar com um treinador que conhece o desporto-rei como ninguém e sabe quem foi importante para o desenvolvimento desta modalidade. De seguida, apresentam-se algumas máximas de Cruyff, redescobertas pela na imprensa agora que o eterno nº14 nos deixou, e tentam encontrar-se alguns pontos de contacto entre o ex-treinador do Barcelona e o actual treinador do Sporting.

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    “Dream Team” do Barcelona (1988-1994), treinado por Johan Cruyff

    – Frase nº 1 – “Só há uma bola, por isso tens de tê-la”: Jesus, tal como Cruyff, pugna por uma posse de bola activa, criadora de muitas opções de passe e reflexo da ideia de que não são os jogadores mas sim o esférico que deve circular. Tudo isso origina um futebol elegante e apoiado que, juntamente com a exploração do espaço entre linhas, facilita tanto a sair de zonas de pressão como a encontrar caminhos para chegar à área contrária. A noção de que o centro de jogo varia com frequência, estendendo-se a toda a largura do campo no momento do ataque e nunca perdendo de vista que a equipa deve progredir no terreno e criar desequilíbrios, também é bem mais fácil de identificar na televisão do que de colocar em prática com êxito – daí o mérito do treinador. O que nos leva à segunda frase:

    – Frase nº 2 – “Jogar futebol é simples, mas jogar futebol simples é o mais difícil que há”: O futebol de Jesus é simples e com princípios bem nítidos. Não há analista ou adepto que não saiba enumerar grande parte deles. O grande desafio, porém, é passá-los do papel para o relvado. Por isso é que o actual técnico do Sporting gosta de frisar que o modelo que utiliza é fruto de décadas de trabalho, como que a lembrar-nos de que nada é deixado ao acaso. Numa partida recente, Jesus ficou possesso porque um jogador (creio que Rúben Semedo, mas sem certezas) insistiu em voltar a passar a bola para a esquerda, de onde ela viera, em vez de fazer variar o jogo para a direita e, assim, obrigar o adversário a reagir e a desmontar-se.

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    Recuperação, saída de bola, transição e golo no Benfica de JJ frente à Académica (2014)

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    João V. Sousa
    João V. Sousahttp://www.bolanarede.pt
    O João Sousa anseia pelo dia em que os sportinguistas materializem o orgulho que têm no ecletismo do clube numa afluência massiva às modalidades. Porque, segundo ele, elas são uma parte importantíssima da identidade do clube. Deseja ardentemente a construção de um pavilhão e defende a aposta nos futebolistas da casa, enquadrados por 2 ou 3 jogadores de nível internacional que permitam lutar por títulos. Bate-se por um Sporting sério, organizado e vencedor.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.