O que sobra entre Porcos, Polvos e Gnomos

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    O Futebol em Portugal mudou radicalmente nas últimas décadas. E engane-se o leitor se pensa que digo que o mesmo piorou nesse período: não piorou, apenas se tornou mais cínico, criando um universo de máscaras e de alianças escondidas, onde a imagem que se passa torna-se, e tornou-se, tão ou mais eficaz que a imagem real.

    Até aos anos 2000, infelizmente, são vários os casos que demonstram que o futebol português era por si só um jogo de lamas movediças: do Calabote ao Apito Dourado, é inegável que a corrupção e o jogo fora das quatro linhas era o caminho claro que muitas entidades escolhiam para alcançar os seus objetivos. Há décadas que os meios sempre justificaram os fins. Mas o novo milénio, as novas tecnologias, as redes sociais e a evolução do futebol (e das entidades que o rodeiam) levaram toda essa sujidade para um nível de descaramento, de desfaçatez e insolência ao nível dos melhores políticos. E num país onde a corrupção e abuso de poder são considerados quase banais, “desde que também se tenha feito boas coisas”, imagine-se a benevolência que estes “agentes” encontram no futebol.

    "Triunfo dos Porcos" foi das obras mais aclamadas de George Orwell, publicado em 1945 Fonte: Facebook de Fãs de George Orwell
    “Triunfo dos Porcos” foi das obras mais aclamadas de George Orwell, publicado em 1945
    Fonte: Facebook de Fãs de George Orwell

    Uma das últimas armas encontradas pelo monopólio desportivo dos três grandes foram os diretores de comunicação. E o que poderia ser um departamento útil em diversos setores, não só para o futebol mas para os clubes em si, tornou-se rapidamente – quase numa lógica de “Maria vai com as outras” – num mero arremesso de coação, insultos, pressão e polémica, que se incendeia jornada após jornada. A cada grande penalidade, a cada fora-de-jogo, a cada expulsão, tudo é motivo para mandar “posts de pescada” (entenda-se o trocadilho aqui), para haver a ilusão de missão cumprida numa mensagem que pouco ou nenhum efeito tem. Para que fique claro ao leitor: há muita coisa no futebol português que deve e tem de ser divulgada, em prol da transparência da mesma. Mas entre polvos, gnomos e comunicados completamente inócuos, essa mensagem perde-se por completo. Ganham os cafés, que nunca tiveram tantos motivos de discussão para se passar a tarde em conversa da bola. Mas a bola, infelizmente, cada vez mais se vai tornando o agente menos importante do jogo.

    A alegada cartilha de comunicação do Benfica foi mais uma das recentes polémicas do futebol português no presente ano Fonte: O Artista do Dia
    A alegada cartilha de comunicação do Benfica foi mais uma das recentes polémicas do futebol português no presente ano
    Fonte: O Artista do Dia

    Os mísseis do Bruno Fernandes perdem relevo a cada post efervescente do Nuno Saraiva. Os dribles do Brahimi escapam-se a cada ementa de polvo divulgada por Francisco J. Marques. E a magia de Jonas torna-se banal a cada figura ridícula que o (imenso e espalhado) departamento de comunicação encarnado tenta mostrar a sua “força”. Mas quem se importa com isto, de verdade? Os clubes não são de certeza. E os adeptos, nós, mais tarde ou mais cedo, seremos todos levados por este mar de hostilidade, onde a inocência do festejo e do futebol se irá evaporar num clima de ignorância e polémica gratuita.

    Para terminar, é difícil terminar com uma frase atraente, e aprimorar a estética deste texto que só fala da sujidade do nosso pequeno mundo da bola. Merece acabar assim. Seco e sem sabor. Ressequido. Cansativo. Como o nosso futebol se vai tornando.

    Foto de Capa: Facebook da BTV

    Artigo revisto por: Francisca Carvalho

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    Fernando Costa
    Fernando Costahttp://www.bolanarede.pt
    Natural de Braga, e atualmente a trabalhar no Jornal de Notícias, Fernando Costa vai tentando encontrar o seu lugar no jornalismo e no mundo. Apaixonado pelo desporto e por tudo aquilo que o envolve, é na escrita que Fernando encontrou o seu habitat para o explorar. E, ao mesmo tempo, compreendê-lo.                                                                                                                                                 O Fernando escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.